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Análise DAQUELA última cena de Faking It

17.6.14Dana Martins


Terça-feira E É DIA DE- Não, pera. A primeira temporada acabou, mas o vício não. Hoje já assisti G.B.F. - filme roteirizado pelo George Northy, que faz parte da equipe de escritores de Faking It, e protagonizado pelo Michael Willett O NOSSO SHANE!!! E agora...

Quando eu fiz a análise da finale de Faking It, eu também falei sobre a última cena, mas achei que ela merecia um post separado. Ela não é só uma cena que conclui de forma exemplar a primeira temporada da série, ela também levanta muitos questionamentos. Dos fãs que se irritaram, o maior problema é sobre o que essa cena significa para a representatividade LGBT+ da série e da televisão no geral. Faking It estava fingindo esse tempo todo?  

Espero que nenhum trombadinha venha ler esse post antes de assistir o último episódio da primeira temporada de Faking It, porque é spoiler e spoiler sério. Se quer análise legal da série sem spoiler, leia esse post.


Depois da Amy e do Liam aparecerem fazendo sexo, muita gente disse "Então é isso... no fim das contas a série é sobre duas garotas fazendo sexo com um cara hétero." Surgiram posts criticando a mania de na TV fazerem lésbicas provarem que são lésbicas transando com homens. Críticas pelo fato da homossexualidade feminina não ser levada tão a sério quanto a masculina, porque aparentemente nunca é algo tão definitivo quanto homem gay. Até chegar ao ponto de sexismo quando começaram os "isso é coisa de homem escrevendo sobre personagem lésbica!!!" e a bifobia, por motivos lógicos. 

Tá, no fim das contas não rolou karmy. Horrível, eu sei. Parte de mim queria que fosse as duas naquele sneak peek das costas (imagem abaixo), mesmo que parecesse meio estranho que aquelas costas fossem de uma delas. MAS ANTES DE TUDO, vamos deixar de ser egoístas e de usar os "direitos LGBT+" em nome dos próprios desejos. No mesmo fucking episódio teve o primeiro beijo gay masculino, do Shane com o Pablo, e ninguém deu a mínima. E a melhor parte é que foi um beijo tão inesperado e tão comum, que é uma das melhores representações LGBT+, porque é assim que é - como qualquer beijo hétero que é lindo e fofinho, porque você quer que eles fiquem juntos, mas sem parecer que estão conquistando um troféu de ousadia ou sei lá.



Então vamos pensar sobre a série em si. (e só pra deixar claro, a Amy não faz sexo com Liam pra provar ou deixar de provar a própria sexualidade)

Número 1: a Amy não é lésbica, não por enquanto, não definida.

No início eu também fiquei um pouco triste, porque em termos de representatividade gay feminina não foi nenhum grande passo. Mas a Amy nunca se identificou como lésbica. Foi o próprio Shane que disse que ela era uma (e ele mesmo mais de uma vez voltou atrás, depois que conheceu mais a Amy). A mãe chama ela de lésbica - porque ela não sabe de toda a farsa. O Liam chama elas de lésbicas (por causa da farsa) e nem para pra pensar que a Karma deve ser, no mínimo, bissexual. Mas se a gente for pensar de verdade o que o Liam tá dizendo - o fetiche dele não é com lésbicas puramente, é com garotas que ficam com garotas. Então a Karma pode ser o que for, contando que ela fique com garotas, o fetiche está ok. AI QUE COISA HORRÍVEL. Bem, isso não é legal mesmo. Esse fetiche de girl-on-girl action, como se a relação sexual entre mulheres fosse só um meio de satisfazer os homens. NÃO. Só que eu gosto que a história tenha um personagem assim, porque não é como se isso não existisse. Aliás, é um questionamento sério quando se trata da homossexualidade feminina. Eu ainda não refleti 100% sobre o assunto, seria legal se a série falasse mais disso e acho que é a intenção dos escritores. Ao menos, só do Liam existir já abre espaço para gente conversar sobre isso.

