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Nimona é muito mais que um nome engraçadinho

22.11.16João Pedro Gomes



Na verdade, Nimona é uma uma daquelas raras histórias (ou HQs, pra ser mais preciso) que não parecem com nada do que eu já li. Ou melhor: já que dizem que tudo se recria, é mais apropriado dizer que ela parece com muitas coisas e nenhuma ao mesmo tempo. Uma história que se torna única pela mistura de elementos aleatórios que deu muito, mas muito certo.


Começando pela protagonista, a Nimona, que parece vir do mesmo lugar que aquelas personagens de tirinhas famosas da internet. Que magicamente viram febre pela fofura/humor/insira-aqui-um-traço-altamente-empático, sabe? Como a Raven “filhote” de Bear, ou a Niazinha de Como eu realmente, ou a Sarah em Ninguém vira adulto de verdade. O que não é de surpreender, já que a HQ surgiu inicialmente numa web comic e foi publicada depois pela legião de fãs que conseguiu (que dá pra começar a ler, em inglês, aqui). 

Só que a Nimona foge dos padrões de diversas formas. Além de ser metamorfa (poder se transformar em qualquer animal ou pessoa), não fazer o tipo físico padrãozinho e ter o melhor corte de cabelo da ficção, há o fato de ela ser... vilã. Quantas vilãs a gente vê protagonizando? Sem ser daquele tipo SOBERANA DO MAL, ou o “pareço vilã mas vou me redimir no fim”. Apesar de Nimona ter motivações convincentes e um apelo emocional muito forte, ela faz coisas não muito nobres e não fica se desculpando por isso. Pelo contrário, transforma tudo em piada, já que “matar gente? Nada de mais”. Inclusive, grande parte da história é ela tentando fazer seu chefe, Ballister Coração-Negro, “maior vilão que já existiu”, agir mais como ela. E faz isso da forma mais irreverente possível.

FOCO NA CARINHA DELA ENFIANDO A ADAGA

E ainda tem outro aspecto, numa dimensão ainda maior, que é subvertido aqui: o do conto de fadas. Na história tem um supervilão, tem um nobre cavaleiro dourado, tem dragões a serem enfrentados, mas PÉEEM. Ninguém nunca é apenas o que parece estereotipicamente. E é maravilhoso. A história até toca nuns temas políticos que não são comuns em histórias do gênero, te fazendo questionar o valor das Instituições que nos regem e de como a qualidade de vida das pessoas é valorizada (ou não) por elas. Nada que pareça forçado ou “estrague” o espírito divertido da história: lembro até agora de uma cena em que a Nimona está sobrevoando o reino pra chegar num lugar e, lá embaixo, tem um soldado chutando um mendigo como “detalhe rotineiro”, algo que acontece no mero espacinho temporal da viagem e só ajuda a tornar aquele cenário mais vivo. 

E isso acontece de várias formas e a todo momento. Olha como a população é diversa nas roupas e estilos

Resumindo: Nimona tem toda a magia de um contos de fada, só que com lições MUITO modernas a transmitir. 

Inclusive, essa modernidade de conceitos aparece na própria construção de mundo. A história tem reis e estética medieval e cavaleiros, mas é cheio de tecnologia e ciência avançada e noticiário na TV e personagens se falando por Skype. Uma coisa parece que não se encaixa logicamente com a outra, né? Mas aqui acontece naturalmente, e é uma prova de que qualquer combinação fica legal quando feita no tom certo e pra adicionar algo de bom à história. 

Se eu tivesse que dizer o ponto mais positivo da HQ seria mesmo o tom. Foi tão na medida. É uma das histórias mais divertidas que eu já li, do tipo passar vergonha lendo em locais públicos, mas sem perder sua complexidade. Traz vários elementos que parecem clichês, mas os subverte das formas mais inesperadas. Tem essa coisa fascinante de histórias medievais, mas é feito pra uma cultura jovem contemporânea que aparece em cada tecnologia, diálogo afiado, desejo de melhorar o mundo ou pedido de pizza. No final, acho que essas são só algumas das formas da Noelle Stevenson mostrar que não tem vergonha nenhuma das suas muitas obsessões, e gritar pro mundo que vai colocar todas, sim, na mesma história. Uma história que transborda com o carinho e empolgação que ela mesma sente por tudo aquilo que criou.

Nimona foi apenas maravilhoso. Eu desconfiei disso desde que li a sinopse e confirmei muito antes de chegar nas últimas páginas (que apesar de um pouco corridas e deixarem uma vontade enorme de saber mais, foram 100% satisfatórias). 

Se você quer uma história rápida e superdivertida, mas com muito a dizer, que se importa com diversidade e fala com a nossa geração, não se intimide com o nome engraçadinho dessa HQ: leia Nimona




- Autor: Noelle Stevenson
- Editora: Intrínseca
- 272 páginas
- À venda emSaraiva - Amazon - Submarino


(4,5 conversinhas)





(Agradecimentos à Intrínseca por ceder um exemplar pra gente e, claro, por trazer essa HQ incrível pro Brasil!!! A edição tava show. Por favor, continuem! DEIXO AQUI UMA SUGESTÃO PARA O PRÓXIMO TÍTULO

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1 comentários

  1. Gente, quero muito ler!!! Adoro histórias que fogem de um padrão, e amei essa mistureba que parece ser. Na verdade, já queria ler essa HQ há algum tempo, o post só fez eu ficar com mais vontade ainda! (Obrigada! :P)

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