A Sombra no Sol CCEntrevista

Estante Nacional #6: Eric Novello

19.6.18Taiany Araujo


Até então só havíamos entrevistado mulheres para o Estante Nacional, mas hoje teremos a ilustre presença do Eric Novello que super topou participar dessa empreitada com a gente e prometeu que daqui a 10 anos volta para outra entrevista. Está registrado, vamos cobrar q

Às vezes quando vemos as pessoas pela internet nos perguntamos se na "vida real" elas são realmente aquilo, e em muitos dos casos não são mesmo. No entanto, antes de conhecer o Eric pela internet tive o privilégio de participar de um bate papo com ele e posso confirmar, ele é tão interessante quanto aparenta.

Além de escritor, Novello é tradutor e roteirista com formação no Instituto Brasileiro de Audiovisual. Mas como quem vai para a área de humanas tem que se virar nos 30, Eric já trabalhou em bancadas de laboratório, indústrias de alimentos e balcões de drogaria. Felizmente essa fase ficou para trás e hoje ele pode se entregar de vez à criação de histórias e ao twitter, onde fala sobre de livros, música, filmes, séries e bonequinhos.

Acredito que um dos diferenciais dos livros do Eric Novello é o fato dele apresentar questões contemporâneas sem tentar fugir da realidade, ou seja, seus livros são bem atuais, ao mesmo tempo que são singulares. Somos mergulhados em um mar de elementos de ficção fantástica que se conectam com o factual. Mas vou deixar o próprio Eric falar sobre suas histórias que isso é bem mais interessante. 

Como e quando você começou a escrever?

Comecei escrevendo, bem novo, HQs baseadas nos meus desenhos favoritos. Mais tarde, passei a escrever histórias inspiradas nas minhas HQs favoritas. Quando sites e blogs passaram a existir como plataforma de criação, foi a vez de escrever contos (muito ruins) que se passavam em um mesmo universo. Até que entendi que queria mesmo ser autor, criar histórias que outras pessoas leriam, e me perguntei: será que eu consigo? E assim sentei para escrever meu primeiro romance.


Quais os livros que você já escreveu? Comente um pouco sobre eles com a gente.

De trás para frente. Publiquei em 2017 o “Ninguém Nasce Herói”, um Young Adult distópico que acompanha um grupo de amigos que precisa entender o seu papel em um Brasil que deu muito errado (cof, cof) e se tornou uma ditadura fundamentalista religiosa. Não é tanto sobre “ei, vamos pegar nosso arco, vencer um labirinto e derrubar o governo”, e mais sobre as diferentes formas cotidianas de resistência, a importância de se reforçar laços de amor e amizade quando o mundo se derrama em ódio, respeitar e apoiar a diversidade nos nossos círculos de convívio. É um livro em que a diversidade LGBT+, de cor de pele, de religião, é tratada como algo que nos engrandece e não o contrário.

Em 2014 saiu o “Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues”, uma fantasia que se passa numa versão de São Paulo chamada Libertà, onde a magia e pessoas sobrenaturais existem de verdade. O protagonista é o Tiago Boanerges, um exorcista que precisa investigar um caso em que uma musa deixou de inspirar as pessoas e passou a, como dizer, manipular um pouco além da conta suas ideias e opiniões. Para quem gosta de gatos de fumaça, magos, necromantes e lobisomens, é uma viagem sinestésica e musical bem delirante e sexy.

Em 2010 e 2012 saiu a dobradinha “Neon Azul” e “A Sombra no Sol”. O primeiro é um romance fix-up que conta histórias de clientes e funcionários do bar que dá nome ao livro. Ele é bem adultão nos dilemas de solidão, preços que estamos dispostos a pagar pelo que queremos e rasteiras que damos uns nos outros para conseguir isso. Tem um gerente que não dorme nunca, um boneco assustador numa garrafa, personagens que escapam do papel, um piano que evoca fantasmas e coisas do tipo. Já o segundo acompanha o Armando, o gerente insone do bar, indo atrás de um garoto de programa que acabou de voltar dos mortos para tentar contratá-lo para trabalhar no Neon Azul.


Você possui alguma rotina pra escrever?

Atualmente não possuo rotina para nada, essa é a resposta mais sincera que posso dar. Nem para escrever, nem para fazer exercício, nem para comer. Acho que só para dormir tenho um horário. Mas eu tento escrever meus livros todo dia das 7:30 às 11:30 da manhã, variando de acordo com os compromissos. Quando a carga de trabalho está menor, fica mais fácil cumprir a rotina. Quando estou com muita tradução para fazer, aí já era produtividade de autor.


Quando você resolveu publicar um livro seu? Quais foram as dificuldades que encontrou? 

