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Faberry e a importância de Glee na minha vida

15.5.17Colaboradores CC



Minha história com Glee é um tanto curiosa. Cresci ouvindo hard rock e algumas outras variantes do gênero, pois era o que o meu pai sempre gostou. Como uma boa criança metida a roqueira que cresceu em um lar conservador, não foi surpresa que eu, mesmo sem entender nada com coisa nenhuma, reproduzisse homofobia ao criticar artistas pop, ou as “bandinhas coloridas”, apesar de nunca tê-los ouvido, me baseando apenas em... Sei lá o quê, já que em contrapartida eu era fã de Big Time Rush, Victorious e as novelas mexicanas teen da Nickelodeon, como Isa TKM e Grachi.

Mesmo assim, eu odiava pop e “essas coisas de viado”. Ironicamente, era eu a prima que só brincava com os meninos, gostava de “brinquedos de homem” e tinha as tias chatas no pé quase que todos os finais de semana (quando eu as via). Bem, o ponto é: eu odiava Glee. Por alguma razão desconhecida, eu desprezava o seriado sem nunca ter assistido, apenas por ser “de menininha e viadinho” – alguém avisa a “eu do passado” que ela é uma menina e que isso aí é o maior close errado, por favor?


Eu lembrando os absurdos que falava...

Enfim... Deixando de lado o fato de que a minha implicância com Glee nunca fez o menor sentido e que, ainda assim, perdurou até depois mesmo de eu começar a questionar minha sexualidade, tudo mudou em 2015 (sim, depois de já ter acabado), quando assisti ao piloto pela primeira vez. Nessa época, muita coisa estava estranha na minha vida. Além de ser uma completa outsider na escola, a “esquisitona”, eu estava começando a aprender mais sobre mim mesma e me aceitando como bissexual. Não sei ao certo o que me levou a começar a ter certo interesse em Glee, mas me lembro de assistir um trecho do episódio final na FOX sem nem saber do que se tratava. Algumas semanas depois, eu estava navegando pelo MegaFilmesHD (#saudades) e vi o ícone da série. Devo ter pensado algo como: “Hmmm... Vou ver só porque não tenho nada pra fazer.”. Porque, no começo, foi o que eu fiz. Até escolhi assistir dublado, sem a intenção de prestar muita atenção.  Acontece que eu gostei. Na verdade, eu amei. Algo mudou dentro de mim...

Não poderia deixar de enaltecer Defying Gravity em um texto sobre Glee, né non...

Com a série que mais odiei na vida se tornando a minha favorita (apesar de todos os problemas de representatividade envolvidos nessas seis temporadas), vieram os meus dois maiores otp’s: Faberry e Achele. Sendo, praticamente, “dois em um”, esse ship me fez pirar de uma forma que é praticamente impossível explicar através de palavras. Por isso, fiquem com um gif que resume bem a coisa toda:

“Você já shippou tanto um casal que tudo o que queria fazer era se trancar em um quarto, colocar uma música triste e chorar?”. 

Aqui, falarei apenas de Quinn e Rachel, porque se fosse para incluir toda a teoria envolvendo o provável relacionamento das atrizes Dianna Agron e Lea Michele na vida real, o texto ficaria do tamanho de uma compilação dos livros sagrados de todas as religiões existentes na história da humanidade. Para o ship vencedor de enquetes e, infelizmente, queerbating, mais amado de Glee, a única coisa que tenho a dizer é: PISA MENOS FABERRY, TE IMPLORO!!!

Conheci Faberry no dia seguinte em que descobri que havia um casal lésbico em Glee. Procurando por fanfics Brittana, é que o meu “mind blowing” aconteceu.

Pera... Como assim shippam a Rachel com a Quinn? Elas estão sempre brigando pelo Finn! Será que elas ficam juntas?

Guiada pela curiosidade, eu cliquei em uma. E mais algumas depois dessa. Graças às histórias, ativei meu gaydar (lesbiandar?) para as duas e foi durante a conversa delas no episódio treze da primeira temporada (o mesmo da primeira cena Brittana real / oficial, coincidência?), que eu senti o impacto.



“É, até que elas formariam um casal bonitinho.” Creio eu que todos saibam que no momento em que essas palavras são proferidas pelo subconsciente de alguém, significa que essa pessoa está perdida de vez. A partir dessa cena, cada olhada diferente ou frase ambígua era observada atentamente e o meu coração começou a bombear glitter por todo o meu corpo.

Muitos dos Gleeks não entendem Faberry.  De onde surgiu, o me levou a shippa-las e por que elas têm uma fanbase tão grande.  Acontece que essas pessoas parecem não enxergar a parte mais bonita da história de Quinn Fabray e Rachel Berry: a evolução.

