beleza beleza natural

Faça o que quiser com o seu cabelo, porque ele é seu

10.8.16Taiany Araujo


Esse pode ser um tema polêmico. Talvez alguns possam achar que eu estou errada ou que esteja prestando um desserviço, mesmo assim, espero que o que eu tenho pra falar nos torne mais tolerantes e menos “cagadores de regras”. Dito isso, eu não estarei fazendo qualquer apologia a cabelos crespos, cacheados, lisos, alisados, quimicados ou de qualquer outro tipo. Teu cabelo é teu, seja grande ou careca, assim como o meu é meu.

Meu pai é negro de cabelo duro, minha mãe, apesar de branca, não tem cabelo liso, ela já passou tanta coisa nos cabelos que nem sei a textura natural deles. De qualquer forma, eu nasci com cabelos misturados entre o crespo e o cacheado e aprendi a odiar volume, minha mãe quase chorava se por um acaso eu cortasse o cabelo na lua cheia. Era sempre minguante, crescente até podia ser, mas lua cheia e corte de cabelo era quase um palavrão na minha casa e até hoje minha mãe consulta o calendário quando eu comento sobre cortar o cabelo, mesmo ela não tendo mais poder de voto no que diz respeito às minhas madeixas.

A questão é que eu passei grande parte da infância e adolescência usando produtos para abaixarem o volume do meu cabelo, mas diferente de outras meninas e até mesmo da minha mãe, eu nunca alisei. Duas coisas eram certas: eu amava meus cachos, não ter cachos era não ser Taiany; e volumes eram maus, todos os meus problemas residiam neles.

Bom, eis que ultimamente mulheres e homens começaram a falar que cabelos crespos e cacheados são lindos, começaram a deixar os cabelos naturais, começaram a mostrar que ninguém é obrigado a alisar ou passar por qualquer outro processo químico para terem cabelos bonitos, e começaram a ensinar a cuidar desses cabelos. E minha nossa, eu amei isso, eu entendi meu cabelo de uma forma que nunca tinha entendido, passei a ter um relacionamento sério com meu volume (até percebi que me acho mais bonita com ele volumoso do que com o cabelo todo minguado) e eu passei a tentar fazer outras pessoas perceberem isso, que não existe cabelo ruim ou bom.

O que existe são diferenças entre o grau de ondulação ou curva elíptica dos cabelos, que é determinada através do formato do bulbo capilar (raiz do cabelo), que recebemos geneticamente dos nossos pais. Ou seja, a maneira de se referir a um tipo de cabelo é quanto à estrutura dele, isso de qualificar entre bom e ruim não tem sentido algum. Além disso, eu passei a apoiar a “naturalização” dos cabelos, por exemplo, se fulano chegasse a mim com dúvidas entre deixar o cabelo cacheado/crespo ou alisado, eu iria pegar meu caderninho imaginário e falar todos os motivos para que o natural vencesse. E foi aí que eu comecei a perceber o problema: muitas outras pessoas também possuíam esses caderninhos, imaginários ou reais.


Esse texto não é para que paremos de falar sobre o quanto amamos cabelos crespos, cacheados ou naturais (eu ainda amo esses cabelos), é um pedido para que paremos de julgar quem não quer “aderir” à essa nova leva. É um sinal de alerta para todos que acreditam que o cabelo “natural” é o certo.

Antes de entrarmos no mérito de certo e errado, vamos entender o que é cabelo natural. Existem várias marcas especializadas em cabelos crespos e na maioria das vezes o nome da empresa remete à palavra natural. No entanto, essas marcas vendem justamente produtos químicos que, de certa forma, mudam a estrutura dos fios, assim a parte natural já foi pro beleléu faz tempo. Apesar da palavra natural, o que essas empresas vendem na verdade é a concepção de que todos os cabelos cacheados são naturais, e como os seus produtos não vão mudar de forma drástica a composição dos cabelos, parece que não houve mudança, mas houve. E por que eu tô falando isso? Porque apesar de todos os pontos positivos que essa nova percepção de beleza e expressão capilar trouxe, o ideal de cabelo passou do liso para o cacheado, se podemos dizer assim, mesmo que muita gente esteja exaltando o natural, esse natural nem sempre é natural de verdade.