Número 2: o Liam é a única outra pessoa com quem ela teve algum tipo de envolvimento sexual positivo

No fim das contas, a Amy pegou mais gente que a Karma nessa série. De todo mundo, a única pessoa que ela teve algo a mais foi o Liam. Alguém lembra da metáfora da borboleta? Eu lembro que eu assisti o sneak peek dessa cena e falei pra minha amiga "olha o risco de lamy aí - isso mostra que ela não é totalmente gay e que se ela superar a Karma, há chances dela explorar mais a sexualidade." Ela já tinha até considerado fazer sexo com ele - pela Karma. Eu sei que não é muito justo, porque ela forçou a coisa com o Oliver e saiu atacando as garotas no bar, então é difícil esperar que ela conseguisse algo mais. Isso só não muda o fato de que no deserto das relações sexuais da Amy, o Liam é o segundo lugar do ranking para ter algum tipo de envolvimento

Número 3: ela não fez sexo porque ela planejou fazer sexo

Não é como se ela tivesse pensando muito no assunto. Ela estava bêbada, sofrendo e não fez nenhum plano detalhado para fazer sexo. Ela não estava nem pensando nisso! PRECISO FAZER SEXO, DEIXA EU VER QUEM EU POSSO CHAMAR DA MINHA LISTA TELEFÔNICA. (pelo que conhecemos dela, ninguém. A não ser que ela conhecesse alguém que faz sexo sem manter vínculos emocionais. Calma aí...) Ela poderia, é claro, ter ido para aquele barzinho e arranjado alguém pra noite, na primeira vez ela conseguiu. Mas eu nem vou considerar essa possibilidade, porque eu não acredito que ela tenha planejado. Não condiz com a Amy que nós conhecemos na temporada. E se isso acontecesse, seria mesmo um passo na definição dela como lésbica (OBS: CONSIDERANDO QUE ESSE ALGUÉM FOSSE UMA MULHER), mas também seria um ato muito mais autodestrutivo. 



Número 4: Não é só a Amy fazendo sexo com o Liam, é algo que faz parte de um contexto muito maior 

O fato em si sem contexto parece muito pior. Antes do episódio vazar, um fã tinha analisado a imagem do sneak peek mostrando que a cena das costas nuas com uma mão apertando (ou seja, alguém fazendo sexo) aconteciam no quarto da Amy. Minha primeira reação foi pensar KARMA, SUA FILHA DA PUTA, VOCÊ FOI FAZER ISSO NA CAMA DELA. Minha segunda reação foi: Teria alguma chance disso ser a Amy com a Karma? Só que nada disso foi satisfatório, até eu ficar sabendo que a Amy ia encher a cara nesse episódio. BOOM. VOCÊ VAI FAZER ISSO COM ELE, AMY? Na hora isso pareceu beeeem pior. Parecia que ela só queria ferrar a Karma ou sei lá. Mas a verdade é que conforme você assiste o episódio percebe que não é bem assim.

 
 

Você vê a Amy se declarando - e a Karma dizendo que tem feito sexo com o Liam. O pior que não é nem ela dizendo a verdade porque quer ser sincera com a Amy, ela usa isso pra se defender dos sentimentos da Amy. A outra surta e vai embora, é claro. É a Amy que abandona a Karma. Uma coisa que eu gosto nessa cena é que a gente vê a Amy (e eu junto) percebendo que as esperanças eram infundadas. Você se sente meio idiota por ter buscado sinais. Não que eles não estejam lá, é só que a Karma nunca tinha se dado o trabalho de considerar isso. Você vê que ela nem se surpreende muito - ela já sabia que tinha algo errado desde o beijo no threesome, mas não previu a profundidade da coisa. Então a Amy acaba de levar um fora, descobre que estava mantendo uma ilusão E QUE A MELHOR AMIGA ESTAVA MENTINDO SOBRE ALGO MUITO SÉRIO. Eu também teria saído. Então ela está sozinha, uma confusão de sentimentos, ela não consegue ficar perto nem de sua amiga (que, diga-se de passagem, não foi atrás dela), está decepcionada... e aí bebe.

Do outro lado o Liam acabou de saber que a sua linda namorada estava se fingindo de lésbica esse tempo todo para conseguir ficar popular, que a Amy gostava de verdade da amiga e que não sabia que ele estava ficando com a Karma e que a Karma mentiu na cara dele - naquela mesma noite que eles fizeram um juramento pra não mentir. (isso porque ele já estava meio chateado por ser largado para a Karma ficar com a outra 2 vezes naquela noite) e aí bebe.

Quando eles se encontram, não é algo planejado. Você vê que estão os dois ali acabados e se encontram. Acho que quando eles se veem, é tipo abrir a ferida outra vez? Passam a noite inteira bebendo pra esquecer, a bebida acaba, ainda não esqueceram E se encontram. O Liam é mestre em fugir dos sentimentos fazendo sexo, a Amy ainda se sente excluída pela Karma ter feito sexo sem contar. Os dois também se identificam - é a segunda vez que eles são deixados juntos pela Karma (dessa vez, eles deixaram a Karma). A própria Lauren mostra no episódio anterior que dá pra unir as pessoas que foram deixadas pelo mesmo cara. Essas coisas são só uma parte do que estava em jogo ali naquela cena, mas acho que o maior motivo é que eles encontraram uma forma válida de canalizar os sentimentos.

mas quebrar coisas e
se vingar com ovos 
é mais saudável do que isso, crianças

Em A Culpa é das Estrelas depois que o Isaac é abandonado, o Gus dá umas coisas pra ele quebrar pra ele externalizar o sentimento. É fazendo sexo que a Amy e o Liam conseguem fazer isso. É triste não pelo que eles fazem - mas que eles precisem fazer isso para externalizar toda a dor que eles sentiram. 

