Acho que tá virando regra meus posts começarem comigo dizendo não saber como descobri determinada coisa, mas é verdade. As coisas vão aparecendo pra mim, eu vou me identificando e quando percebo aquilo já se inseriu em mim e mudou um pouquinho, seja meu jeito de pensar, ser, sentir. E foi assim que aconteceu com o filme 10.000km. Ele tava na minha lista na Netflix, sei lá porque o coloquei ali, mas ainda bem que o fiz.
O filme é tão honesto que machuca, mesmo que a realidade ali mostrada não tenha sido vivida por você. 10.000km (2014), dirigido pelo espanhol Carlos Marques-Marcet, é um retrato realista e puro de um relacionamento à distância, uma fotografia brutal do amor entendido quase como um ser vivo, com atuações magistrais dos atores Natalia Tena e David Verdaguer, o roteiro consegue nos transportar para a história de maneira a nos integrar a dupla, fazendo-nos questionar se um relacionamento consegue sobreviver só de amor.
Apesar de o tema parecer repetitivo, o enredo consegue pegar todos os clichês e transformar numa coisa real, desenvolvendo-o quase como um documentário sobre o relacionamento de um casal que tenta não se deixar consumir pela distância que os separa utilizando-se para isso as mais diversas formas de contatos virtuais, skype, email, celular, tudo é usado como ferramenta de aproximação, mas até que ponta elas realmente conseguem suprir a ausência?
10.000 Km vai na essência do que representa uma relação à distância ao retratar de maneira visceral e dolorosa, a dor da ausência e o mal-estar da solidão, conseguindo contar de maneira original a história de Alex e Sergi, um casal que já está junto há sete anos e que decidem ter um filho. No entanto, na cena seguinte já começamos a perceber que essa decisão talvez não tenha o mesmo peso para os dois, e confirmando isso, uma proposta de trabalho surge como o ponto de partida para o desenrolar da trama. A beleza do filme se dá pela maneira intimista e simples que ele foi feito, Marcet não introduz nenhum outro personagem na trama, nem mesmo um diálogo sequer de outro personagem que não seja o de Alex ou Sergi, até as locações do filme se focam em dois ambientes, o apartamento em Barcelona e o outro em Los Angeles. Tirando algumas fotografias externas enviadas por Alex e a utilização do Maps como forma de construir o enredo, tudo o mais se limita aos apartamentos e nas emoções que os protagonistas vivenciam, angústias, medos, alegrias e a crença que as coisas não vão mudar.
Não vou mentir, doeu acompanhar essa história. A busca pela conexão que já não é a mesma, a tentativa desesperada de uma sintonia que já não existe. A dissolução de um amor perfeito e para sempre, mas que é atravessado por sonhos diferentes. E o que mais dói é que tanto nós ,espectadores ,quanto os protagonistas nos esforçamos para colar os pedacinhos, a gente não quer desistir, a gente tem um esperança que não esmorece. O final do filme está aberto a interpretações, acho que é interessante questionar que rumo o relacionamento vai seguir a partir daquele momento angustiante. Sério, foram 20 minutos que pareceram o filme inteiro, eu não consegui desgrudar os olhos da TV. Tudo era tão a flor da pele, intenso, visceral. Eu era eles.
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