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Nova série da MTV Faking It está mudando a representação queer na TV

24.6.14Dana Martins


A comédia-dramática adolescente – sobre duas garotas que fingem ser lésbicas – foi de início alvo de críticas, mas a série aproveita a confusão da adolescência para abordar amplamente as camadas da sexualidade.

Oi, galera! Hoje trazemos a tradução de um texto sobre o que Faking It significa para a representatividade LGBT+. Não é só uma análise legal, como foi indicada e traduzida pelo lindo do Igor, como uma colaboração ao nosso mês LGBT+ (nunca é tarde, né?). 

Houve um tempo em que sair do armário significou se identificar com um rótulo claro, mas em 2014, isso não é lá muito importante. Graças aos esforços de celebridades pioneiras como Frank Ocean, Tom Daley e Maria Bello, entre outros, nós caminhamos para um conceito de ser queer* que tem menos a ver com a identidade sexual que alguém diz ter e mais sobre por quem ele ou ela se apaixona. Ainda assim, quando se trata de televisão, as linhas são mais rígidas. Sexualidade é uma questão do tipo sim ou não, com pouco espaço para um talvez. A bissexualidade, que já um assunto controverso no mundo real, sequer é considerada.
Como consequência dos grandes passos que a TV ainda tem a dar quando se trata de representação gay, as séries tendem a super compensar isso. Uma vez que Willow Rosenberg trocou o Oz por Tara em Buffy, a Caça-Vampiros, ela era decididamente lésbica, com pouca lembrança de sua passada atração por homens. Para ser claro, não há nada errado com personagens de repente percebendo que estiveram nutrindo exclusivamente atração por pessoas do mesmo sexo, mas também não há nada de errado com personagens que se encontram em algum lugar do meio do caminho. A preocupação é que ao compartimentalizar a sexualidade, caiamos numa perspectiva démodé de que ser queer é uma “fase experimental”. E tem mais, a representação de uma sexualidade fluida e inconstante é tão válida quanto algo mais claramente definido. Essas linhas definidas são, na verdade, exatamente o que hoje parece antiquado.

Superficialmente, a série da MTV Faking It – com sua trama central em duas garotas do ensino médio fingindo um relacionamento – pode soar como uma relíquia de outro tempo. Mas a série é decididamente contemporânea. De fato, Amy (Rita Volk) e Karma (Katie Stevens) encontraram a popularidade em seu novo status de mascotes lésbicas de Hester’s High. No entanto, o objetivo delas não é a erotização de duas garotas se beijando como em uma comédia adolescente dos anos 90. Historicamente falando, as chamadas girl-on-girl action*, são largamente direcionadas ao público masculino. Mais direto ao ponto, a falsa relação entre Karma e Amy é mais complicada do que elas estão dispostas a admitir: os sentimentos amorosos de Amy por sua melhor amiga são na verdade sinceros. Os sentimentos de Karma, por outro lado, continuam confusos.
*tradutor: basicamente, duas garotas se pegando.

O que distingue Faking It da maioria das séries centradas em LGBT é a liberdade com que define a sexualidade de seus personagens. Nesse ponto, não está claro se Amy é gay ou bissexual – no momento, ela é apenas uma garota que tem uma queda por outra garota. Ela é “Karmassexual”. Por sua vez, Karma está geralmente distraída demais com o sarado Liam Booker (Gregg Skulkin) para falar sobre seus próprios e complicados sentimentos por Amy, mas há claramente tensão sexual real fermentando abaixo da superfície. Isso se mostra durante a tentativa falha de ménage à trois em “Three to Tango”, em que Karma responde a um beijo de Amy com um agradável e surpreso “whoa”.


Anos de dramas adolescentes na CW – e, antes disso, na Warner Bros – nos condicionaram a acreditar que o ensino médio e seus relacionamentos são profundos e reais, ignorando o fato de que a grande maioria dos adolescentes não faz a mínima ideia de porra nenhuma do que estão fazendo. A implicância original acerca de Faking It, centrada no fato de que duas adolescentes visivelmente héteros fingiriam ser um casal lésbico, parece infundada: é um exagero, sim, mas reflete com propriedade a tênue natureza dos relacionamentos escolares, e os aspectos da performance de tentar ser algo que você não é para sobreviver à adolescência. Faking It pode não ser a representação ideal das lésbicas em todos os lugares, mas é certamente uma análise certeira do colegial e dos altos e baixos do romance adolescente.