CONCLUSÃO: Sobre a representação LGBT+ nesse último episódio. 

Depois de pensar, eu até gosto do que aconteceu. Talvez eles consigam encontrar algum conforto nisso, porque eles estão meio que sozinhos no mesmo dilema. Na vez lamy da minha fanfic mental (com 20 minutos por semana meu cérebro tem muito tempo para completar a história sozinho), os dois se encontravam de um modo até bem parecido. Os dois ferrados pelo que a Karma fez, trocando experiências e no fim descobrindo que podem se ajudar bastante. Não acho que isso vá acontecer. Na verdade, acho que tudo isso aconteceu só com uma cena.

E acho que essa é a ponte mais rápida para karmy acontecer no futuro, o que é bom.

No geral, eu concordo que a série até agora tem uma tendência maior para relação entre sexos opostos. (será? nunca vimos Lauren beijando o namorado, mas temos um beijo do Shane). O Oliver com a Amy é romantizado, enquanto nem com a Jasmine a Amy consegue algo mais (cá entre nós, eu acho que se ela tem a reação que teve com o Oliver com alguma garota, descartaria mais o lado de que ela sente atração por garotas, então é meio positivo). As duas garotas gostam e perdem a virgindade com o Liam, o que quebra a balança. (a Amy não gosta dele, mas o Liam ainda é uma borboleta) A gente só tem um beijo real Karmy que não é nem uma grande pegação, enquanto tem uns 500 Kiam. 

No fim das contas, apesar de toda a inovação, mudança de paradigma e blablabla, a série termina com garotas, brancas, bonitas, conseguindo fazer sexo com o garoto mais bonito da escola. Se não fosse o contexto, é claro. O contexto muda tudo... O próximo post de Faking It aqui no CC é uma tradução de como Faking It está mudando a representatividade LGBT+ nas séries, e lá fala algo interessante: é complicado você falar de fluidez e de uma sexualidade definida ao mesmo tempo. Como você vai falar sobre descobrir o que a pessoa gosta sem rótulos, sem passar por cima de algum rótulo? Acho que Faking It ainda nos mostra coisas importantes como separar comportamento sexual de identidade. Ainda mais entre as pessoas LGBT+, é muito comum a pessoa ter uma relação heterossexual antes de se aceitar. Infelizmente, elas recebem um rótulo do que elas devem ser antes delas pensarem o que podem ser. E é isso que Faking It nos mostra, de uma maneira até bem divertida. Já estamos rotulando a Amy como lésbica e esperando que ela seja o que a gente quer antes mesmo da própria personagem ter a chance de se descobrir. 

Agora só nos resta saber como Amy e Liam completamente bêbados conseguiram sair da rua e ir parar no segundo andar, no quarto da Amy, que é ligado ao da Lauren por um banheiro, se pegando no caminho inteiro, sem chamar a atenção. (como alguém comentou no tumblr: pode ser que a próxima temporada comece com um flashback da Lauren entrando no quarto e arrastando o Liam pela orelha dali e nada aconteceu!!!)

-dana martins


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2 comentários

  1. UAU! Achei que só eu que tinha uma reflexão profunda sobre Faking It, HAHAHAHA.
    Confesso que fiquei um pouco frustrada ao ver a Amy fazendo sexo com o Liam, foi mais ou menos o que senti em 'Azul é a cor mais quente' {SÉRIO QUE ESSE TEMPO TODO ERA SÓ 'É LÉSBICA ATÉ ENCONTRAR O CARA CERTO?}, mas Faking It tem uma contextualização muito maior. Acho que o fator principal que os levou a fazer isso, foi a identificação de sentimentos. Não poderia dizer se a Amy é lésbica ou se ela confundiu o que sente pela amiga, afinal, até então, ela nunca tinha mostrado interesse em ninguém. Mas diferente de 'Azul é a cor mais quente', não senti o romance como pejorativo, ou o sexo com o cara como algo que quebraria o paradigma do lesbianismo. Foi uma forma de extravasar, foi o encontro com alguém que sabia como ela se sentia. No fim, acabei achando válido, mas estou SUPER ansiosa pra saber o que vai acontecer em seguida.

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