Para explicar, de maneira resumida, toda a “jornada” que as duas tiveram rumo uma à outra, resumirei em apenas duas cenas: a primeira aparição da Quinn e o último grande momento Faberry antes da formatura, pois depois dela o Ryan Murphy pareceu jogar na lixeira mais próxima tudo o que havia sido criado para elas até então.

Na cena do piloto, a Quinn está com suas amigas líderes de torcida, rindo e fazendo comentários maldosos em um vídeo da Rachel cantando, postado pela mesma em sua página do MySpace. Já na do episódio “Goodbye”, o 22° e também último da terceira temporada, a própria Quinn diz que a mudança pode ser tão boa, pois se elas não tivessem mudado não seriam amigas.  Em seguida, entregando à judia um passe de NYC (cidade para a qual a garota iria) para New Heaven (cidade para a qual ela iria), com as palavras: “Todo mundo fica falando sobre manter contato... e eu quero ter certeza de que manteremos.” Entre esses dois momentos, ocorreram inúmeras situações que as levaram a, finalmente, criarem uma amizade e, caso bem aproveitada, poderia sim ter se desenvolvido como algo mais nas temporadas seguintes...

Vejam a maneira que elas se olham, AAAAAAAAAAAA.

Fazendo uma análise de todo o caminho percorrido por elas de modo geral, podemos concluir que ao mesmo tempo em que eram opostas em alguns aspectos, se assemelhavam e muito em outros. Pensem comigo: a Quinn era tudo o que a Rachel queria ser, quando, na verdade, era tudo fachada. A “little miss perfect prom queen” era, na verdade, uma ex-loser, que conhecia bem a solidão e a dor de não se encaixar, muito tempo antes de toda a história da gravidez. Rachel trazia a “Lucy” de volta. O lado frágil da abelha rainha do McKinley era exposto, pois entre elas, havia nesse aspecto uma diferença gritante: coragem. A Rachel tinha coragem de se expôr, de ser ela mesma... Desestabilizando, portanto, a loira.

Contudo, vale lembrar que outros personagens com os quais a Fabray não tinha problemas, como Kurt e Mercedes, também o faziam. E, dentro das teorias Faberry, a admiração e a inveja tomam um rumo diferente, mostrando a possibilidade de a Quinn ser secretamente apaixonada pela outra, até certo ponto sem nem saber / aceitar tal possibilidade. O que seria compreensível, tendo em vista que, como muitos de nós, ela foi criada em um lar ultraconservador e preconceituoso... E, de fato, acontece de pessoas terem a certeza de odiarem alguém, quando na verdade o que odeiam é a maneira como a pessoa lhes faz sentir.

Percebam a contradição: uma caricatura feia, “loser” (perdedora) e... Mais de vinte corações ao redor? É isso mesmo produção?

Outra questão merecedora de atenção é a maneira como elas se conheciam, acreditavam no potencial uma da outra e se apoiavam, apesar das brigas. Momentos como “Você não pertence a esse lugar Rachel e não pode me odiar por te ajudar a seguir o seu caminho” (2x16) e “Você é uma garota muito bonita, Quinn... A mais bonita que eu já conheci... Mas você é bem mais do que isso.” (2x20) não foram poucos. Russell Fabray disse: “Você é a decepção aqui!” (1x10), o Mr. Schue chamou a Quinn de egoísta e disse para que crescesse (3x02), o Finn afirmou irritado que ela ainda era a velha Quinn e que tudo que importava era ela mesma (3x19).  Já a Rachel...  “[sobre a Quinn voltar ao Glee Club] Quando estiver pronta.” (3x01), “Você é muito melhor do que pensa.” (3x08), “Eu não estava vendo a nova Quinn. Ainda linda, mas humilde e inspiradora Quinn.” (3x19). E a Fabray não fica nem um pouco para trás. 

Quando se sentiu insegura em relação ao seu namoro com o Finn, a Rachel pediu a “ajuda” dela e é óbvio que como uma pessoa cheia de ódio pela Berry, a Quinn... Fez o favor e deu em cima do ex, que a rejeitou por estar com a morena... Não, pera. Algo de errado não está certo nessa sentença. Dica: é a parte do “ódio” que a série nos queria fazer engolir. (2x02). E na época em que o Finn teve a ideia estúpida de pedir a Rachel em casamento, os dois estando no colégio, só porque não tinha mais nada de especial em sua vida além da garota (Zzzzz), o posicionamento da Quinn foi claro: “você não pode”, “Rachel, você tem uma vida incrível à sua frente e, por mais difícil que isso seja, se quiser tudo aquilo que sempre sonhou, vai ter que terminar com ele.” (3x11), “Não vou ficar sentada assistindo você arruinar sua vida se casando com Finn Hudson.” (cena cortada do 3x14). Porém, os planos do casal Finchel não mudaram e, por fim, a Fabray acabou optando por apoiá-la, mesmo não estando de acordo com a sua decisão (3x14).

