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O Sol é para Todos, a morte da liberdade e eu meio que odeio clássicos

9.8.15Dana Martins


A não-resenha na qual eu tento falar sobre um livro que eu li há 2 anos, me dou conta do que a história queria dizer e descubro como falar de livro antigo sem morrer de tédio. Ok, já estou com tédio. Então adianto que vai rolar Jogos Vorazes, As Vantagens de Ser Invisível, personagem com nome não-binário e outras coisas. 

Aqui no CC a gente no final de ano faz um Balanço de Leituras especial com os melhores livros do ano pra equipe. O Diego percebeu que O Sol é Para Todos é o livro que mais aparece ano após ano entre nós. É, o livro é bom assim. Ou não. Pera, vamos conversar propriamente.

O Sol é para Todos é considerado um clássico. O que significa que 1- Foi escrito antes da gente nascer. 2- Eu não tinha a menor vontade de ler. 3- Mas achava que deveria ler mesmo assim porque mal ou bem os clássicos ajudam a moldar a literatura hoje em dia. E eu sempre tive a curiosidade de ver se esses livros eram tudo isso que tavam falando mesmo.




Mas daí querer ler pra realmente ler é um longo caminho cheio de nós. Mesmo que de todos os clássicos, eu tinha um interesse extra em O Sol é Para Todos (que eu conhecia com o título em inglês: To Kill a Mockingbird), porque é um dos preferidos da Suzanne Collins, a autora de Jogos Vorazes. Mockingbird é um pássaro, o mesmo pássaro que se mistura com o geneticamente modificado jabberjay, criando o mockingjay - pássaro que dá o apelido da Katniss nos filmes e, em inglês, é nome do terceiro livro da trilogia, que foi traduzido como A Esperança. Curiosidades à parte, meu lado fã de Jogos Vorazes queria muito saber se tinha alguma relação entre os livros.

Sabe, essa é a coisa sobre os clássicos, eles podem parecer tediosos e distantes da nossa realidade, mas são os livros que os nossos autores preferidos de hoje em dia leram. Eles são a origem das nossas histórias preferidas. E eu, muita interessada em viagem no tempo, sempre quis ver como as pessoas do passado enxergado o mundo. Acaba que livros são a forma mais rápida de viajar no tempo.

E é por isso que eu fui ler o livro!



Não.

Eu sou muito emocional com as minhas leituras, quero só ler o que dá vontade louca no momento. E quando eu tive vontade louca de ler um livro antigo: nunca. 

Mentira, quando eu vi a capa de Neuromancer da Aleph eu fiquei com muita vontade, mas não sabia que o livro era antigo. De qualquer forma...

Aí que um dia Paulo desce do além, coloca a mão na minha testa e diz: Dana, você vai ler esse livro. Ok, não foi exatamente assim. Ele teve a ideia de fazer um projeto literário baseado nos livros que o personagem Charlie lê em As Vantagens de Ser Invisível. 12 livros, 12 meses no ano, 12 clássicos que eu nunca leria. Era algo bom demais para ignorar. E, como muitas vezes na história do site, eu acabei fazendo o que não pretendia em nome do CC.

Assim nasceu o Charlie's Booklist. 



O Sol é para Todos é o primeiro livro que Charlie lê. De cara já foi uma loucura. Primeiro que muita gente não sabia que a autora, Harper Lee, é uma mulher. Quando 90% dos clássicos são escritos por homens, é fácil de confundir um nome como Harper. Depois nós descobrimos que ela ainda está viva, então o livro era desse séculos. Para ser mais exata: 1960. Isso é praticamente um livro recente. E eu imaginava que um livro clássico escrito por uma mulher na década dos hippies deveria ser mais do que apenas um livro.

E era: era uma história meio chata.

Quer dizer, a linguagem é muito recente. Se dão na minha mão sem falar nada eu nem ia suspeitar que não foi escrito hoje em dia. É narrado por Scout, uma garota com esse apelido não-binário que até me confundiu o gênero da protagonista.  E eu sinto isso não foi à toa, porque é um livro pensado para o gênero não importar. Se não isso, ele critica quem se importa com gênero. Mas vamos devagar.

A história é narrada por Scout, uma criança que mora com o irmão mais velho e pai viúvo em uma cidadezinha de interior no sul dos Estados Unidos durante a década de 30. (dica de história: lugar racista, é dos estados confederados que têm dado confusão recentemente por causa da bandeira, aqui um texto em inglês sobre isso) Aí o pai da Scout, o Atticus, é tipo um Demolidor não super-herói de lá, no sentido de que ele é um advogado que recebe mal porque quer ajudar as pessoas sem dinheiro e, naquele lugar, significa defender pessoas negras em um contexto que nem a lei as trata como pessoas. 