Eu faça parte de grupos de crespas e cacheadas, sigo alguns blogs e mesmo não sendo uma conhecedora tão ativa do mundo dos cabelos, eu não estou tão perdida e em todos os lugares em que estou, vejo uma coisa acontecer de forma recorrente demais para não ser significativa: cabelos como o da Thaís Araújo por exemplo, são exaltados, e realmente, ele é lindo. Mas (e posso estar errada) pelo que conheço de cabelos, pelos profissionais do meio que conheço e pelo que já vi do início da carreira dessa atriz, o cabelo dela, se não for implante, é química. E tudo bem por isso, mas esse fato nos leva outra vez para a questão do certo e errado quanto ao cabelo natural.

As pessoas nesses grupos tem o hábito de recriminar ou serem condescendentes com quem faz processos químicos de mudança de estrutura dos fios, seja alisar ou relaxar. O cabelo da Thaís Araújo não é naturalmente daquele jeito e se eu quiser deixar o meu como o dela, também terei de passar por processos químicos. Então seria muito bom não ser olhada diferente por isso, porque a luta não é contra essa padronização da beleza que nos prende? Não podemos sair do padrão liso para entrar no padrão cacheado. Não podemos mostrar para meninas com cabelos crespos que elas são lindas e devem e podem usar seu crespo livremente enquanto julgamos outras que querem usar liso ou até mesmo alisar, porque não?

Eu resolvi escrever esse texto para dizer que é ótimo apoiarmos esse resgate à nossa cultura, que se alguém vier com dúvidas sobre como deixar o cabelo, provavelmente eu vou falar para que seja crespo/cacheado natural ou não, e que eu vou continuar querendo ver muitos blacks por aí, mas que também devemos apoiar aqueles que não querem deixar suas chapinhas, escovas ou o que seja, que devemos ensinar e não impor o que sabemos.


Um tempo atrás, eu acompanhei a “briga” de duas youtubers sobre cabelos no que se referia justamente a relaxamentos, e foi aí que eu percebi o quando a gente tá sendo obtuso e intransigente quanto a isso. Eu e você não somos ninguém para falar o que o outro precisa fazer, como ele deve deixar o próprio cabelo, o que é certo ou errado, porque ele sabe. E se não souber, espere ele te perguntar, e mesmo assim não seja rancoroso com a decisão dele, apesar de você ter dado sua opinião, a escolha nunca foi sua.

Isso me lembra uma coisa que aconteceu comigo. Uma pessoa comentou que queria ter determinado estilo de cabelo e pelo jeito como era o cabelo natural dela, aquele estilo só seria conseguido com alisamento, e foi isso que eu falei. Bom, digamos que a reação da pessoa não foi uma que me tenha deixado à vontade, no entanto, eu em nenhum momento impus nada, muito menos disse que cabelos devem ser alisados e etc, o estilo de cabelo que ela queria só seria conseguido assim, só que ela podia deixar o cabelo de qualquer outro jeito. É preciso conhecer seu cabelo, entender o que dá e não dá para fazer com ele, e escolher o que queremos fazer. No fim das contas, se essa for nossa decisão e estivermos bem com ela, ninguém deveria falar nada e nem transformar processos químicos em vilões imperdoáveis.


Então, se você é alguém que escolheu deixar seu cabelo crespo ou cacheado natural, parabéns, eu acho isso lindo e inspirador. E se você é alguém que finalmente tá amando sua cabeleira, mas quer fazer um relaxamento ou qualquer outra coisa para definir o cabelo ou tirar o volume, eu acho lindo e inspirador também, não deixe ninguém dizer o contrário. E ainda, se você é alguém que já ouviu tudo isso de cabelos naturais e blá blá blá, mas gosta do seu cabelo alisado, escovado e etc, eu acho lindo e inspirador, você não é pior do que aquele que mantém os cachos e nem melhor, vocês assim como os outros fizeram sua escolha e estão aí aceitando ela. Escolhas essas que podem mudar amanhã, ou não.

Não queiramos ser exemplos a serem seguidos, deve ser difícil demais carregar as idealizações de outras pessoas nas costas, vamos apenas respeitar as escolhas dos outros e mostrar que eles também devem respeitar as nossas. E vamos trocar ideias, aprender um pouquinho mais, evoluir.

E se eu disse alguma besteira muito grande, me dê um toque nos comentários, besteiras muito grandes estão sempre propensas a saírem da minha boca.

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1 comentários

  1. Amei e é isso! Posso ter o cabelo que eu quiser porque empoderamento começa daí: ser feliz com o que EU escolhi e me sentir bem com isso. Não deve ter brigas pra falar o que é certo ou errado, cada um sabe de si. Amei o post! Sou negra e meu cabelo tem progressiva, ás vezes deixo de fazer e deixo natural, ás vezes corto, ás vezes deixo grande... vai da fase em que estou. Sempre mudando e tentando ser feliz. Beijos!

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