Para os espectadores LGBT, é tentador se agarrar às representações da sexualidade diversa e transformá-las em ícones gays e lésbicas. Mas a realidade é sempre mais complexa que isso. No futuro, Amy e Karma podem até se tornar um casal do mesmo sexo para gente adorar, – e esse parece ser o objetivo da série – mas nesse ponto, são apenas duas jovens mulheres que ainda estão se descobrindo. E apesar disso poder ser frustrante para quem assiste Faking It pelo relacionamento “Karmy”, isso é uma abordagem mais verdadeira da vida. Personagens lésbicas fortes e seguras de si são essenciais, assim como os questionamentos da juventude – e Faking It é uma das poucas séries dispostas a encará-los.

É de grande ajuda que Faking It conte com um elenco de personagens como Shane (Michael J. Willett), um garoto gay assumido e orgulhoso que não está lidando com bullying escolar ou um cansativo processo de aceitação. Ele tem um melhor amigo hétero gostoso, e não está nem a fim dele! Essas outras são narrativas válidas, sim, mas nós as vemos repetidamente. Como o Patrick de Looking, Shane é um raro retrato da normalidade gay na tv: não é chato, não é assexual – apenas confortável e bem resolvido. Enquanto tantas séries apresentam ser queer como um “problema” a ser lidado, a mera existência sem culpa de Shane permanece revolucionária.

Por Faking It ser apenas uma representação, está destinada a decepcionar aqueles que esquecem que uma série não pode representar tudo para todos. Ao misturar as linhas da identidade sexual e de categorização, no entanto, eles dão um passo à frente - sutil mas significante. Esse é um novo tipo de romance gay, algumas vezes estranho e pomposo porque é assim que os namoros de colegial são. Ainda precisamos de ícones LGBT para nos inspirar – e ícones mais diversos, aproveitando o assunto: personagens trans e personagens gays de cor (Palmas para a série da Netflix “Orange Is the New Black” por nos oferecer os dois). Mas não vamos desmerecer o trabalho de Faking It ao retratar o amplo e confuso espectro da sexualidade queer. 

Faking It vai ao ar todas as terças às 10:30 P.M. na MTV. [nos EUA, e a 1ª temporada já terminou]

Tradução do texto original MTV’s "Faking It" Is Changing The Nature of Queer Representation on TV, de Louis Peitzman, feita pelo Igor Lima.



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4 comentários

  1. "ser queer* que tem menos a ver com a identidade sexual que alguém diz ter e mais sobre por quem ele ou ela se apaixona"

    hmm, não. a galere aromantica é queer e, bom, a galere é aromantica. nem todo mundo se apaixona. o termo queer engloba pessoas que não se apaixonam, elas não são ~menos queer~ por isso.

    "um raro retrato da normalidade gay na tv: não é chato, não é assexuado" (só um toque sobre a tradução, pessoas são assexuais, não assexuadas)

    eu sei que o autor do texto é gay, mas ele podia ter se esforçado pra ser um aliado melhor pras outras pessoas da comunidade queer né, ele não foi muito bacana com a galere assexual, aromantica e da grey area. pra que botar chato e assexual ali quase como sinonimos?? sim sim o homem gay que não expressa a sua sexualidade em momento nenhum é um esteriotipo comum na ficção e na grande maioria das vezes é super problematico, mas pra que invalidar a identidade de homens gays assexuais, como se eles não fossem normais?? 0/10.

    não sei nada de faking it mas o resto do texto parece bacana??? e a tradução também q.

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    1. Priscilla <3 HUAUHA Concordo sobre ele não ter visto mais sobre a comunidade no geral, eu tinha percebido alguma outra coisa além disso quando li, mas já esqueci. E obrigada por avisar dos ~assexuados~, isso eu nem sabia

      -dana

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    2. To muito perdido e curioso. Gay assexuado? Grey área? Aromantica? São mais termos que química orgânica lol.
      E, obg.

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    3. é importante separar atração romântica de atração sexual. assexuais são pessoas que não sentem atração sexual e aromanticas são pessoas que não sentem atração romântica. acontece que nem toda pessoa assexual é aromantica e nem toda pessoa aromantica é assexual, então existem sim homens homoromanticos e assexuais. e homens aromanticos e homossexuais. e homens biromanticos heteroromanticos panromanticos etc etc que podem ser heterossexuais ou pansexuais ou bissexuais, porque não necessariamente ce vai se atrair (ou não) romanticamente e sexualmente pelas mesmas pessoas.

      e a grey area é chamada assim porque a gente pode pensar em sexualidade como a cor branca e em assexualidade na cor preta, e existem mais de 50 tons de cinza entre o branco e o preto. acontece que sexualidade humana é complexa e nem todo mundo ta no preto ou no branco, muita gente ta em algum tom de cinza. essas são as pessoas da grey area. é uma subclassificação da assexualidade.

      recomendo muito esse site aqui, que com certeza tem mais respostas do que eu http://assexualidade.org/

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