Mulher tirando a bandeira da confederação. O passado não está tão longe quanto parece. 

O livro acompanha a rotina de Scout, do irmão e de um amigo. Crianças brincando, indo pra escola, disputas. Curiosamente, coisas que eu reconheci na minha própria infância, tipo aquela casa estranha no fim da rua que todo mundo tem medo de chegar perto. Mas no começo essa parte era meio entediada porque parecia não ter razão nenhuma.

Só que conforme vemos a rotina das crianças, também acompanhamos como elas começam a compreender o mundo ao seu redor. Sabe essa casa estranha no fim da rua? É onde os Radley moram. E é uma enorme história sobre o poder destrutivo dos preconceitos. Não vou dar spoilers.

Mas também temos Scout aprendendo como algumas pessoas são discriminadas pela cor, ainda mais quando o pai pega um caso polêmico. E as próprias desventuras por ser uma pessoa cabeça quente criada por um pai solteiro com total liberdade, mas aí encontrando com outras partes da família que esperam que ela seja uma donzela como é esperado do estereótipo de gênero feminino, ainda mais naquela época.

Minha edição antiga era igual a essa do Radioactiveunicorns


Caramba. O título do livro é To Kill A Mockingbird ("a matar um passarinho" numa tentativa de traduzir literalmente) e a história é exatamente isso: uma pessoa descobrindo como a cultura pode ser destrutiva para as pessoas que não seguem os padrões esperados. E em português é O Sol é para Todos, porque todo mundo merece viver livre sob o sol. Wow. É uma história sobre a morte da liberdade? Talvez por isso seja tão importante mostrar as crianças livres no início. 

Esse livro tem a alma do CC. Harper Lee em 1960 estava mostrando o que nós falamos aqui hoje. Continua sendo relevante. 

Esse livro talvez faça para a década de 30 no sul dos Estados Unidos, o que Americanah e Alif, o Invisível fazem. São pequenas chances de vivermos outra vida. Que é terrivelmente parecida com a nossa. Mas ao mesmo tempo nos ensina sobre o que é ser outra pessoa.



E agora a editora José Olympio relançou o livro com uma capa nova em uma edição linda (tu não tem ideia da dificuldade de achar esse livro, o Charlie's Booklist acabou com o estoque de antigos do Estante Virtual). É uma nova chance de ler.



Título: O Sol é para todos
Autora: Harper Lee
Editora: José Olympio
Páginas: 350
Ano: 2015
No Skoob
Para comprar: Saraiva - Americanas - Amazon

***




Obrigado à editora José Olympio por tornarem o livro disponível no mercado de novo <3 (E, claro, cederem um exemplar pra gente). 



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7 comentários

  1. Eu li um livro em que a personagem escrevia cartas para um personagem fictício e eu tenho quase certeza que o escolhido dela era um tal de Sr. Atticus e que ele era um advogado com filhos... *puxando pela memória*

    De todo jeito, eu também reviro os olhos quando se fala em CLÁSSICOS ou esses livros que fazem muito sucesso, tipo Jogos Vorazes (que nunca li). Eu sou meio RBD e, se elogiam demais, indicam demais, veneram demais, eu perco a vontade total de conhecer. E se me obrigam a conhecer, já odeio. Pois é.

    Mas também tem aqueles que eu li porque senti vontade, sem indicarem, e são favoritos, tipo 1984. <3

    E eu tava pensando aqui, tem outra coisa que me faz ficar ¬¬' é quando pagam pau pra livros em outros livros. Ex: O Morro dos Ventos Uivantes. Tem tudo que eu gostaria numa história, mas babaram tanto ovo nele em Crepúsculo ("O LIVRO PREFERIDO DA BELLA", argh) e num outro livro que eu li (Kyland?), que meu pensamento quando vejo falando dele é MINHA NOSSA SENHORA DOS LIVROS SUPERESTIMADOS JÁ VAI COMEÇAR DE NOVO?????. Nem suporto ouvir falar.

    Olha, ainda não assisti/nem li As Vantagens de Ser Invisível, mas quero muito e já curti pacas essa lista de leitura do Charlie. Tou dentro! (Ainda vale? Estou muito atrasada?)

