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O que a homofobia do Youtube nos diz

19.3.17Dana Martins


O Youtube tem um modo restrito, daqueles pra pai controlam o que os filhos vão ver e bloqueia conteúdo "inapropriado". Até aí tudo bem. Mas agora o modo restrito passou a bloquear coisas LGBT+ - e coisas LGBT+ não estou falando de um pornozão doido, mas tudo: vídeo de gente falando que é gay, clipe de banda onde a cantora é lésbica, websérie que tem personagem LGBT+ (mesmo que no episódio ele não esteja fazendo literalmente nada, só existindo) e até música da Lady Gaga. E qual é o problema disso? (e o que isso nos diz sobre a indústria)

Primeiro, o básico: considerar pessoas LGBT+ como "inapropriado" é homofobia. Ponto.

"Ah, mas tem gente que não quer ver" - tudo bem, não vê. 

"Ué, mas não é pra isso que o modo restrito existe?" - Não exatamente. Esse modo restrito do Youtube não bloqueia "tudo o que é ruim ver" - tem um monte de vídeos sobre violência ou pornô ou abuso de mulheres que passam diretamente pelo filtro. Então não é sobre "evitar coisa ruim" (ONDE QUE É RUIM UM CLIPE QUALQUER DE BANDA?), é sobre mirar diretamente em uma comunidade, que já é oprimida, e decidir que ela deve desaparecer. Não é sobre "não quero ver essa gente", é sobre apagar dados sobre qualquer existência desses pessoas LGBT+. 

E mais, tem gente que não quer ver, mas vamos falar da realidade: ser LGBT+ é natural - existe e vai existir em qualquer cultura em qualquer lugar do planeta não importa se fique mostrando ou não. Agora, homofobia é uma escolha. Vai tratar todo esse grupo inteiro como inapropriado porque algumas pessoas preconceituosas não querem ver?



Ou seja, o que o Youtube fez foi basicamente: É ok não querer que essas pessoas existam.

Novo slogan do Youtube: ser LGBT+ é inapropriado, é sujo, é pior que violência e pornografia.

Agora, isso tem consequências piores.

Youtube é o principal site de vídeos na internet. Eu levei até tempo quando tentei lembrar de um competidor (lembrei do Vimeo, ouvi falar de um outro também, mas já esqueci). Muito do conteúdo digital independente que existe tá ali no Youtube. E as pessoas LGBT+ acabaram de ser excluída desse espaço.

Tudo bem, os vídeos delas ainda vão estar lá - em um espaço que as considera INAPROPRIADAS, mas agora muita gente não vai ter acesso e o pior é que nem vai saber que tinha a opção de assistir essas outras coisas. (parece muito como crescer em um mundo homofóbico sem saber que existe e pode ser algo além de hétero...........) Isso não normaliza o que é ser LGBT+, porque literalmente é criar uma cerquinha entre HÉTERO vs. OS OUTROS e pra chegar nesses espaços você tem que saber como.

Isso vai além. 

Imagina uma pessoa LGBT+ fazendo música. Não música sobre ser gay, só música "lalala vamos dançar". Se esse artista falar que é gay explicitamente, defender direitos LGBT+, se envolver com qualquer coisa que associe sua imagem a ser LGBT+ - boom, a pessoa é excluída. 

Se uma série decidir colocar um personagem gay. Não uma série sobre ser gay, sei lá, pode ser algo de super-heróis. Mas se começar a se associar muito a ser LGBT+ - boom, excluído.

Se produtores independentes decidirem criar uma websérie pra ter uma representação positiva LGBT+ - hahaha Perde parte do público, do alcance, e perde na competição com aqueles que não tem nada LGBT+. Ou seja? Boom, excluído.

O ConversaCult? Escrevendo esse texto aqui? Fazendo semana da assexualidade, bissexualidade, lésbicas, trans, etc? Se fosse um canal do youtube, seria excluído também.

Isso não só cria desvantagem de competir no mercado por se associar a LGBT+, como dá a indústria uma boa razão pra ignorar o que se trate de LGBT+.

É como se fizesse uma série pra cada time de super-heróis, A Mulher Het, o Homem Het, o Homem Negro Het, o Homem Branco Het Que Finge que é Asiático e a Pessoa LGBT+. Todo mundo lança, mas só o da pessoa LGBT+ não tem trailer e são divulgadas e não aparece na página inicial do Netflix. 

Competição justa, né? Super justa. Mundo cheio de #igualdade. As pessoas LGBT+ não só são vistas como inapropriadas por existirem, como tem oportunidades negadas. Yey.

Obrigada, Youtube, eu estava preocupada com o Trump, mas você decidiu chegar na frente, hein? :)

AGOORA... a pior, ou melhor, parte:

Tudo isso não vai acontecer agora por causa do Youtube. Tudo isso já acontece agora.

Quando os protagonistas da Globo só dão selinho - o que você acha que é? Gente gay é inapropriada. 

"O que as crianças vão pensar? O que eu vou falar pra o meu filho?" - o que você tá dizendo é "isso é inapropriado, um absurdo, essas pessoas não deveriam existir"

E de fato a indústria já funciona assim, mas é um silenciamento secreto, quew acontece entre os executivos. Se eles nem produzem coisas com pessoas LGBT+, eles não precisam dizer que é inapropriado, né? :)

Por que você acha que nenhum filme da Marvel tem pessoa LGBT+? Porque a Marvel considera ser gay inapropriado.

Por que celebridades tem tanto medo de se assumir ou falar sobre direitos LGBT+? PORQUE ELAS VÃO PARAR DE RECEBER OPORTUNIDADES E SER EXCLUÍDAS POR SEREM CONSIDERADAS INAPROPRIADAS.

Essa é a lgbtofobia com que a gente lida agora.

As pessoas LGBT+ são tratadas como algo nojento, ofensivo, que não deveria existir, que crianças não podem ver, que é pornografia, que deve ser escondido. E elas são bloqueadas, perdem oportunidades, são excluídas e não tem as mesmas chances do que as pessoas hétero.

Eu disse que essa é a melhor parte, porque o Modo Restrito do Youtube mostra como nós já vivemos nesse Modo Restrito. Isso só não é tão claro na maioria das vezes.

ALGUNS TWEETS DO #YOUTUBEISOVERPARTY E SOBRE O CASO


"Que tipo de mensagem isso é pra pessoa tendo dificuldade pra lidar com a própria sexualidade? Ah é, a mensagem de que o amor dela por alguém é RESTRITO."



"ESCONDER CONTEÚDO GAY NÃO VAI IMPEDIR SEUS FILHOS DE CRESCER GAY, SÓ VAI FAZER ELES SE SENTIREM ENVERGONHADOS E NÃO SE ACEITAREM."


"Isso é tão horrível, toda nossa existência é reduzida a sexo e "ser inapropriados""




"A censura do Youtube a conteúdo LGBT+ não vem do que é a base do problema envolvendo representatação LGBT+ na mídia? A ideia de que não é apropriado ou é muito sexual para jovens. De que ser gay é uma questão de adultos e não algo com o qual as crianças lidam."



"Acesso a conteúdo criativo que mostra/certifica a juventude LGBTQ de que eles não são errados ou não estão sozinho pode salvar vidas. Por favor conserte isso @TeamYoutube" 



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