O verdadeiro significado de “perfeição”. Olhem a carinha da Quinn quando a Rachel a abraça...

Meu ponto é: as duas eram perfeitas uma para a outra. Não só mereciam mais que o Finn e o Puck, como suas histórias se interligavam desde o berço – com Quinn vindo de uma família cristã tradicional, bastante conservadora, que a colocava para baixo e que lidava com os problemas simplesmente fingindo que eles não existiam e Rachel sendo filha de um casal gay, que a incentivava em seus sonhos – até a Shelby. Quinn não somente esteve presente no instante em que Rachel descobriu que a treinadora do Vocal Adrenaline era sua mãe, como, meses depois, a mesma adotaria a sua filha, Beth. A própria Berry considera isso como sendo uma “ligação” entre elas (2x16). Isso sem mencionar que essas duas se complementavam de uma maneira especial...



Poderia passar o dia todo falando delas e apresentando evidências, mas há mais uma coisa sobre Faberry que as torna tão especiais para mim: foi por causa delas que escrevi minha primeira história original no Nyah! Fanfiction, a qual tinha como casal principal um que havia sido baseado nelas. Mais importante: graças a essa história, conheci uma das pessoas mais maravilhosas desse mundo, um garoto que tenho muita sorte e orgulho de chamar de amigo, o Jota. Ele escreve para o CC e é um dos serumaninhos mais especiais da minha vida. Se não fosse por Faberry, eu nunca teria escrito a fic original e, talvez, não conheceria o João Paulo, ou teria evoluído tanto minha escrita, coisa que é de fundamental importância para mim.

Embora esteja longe de ser o melhor exemplo de representatividade na Cultura POP, Glee teve uma grande importância na minha vida, em questões de autoaceitação principalmente. De uma maneira estranha e única, Faberry também me ajudou nisso. Não só através das fanfics e das personagens que criei graças à frustração de nunca tê-las visto juntas na série. Os pequenos momentos e teorias que criei a respeito deles serviram para que cada vez mais eu normalizasse as coisas na minha mente. 

Essa série apareceu para mim em um momento onde eu não tinha ninguém. 2015 foi um ano meio tenso e a maioria das pessoas que me cercavam não eram verdadeiras / não me entendiam. Glee me ensinou muitas coisas, assim como esse “não casal”. Se hoje sou quem sou e tenho por perto as pessoas maravilhosas como meus melhores amigos, devo boa parte disso ao seriado musical e a Lea Michele e Dianna Agron. Quinn e Rachel nunca foram santas, pessoas perfeitas e a relação delas já foi um tanto turbulenta, entretanto, antes do “titia” – apelido carinhoso dos Gleeks para o Ryan Murphy – arruinar tudo, esquecendo-se completamente da história que ele mesmo contava, as duas haviam achado uma forma de serem amigas e imaginá-las juntas me deixa feliz, nos dias em que estou me sentindo pra baixo.

Ver fotos e gifs antigos da Dianna com a Lea na Glee Tour 2011, ouvir minha playlist de Glee no Spotify, rever a série bilhões e bilhões de vezes... São coisas que me animam. Que me tiram do “fundo do poço”, quando a bad bate. Episódios como “Born This Way” (2x18) e performances como Don’t Stop Believin’, Loser Like Me, a própria BTW, Keep Holding On e Lean On Me me fazem sentir abraçada e acolhida por esses personagens que, para mim, são como amigos e um porto seguro. Já I Feel Pretty Unpretty, o maravilhoso único dueto Faberry, me transmite algo que não sei definir, apenas consigo dizer que faz com que eu me identifique ainda mais com a Rachel e a Quinn e as tenha guardadas em um lugar muito, muito, muito especial mesmo no meu coração.



***
Sobre a autora: Isabela Duarte, a maior Gleek e Faberry shipper que você respeita. Estou no nono ano do fundamental e faço quinze anos agora em Maio. Meu grande e verdadeiro amor é a escrita e, depois dela, vêm meus passatempos favoritos, que são assistir séries e ouvir música. Militante de causas sociais e a problematizadora do rolê. Gorda e felizmente bi.  Tenho os melhores amigos do mundo inteiro e se discordar é porque não os conhece.

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