Quando sentei para escrever meu primeiro livro, não coloquei nenhuma outra pressão sobre os meus ombros. Isso foi importante para não pirar. Então, assim que terminei o romance, comecei a correr atrás de editora. Era uma época em que o autor ainda mandava seu original pelo correio (prejuízo!), e que as pessoas te olhavam meio torto se você fosse novo demais e escrevesse algo não realista. Ou seja, foi uma época bem decepcionante. Mas em 2008, quando voltei a escrever e terminei o “Neon Azul”, tive a sorte de ser convidado a publicar em 2010. E o sucesso do livro gerou um convite de uma editora maior para a publicação do “Exorcismos”, que também conquistou um bom público e me levou a conversar com a Editora Seguinte, que publicou o “Ninguém Nasce Herói”. Dito isso, acho que a minha maior dificuldade foi gerenciar a ansiedade que a espera pelas respostas gera em nós.


Como você definiria seus livros para quem nunca leu?

Minha proposta como autor é simples: trazer quem e o que é deixado à margem da sociedade para o palco principal. Faço isso com o gênero literário, daí investir em textos que têm um pé na fantasia o outro na realidade. Faço com o ambiente retratado, daí o ambiente boêmio decadente do “Neon Azul”. E faço isso principalmente com os personagens, por isso o protagonista bissexual de “Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues” e o grupinho diverso do “Ninguém Nasce Herói”. Afinal, são as minorias que mais sentem na pele os altos e baixos do nosso país. 


Como foi o processo de definir a sua identidade no meio literário? 

Complexa essa pergunta! Será que eu já tenho uma? Acho que ainda sou um autor em formação. Não sei se as pessoas me veem de um mesmo jeito, ou se eu me vejo de um mesmo jeito todos os dias. Você pode me perguntar isso de novo daqui a 10 anos? 😊


Dentre suas histórias, qual sua favorita? Porquê?

Ouvi ano passado de um amigo leitor a seguinte frase: “Quando eu li ‘Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues’ eu senti que estava entrando na sua cabeça. Quando li o ‘Ninguém Nasce Herói’, parecia que você tinha entrado na minha”. Essa frase, que fala muito da importância da representatividade, me marcou muito. De verdade. E acho que ela explica o motivo de o “Ninguém Nasce Herói” ser minha história favorita, no momento.


Quais suas inspirações?

Pessoas que pesam o mundo para o lado certo da balança me inspiram. Criadores que se comprometem com um projeto criativo, que contam a sua verdade sem ceder a pressões e tendências. Neil Gaiman (Sandman, Deuses Americanos) e Guillermo Del Toro (Labirinto do Fauno, A Forma da Água), Justin Simien (Dear White People) e Brian K. Vaughan (Saga) são bons exemplos. O Tom Hiddleston sem camisa também!


Um autor nacional que você acha que todos deveriam ler?

Vixe, teria tanta gente! Vou fechar em autores com romances de literatura fantástica Young Adult para a lista não ficar imensa: Barbara Morais, com “A Trilogia Anômalos”, Felipe Castilho com a série “O Legado Folclórico”, Karen Alves com “Inverso e Reverso” e Jim Anotsu com “Rani e o Sino da Divisão”.


Qual a maior dificuldade do mercado editorial brasileiro?

Aumentar de maneira mais constante sua base de leitores. As políticas de investimento em educação e formação de leitores no Brasil são muito precárias, infelizmente. Sinto que damos um passo para cima e passamos um ano parados no lugar, sempre com medo de rolar a escada de novo até o primeiro degrau.


Qual a importância de uma agente literário para quem quer publicar seus livros por editora?

Agente literário é a pessoa que entende do mercado literário como o autor acha que entende. Como a Tassi cuida de toda a parte burocrática, contratos, conversas com as editoras, eu posso me concentrar no que é mais importante para mim: criar histórias. Sem falar que agentes são ótimos ouvidos em casos de crise existencial criativa!


Uma lembrança querida da carreira?

São muitas! Lançamentos e eventos onde posso conversar com os leitores, mesmo que por cinco minutinhos, são sempre os melhores momentos. 


Quais seus projetos para o futuro?

Hã... falando em agente literário, será que a Tassi me deixa comentar? 😊 Acho que o que dá para dizer por enquanto é que estou trabalhando em um novo Young Adult, que ele se passa nos dias atuais e terá uma boa dose de fantasia.  


***

Casos vocês não saibam, já resenhamos dois livros do Eric aqui no site, então cliquem nesses links a seguir e confiram o que achamos sobre as histórias.

Você pode encontrar biografias, capas dos livros, sinopse dos livros, ilustrações, tudo do Eric aqui: 
http://ericnovello.com.br/


Encontrando o Eric Novello nas redes sociais:

Facebook: eric.novello
Twitter: @eric_novello
Instagram: @eric_novello
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2 comentários

  1. ADOREI! Acho que essa foi minha entrevista favorita da coluna. Já tive a oportunidade de ler o Exorcismos e achei mesmo bem legal.

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    1. Aaaaaaaaaaaaaaaa

      Difícil expressar como isso me deixa feliz. Saber que essa coluna e lida me dá cosquinhas no coração.

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