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Para quem gosta de cinema: Requisitos para ser Una Persona Normal

12.11.16Taiany Araujo


Depois que inventaram a Netflix pude enfim matar a saudade de locadoras. Provavelmente você não sabe, com toda a certeza você não sabe, que eu tinha uma rotina aos finais de semana durante muitos anos na minha vida. Sábado era dia de ir à locadora do bairro, escolher minuciosamente de 2 a 3 filmes (uma amiga também alugava e a gente trocava), conversar com o dono da locadora, dar sugestões de filmes para ele comprar, se a vergonha não fosse tanta, dar sugestões para os outros fregueses e voltar para casa satisfeita com as aquisições e ansiosa para assisti-las. A gente só devolvia tudo na segunda-feira, e eu já começava a me preparar para o próximo final de semana ou torcia para ter algum feriado. 

No entanto, com a internet cada vez mais presente nas casas de todo o mundo e a facilidade de baixar filmes, as locadoras foram fechando e eu sofri com o fim de uma das coisas que mais gostava de fazer (eu amava toda rotina do fds e adora ser tipo amiga dos donos das locadoras perto da minha casa). Por incrível que pareça, justamente quando eu podia ver filmes de graça e na hora que quisesse, foi a época que menos filmes eu vi. Mas eis que criam um lugar como uma locadora virtual (e paga), onde eu posso escolher filmes e series outra vezes de forma minuciosa e sistemática, eu amei. Eu voltei!

Então um dia eu estava rolando as sugestões de filmes do catalogo da netflix e um título me chamou atenção. Requisitos para ser Una Persona Normal parecia ter tudo o que eu precisava naquele momento, e não é que tinha?

Dirigido por Requisitos para ser Una Persona Normal, que é também a personagem central da trama, o filme é espanhol e foi lançado em 2015. A história gira em torno da vida de Maria de las Montañas, uma mulher de 30 anos que como muitos de nós tá meio ferrada na vida, sem emprego, tendo que voltar a morar na casa dos pais, já que não tem um puto no bolso, solteira e sem perspectiva para mudar essa realidade, no mais, desesperançada.

Mas é durante uma entrevista de emprego que Maria descobri a solução dos seus problemas: Ela precisa se tornar uma pessoas normal. Entretanto, o que faz uma pessoa ser normal? Assim, Maria cria uma lista como alguns requisitos que acredita estarem presentes na vida de uma pessoa normal, e transforma isso em um objetivo, um projeto, uma meta.


Na busca pela normalidade, ela vai contar com a ajuda do irmão, um rapaz de 25 anos com necessidades especiais que tá muito bem obrigado, e com quase todos os itens da lista ticados. E vai fazer um amigo inesperado: Borja. Um cara que é viciado em dietas, mas sempre acaba escapando delas e se culpa por não conseguir emagrecer.

Os dois então resolvem fazer um trato. Ele precisa ajudá-la a concluir os requisitos para ser uma pessoa normal, enquanto ela o ajuda com o emagrecimento. E é durante as tentativas de Borja para ajudá-la que Maria começa a tentar entender o que é ser normal e qual o significado de normalidade. 

Requisitos para ser uma pessoa normal é aquele filme que tem uma história clichê, mas com conteúdo. Apesar de já imaginarmos como tudo vai acabar a forma com que é contado nos traz indagações e porque não, ensinamentos. A trama nos permite a reflexão acerca de como nos cobramos demasiadamente e a necessidade de sermos aceitos pela sociedade. De como muitas vezes imaginamos que a felicidade é algo que precisa de muito para ser alcançada. Ou ainda, de como deixamos de viver o agora acreditando que o futuro é mais importante. Será que a felicidade é o processo e não um ideal a ser alcançado?


Além disso, questões como autoestima, violência domestica, relações interpessoais e familiares, culpa e perspectivas de vida são tratadas de uma maneira tão singela, que já tá no meio quando você percebe o que tava acontecendo.

Não bastasse isso tudo, a fotografia e trilha sonora do filme são uma felicidade a parte, cheio de cores e um toque a lá Clarice Falcão e a Zooey Deschanel. E se você ainda duvida que o filme tenha algo para mostrar, saiba que ele conquistou o prêmio do festival de Malága do cinema espanhol.

E nem precisa ter preguiça para assistir porque o filme é bem curtinho, tem mais ou menos uma hora e meia de duração que passa muito rápido, entre cenas engraçadas, tristes e nonsense, a trama vem indagar padrões físicos e comportamentais, questões sobre ser e estar feliz, entre outras coisas, através de duas pessoas incomuns e aparentemente bem diferentes entre si.


Obs: como se eu já não tivesse amado todo enredo e não tivesse ficado com um sorrisinho bobo no final, o filme ainda tem coisa muito linda de música By your Side(Luthea Salom), que me lembrou demais Anyone Else But You (The Moldy Peaches) que toca no filme Juno.

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