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Saúde mental: quando conhecimento pode atrapalhar mais do que ajudar?

22.2.18Isabelle Fernandes


Não faz muito tempo que os transtornos psicológicos eram um território desconhecido pra maioria das pessoas, dominado apenas pelos "doutores" da área. Ninguém sabia que crianças (e adultos!!) podiam ter TDAH, que aquela pessoa ranzinza do trabalho poderia ser distímica ou que aqueles dias de angústia em que você mal conseguia respirar e dormir uma noite inteira eram sintomas de ansiedade. Era tudo muito desconhecido, misterioso e por consequência, tabu.

Então nos últimos anos tem acontecido o contrário: as pessoas tem se apropriado desse conhecimento. Tem se falado mais sobre o fato de que o cérebro é mais um órgão no nosso corpo e como qualquer outro, muitas vezes pode não funcionar muito bem, o que demanda tratamento pra recuperar o funcionamento ideal ou manter ele num estado mais próximo possível disso. Transtornos psicológicos estão agora nos livros, nas notícias e rodando toda internet, o que é ÓTIMO, porque cada vez mais pessoas tem acendido seu sinalzinho de alerta.

Só que ultimamente eu tô começando a achar que tem informação nadando por aí até demais.

A cientista do primeiro Jurassic Park dando meia volta com uma cara de "meu deus o QUÊ"
Imagino que essa seja a sua cara aí agora HAHAHAHA
A princípio essa ideia parece doida, afinal, o problema anterior era justamente a FALTA de informação sobre saúde mental, né. A questão é que qualquer problema nessa área é geralmente um excesso ou uma falta de algo absolutamente NORMAL e presente em qualquer ser humano, o que significa que o diagnóstico é algo difícil e que leva tempo. E QUE PRECISA SER FEITO POR UM PROFISSIONAL. Não dá pra você ler a lista de sintomas que a bíblia da psiquiatria relaciona a determinados transtornos, ir dando check nas que se aplicam a você e pensar "IH PRONTO, TENHO TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL". Inclusive lembro das primeiras aulas de psicopatologia na faculdade em que passamos a usar essa tal bíblia, o famigerado DSM. Basicamente todo mundo tava se identificando com uma ou mais coisas de cada sessão naquele troço, uma vibe bem "somos todos 'loucos' aqui", berro.

Com isso já dá pra ter uma noção do problema que tá rolando agora. Se você jogar no google "sintomas da depressão", vai achar uma penca de posts e threads sobre isso, incluindo os critérios diagnósticos utilizados na clínica. Ou seja, acontece com a galera a mesma coisa que acontece com o estudante que abre o DSM, mas com um agravante: a gente tá ali aprendendo que não é bem assim, o restante do público não. Pra piorar, as pessoas agora tem acesso ao "diagnóstico", mas o tratamento ainda não tá tão acessível quanto deveria, o que significa tudo o que a pessoa tem é um rótulo.

Carinha de óculos falando em inglês "agora eu estou depressivo"

E gente, sério. Quem dera se diagnosticar as pessoas na clínica fosse simples assim HAHAHA. Dificilmente um profissional vai fechar diagnóstico de primeira, só se baseando numa lista de sintomas (ou pelo menos os bons profissionais, né). Se avalia o histórico de vida da pessoa, suas crenças sobre si mesma e o mundo, suas experiências, seu momento de vida atual e uma série de outros fatores que possam mexer com a saúde mental, enfim. E é claro que nada disso é levado em conta num aplicativo da play store, né? (sim, existe um app com um inventário de sintomas pra depressão....).

Sinceramente, sou da opinião de que ter um diagnóstico sem nada sendo feito a respeito dele mais prejudicial do que não ter nem ideia do que se possa ter. Você acaba se concentrando demais nele ("sou ansioso, "sou depressiva", "sou bipolar") ou tendo uma tendência a ver como algo invasor, tipo um vírus ou uma bactéria causando uma infecção, dando uma suposta carta branca pra agir do jeito que quiser por conta do transtorno. Então galera, é válido sim procurar por informações se você achar que tem algo indo mal com você ou alguém próximo, mas use o que encontrar só como um POSSÍVEL SINAL, um incentivo pra procurar ajuda.


>>> Só psicólogos e/ou psiquiatras são capazes de avaliar a sua saúde mental de forma adequada <<<


Ps: assim como a quantidade de informações tem se espalhado, a psicologia também tem ficado cada vez mais acessível e o primeiro lugar a se procurar é nas faculdades. Qualquer faculdade que tenha o curso disponibiliza atendimento social ou gratuito pra população. Além disso, muitos planos de saúde agora oferecem psicoterapia e psiquiatras, assim como as clínicas da família aqui no RJ. Usem o google pra isso também, moçada!!

Adam Levine em algum episódio do The Voice lindo de morrer dando uma piscadinha


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2 comentários

  1. Olá, boa tarde.

    A quantidade de informação e de pessoas que se autodeclaravam com algum transtorno começou a aparecer por todo lado. Lembro que vivia vendo post exaltando por ser algo legal.

    Nunca fui a um psicólogo ou psiquiatra, mas as coisas estão ultrapassando limites, no sentido tenso da coisa.

    Não sabia que havia atendimento social ou gratuito nas faculdades. Vou procurar saber se isso teria por aqui onde moro. Obrigada.

    Abraços.

    <3 R.W.

    https://www.newsfallenbooks.com/

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  2. Um dia minha vi na internet sobre TDAH na vida adulta, me identifiquei muito e comecei a pesquisar cada vez mais. Minha irmã me deu mais algumas dicas do tipo de médico eu deveria procurar, então ano passado eu comecei a frequentar um psiquiatra e a Ritalina que ele me indicou está me ajudando muito atualmente.
    Depois disso eu comecei a procurar grupos e páginas sobre TDAH no Facebook e fiquei impressionada na quantidade de pessoas que se dizem ter por se identificarem com posts super simples de coisas que qualquer pessoa pode ter, cheguei a conversar com uma dessas pessoas e descobri que ela nem mesmo pesquisou mais a fundo sobre o assunto.
    Assim como sobre TDAH, já muita gente compartilhando sobre Bipolaridade, mas nesse caso eles usam o transtorno como desculpa para falta de caráter, e muita vezes acham que isso é super legal pq virou moda dizer que tem algum transtorno sem fazer qualquer tipo de tratamento com acompanhamento médico.

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