abolição de gênero CCAnálise

Desculpa falar, mas abolição de gênero não é a resposta.

10.8.17Jota Albuquerque


A teoria sobre abolição do gênero na nossa sociedade é no mínimo utópica. Não que isso seja ruim, afinal - como a Bells me lembrou - nós, humanos, somos movidos a utopias. Mas falar de abolir gênero é parar de se rotular como um gênero ao estar num ambiente social. Há muitos problemas na nossa sociedade envolvendo inferiorização do gênero feminino (isso se não falarmos de gêneros não-binários), mas há muito mais além disso e eu pretendo explicar do melhor modo possível... Então pra começar, desculpa falar, mas abolição de gênero não é a resposta.

Após umas pesquisadas para refrescar minha mente - foque na parte que isso não aconteceu, refrescar... -, eu fiquei pensando nisso e foquei nessa parte: gêneros não se restringem somente a mulher e homem, vai além disso. Nossa sociedade na maioria das vezes tenta encaixar as pessoas nesses dois gêneros, mas elas são muito mais complexas e diversas, e principalmente hoje em dia há mais entendimento de outros conceitos de famílias e pessoas. Então a abolição de gênero não é só uma ideia antiga, como também de certa forma não totalmente satisfatória.

Você querer abolir os gêneros é o mesmo que você falar que rótulos não importam. Como não importam?! Rótulos dão poder para quem não saiu do armário, e também dão visibilidade para um grupo. Mas claro, fica a você se vai ou não se rotular.



Veja bem, de fato o gênero feminino e masculino surgiram a partir de construção social pelas genitálias, isso é inegável. E que rótulos sempre existiram, seja com os índios maias da região norte-americana que chamavam as pessoas trans bigêneras ou trans binários de two-souls, como atualmente. As opressões sofridas por cada gênero, seja ele binário ou não-binário, é diferente, desde homem x mulher, até trans binário x trans não-binário.

O que eu quero dizer com a abolição de gênero não ser uma boa questão é que isso desconsidera a opinião de muita gente. Para que isso acontecesse, teríamos que no mínimo não ter mais preconceitos, seja ele racial, etc... E isso não vai ocorrer agora, porque há milhões de pessoas e muitas ainda são mentes fechadas. Isso se não formos falar que também não poderíamos viver em desigualdade, seja ela causada pelo capitalismo ou qualquer outra. Nisso chegamos no ponto mais sensível dessa conversa: ao apoiar abolição de gênero, você deve agir como tal, sem se rotular com um gênero quando estiver no social (como eu havia dito lá em cima), ou seja: se você faz parte de um grupo que luta pela igualdade e equidade de gênero, então qual o sentido de apoiar a abolição, já que com ela não haveria separação dos gêneros e nem a caracterização própria?

Nisso, podemos falar que a abolição de gênero entra em mais outro quesito: 'tá, e como as pessoas agêneros se sentem em relação à isso?'. Porque sem você perceber, falando de abolição de gênero você está colocando essas pessoas na sua frente, sem nem saber direito o que elas acham. Porque se você não sabe, existem pessoas que vivenciam ausência de gênero. ;)) (humanização da bandeira agênero abaixo)

Desenho de Rabbit's Drawing.

Depois de ler alguns textos, tem dois que me trouxeram a luz e depois eu vou indicar, mas antes, pense assim: gênero vai além de homem e mulher, e principalmente de uma construção social. Uma pessoa trans não-binária não é 100% homem ou mulher ou nenhum, é algo que ela somente é, e ela tem consciência disso. Então, nisso você percebe que gênero vai além de uma imposição social, é também o ser. É algo humano e se você questiona falando que gêneros não existem, você tem certeza? Como você se vê, se sente e se percebe quanto humano?

Vivemos numa sociedade que tudo que é tido como feminino é odiado. Então você achar que abolir gênero é a resposta, desculpa, mas é completamente irreal. O certo a se fazer é mostrar que a feminilidade não é algo a ser odiado, mas sim amado, empoderado, representado e visibilizado. Isso gera resultado e ajuda pessoas.

Os dois textos que indico para continuar a pensar sobre isso: esse e esse. <3

Não sei de quem é o desenho, mas achei no Pinterest, quem souber avisa. "Respeite os gêneros nas culturas."

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4 comentários

  1. Explica, por favor, utilizando as mesmas premissas (sobre preconceito, sobre utopia, sobre o ódio ao feminino, e sobre ROTULOS) como que a invenção de vários novos gêneros é a real solução.
    Obrigada!

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  2. A necessidade de alguém se definir como agênero só faz sentido em uma sociedade que não aboliu gêneros. A partir do momento em que gêneros forem abolidos, qualquer pessoa pode apenas "ser", sem se categorizar.
    O problema é que a política identitária esvaziou o sentido de gênero, transformou um mecanismo de opressão em um mecanismo de construção de identidade. A fim de se identificar como mulher, reproduz-se padrões inventados para oprimir as mulheres. O que significa sentir-se mulher? Significa adequar-se a um estereótipo? Gênero é opressão. Gênero é imposto, não é escolhido. Por isso deve ser combatido.

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    1. Ao perguntar o que significa ser mulher na sociedade, eu respondo o que nós não somos? Pessoas trans não criaram os estereótipos de gênero, nem toda mina trans (assim como eu) não reforça os estereótipos de gênero, estereótipos de gênero foram e é cobrado na vivência e nos corpos trans! Quantas vezes uma mulher trans ou homem trans tem sua identidade invalidada só por não se adequarem a feminilidade ou masculinidade cis? Quantas vezes mulheres trans são ridicularizadas ou por não usar maquiagem ou por ter um cabelo muito curto? Várias vezes afinal "pra uma trans ser mulher ela tem que ser magra, peituda, maquiada e feminina" assim como os homens trans! Pessoas trans já sentem um desconforto com a identidade que lhe foram atribuídas ao nascer, você realmente acha que cobrar feminilidade de uma mina trans não iria causar gatilhos nelas? Se elas reforçam os estereótipos de gênero se dá a vocês que empurram essa Idea de ser mulher ou homem!

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    2. Concordo com o Guidi. O gênero foi algo inventado pelo patriarcado para colocar-nos em caixinhas. O que agora acontece é a categorização do ser humano em diversas caixinhas diferentes, dependendo de como ele se vê, se sente...o que existe na realidade são seres humanos, com seus corpos e seus sentimentos. Não deveriam dizer o que você deve ser/fazer/como deve performar/o que deve pensar/ a partir do sexo de nascimento. Deveríamos ser livres para sermos, somente. Sem nomes para cada coisa. Cada categorização é mais opressão. Não devemos esquecer que as leis são feitas ,na sua maioria, por homens brancos, deixar na mão deles seguir decidindo em que categorias devemos estar e que leis devem ser feitas pra nós é a continuidade do patriarcado travestido de liberdade.
      Liberdade é nascer e ser o que se é, sem rótulos, sem categorias, sem gênero. O gênero oprime e mata pessoas.

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