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    1. Andrea pq eu sempre sei dos livros que vo fala? Hahhahahahahahahahaha
      Esse livro das cartas é o Claros sinais de loucura, e ele é muiiiiiito lindo.
      Eu tenho uma relação de amor e ódio com clássicos, mas O sol é para todos era um que queria ler faz tempo, ter lido o Claros sinais de loucura só ressaltou isso, e vem uma carta junto q essa edição, eu ameiiii a carta, tava batendo palmas para ela. Só que comecei a ver séries e o livro ficou de lado, mas quero le-lo até o fim do ano. Espero hahahahhaha
      Sobre os livros que fazem muito sucesso, sou um pouco parecida com vc, eu fico cansada de ver tanta gente falando que viro a cara. O morro dos ventos uivantes era um dos meus livros favoritos, mas teve tanto mimimi em Crepúsculo por ele ser o livro favorito da Bella que fiquei tempos sem olhar para a minha edição ( que procurei em outros estados, eu queria a que tinha lido qdo era nova, mas que só vendia em sabos pq a editora falei, falei anos para achar, mas achei :D)
      Tb não li Jogos Vorazes, tentei, mas não fluiu, em compensação, amo os filmes.
      As vantagens de ser invisível é um todos livros mais fofos e incríveis que li, baixei todas as músicas citadas no livro, e adoro-as. Quando aos livros citados, eu não li todos, mas ao longo da minha história como leitora ( que tem uns 10 anos, sempre gostei de ler, mas não era um hábito até eu perceber que na verdade eu tava procurando as leituras nos lugarea errados para mim) eu já li alguns, acho que ele cita O apanhador no campo de centeio, que é um dos meus livros favoritos. Se ele não é citado Nas vantagem de ser invisível, é citado no Lado bom da vida( meu segundo livro favorito). Eu tenho um top 3: Orgulho e preconceito, O lado bom da vida e O mundo de sofia.
      E Dana, adorei. Parabéns

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    2. Desconsiderem os erros, dedos gordos, corretor e teclado de celular não combinam.

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    3. HAHAHA mas Taiany! Um dia eu vou falar, "é aquele livro gente, da capa co--" e a Taiany vai gritar lá do fundo "É O LIVRO TAL EU CONHEÇO". XD
      Mas é exatamente esse livro. Eu fiquei em dúvidas e achei melhor não comentar. Achei ele um pouco triste, viu. E a minha edição é a digital, não veio carta (?). :(

      O Apanhador tá na lista do Charlie, sim. Eu até comentei lá no post que li esse livro há muitos anos e gostaria de reler porque achei chato na época, mas depois de um vídeo-resenha, me questionei se eu realmente entendi as sublinhas da história.

      O Lado Bom da Vida, não passo nem perto por causa da atriz. Gente, tenho birrinhas com ela e deve ser por isso também que eu nem tchum pra Jogos Vorazes.

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    4. eu normalmente com leitura (E tudo que eu assisto/escuto) é tipo: DEU VONTADE AGORA. VAMBORA. por acaso, eu li um monte de coisas que ficam famosas depois? tipo jogos vorazes. ou john green. até crepúsculo HAUHAUHAUHAUH então quando chega o ponto do sucesso eu nem costumo ter esse problema. acontece mais com livros antigos que eram famosos antes da minha existência.
      e eu to num ponto que prefiro que a pessoa nem leia quando já fica puta achando que é ruim antes de ler. ;x

      de qualquer forma, por sorte (e graças ao charlie's booklist) conseugi ler esse e é só <3 <3 <3

      Sobre o projeto: é uma lista, basta pegar e ir lendo tudo. Ainda não terminei até hoje HUAHUAH

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  2. "O sol é para todos" foi a melhor coisa que li nos últimos tempos. Também não sou lá muito chegada a clássicos, mas esse livro tem uma linguagem tão gostosa e a Scout é tão adorável, que devorei ele em poucos dias. Também conheci o livro através de "As vantagens de ser invisível" que é magnífico e disponibiliza uma lista fantástica de livros que merecem ser lidos. Até agora só li "O apanhador no campo de centeio", "O grande Gatsby" e "O sol é para todos" que são todos bons, mas pretendo ler os outros com certeza!!!

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    1. o apanhador no campo de centeio eu ainda não consegui ler!!! eu li uns 5 ou 6 da lista. o sol é para todos é meu preferido. achei muito interessante este lado do paraíso. foi meio massante, mas ao mesmo tempo foi meio que viajar em um outro mundo, outra época, que é estranhamente parecida com a nossa.

      e o sol é para todos tem isso: eu fiquei muita surpresa com o quão comum a escrita é. sempre tive esse preconceito de que eles falam num linguagem alienígena, mas: não.

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