CCSociedade Dana Martins

Quem você vê quando assiste filmes?

27.5.15Dana Martins

Ou quando vê séries, novelas, lê livros, hqs, fanfics, joga videogame...


Eu quero falar de algo que eu tenho percebido: Acho que a importância de ser representado é que isso te diz "ei, está tudo bem, vai em frente". Mas é num sentido diferente...

É uma espécie de mágica silenciosa e delicada que toca na ponta da sua cabeça e te transforma. Não como Cinderela com vestido mágico, mas de um modo que mostra que o tempo inteiro você estava usando o vestido e que existe um tamanho de sapato que é exatamente do tamanho do seu pé.

Em uma metáfora mais direta, a representatividade é um espelho. É uma forma de você se ver. É tipo acordar de manhã e olhar para o próprio reflexo e CARAMBA OLHA COMO TÁ O MEU CABELO ESTÁ. Não é nem que você não tivesse cabelo antes de olhar para o espelho, é que você só se deu conta dele depois de enxerga-lo.

Imagina só um mundo sem espelhos. Sem você se dar conta de como você é e de quem você pode ser. Bem, esse é o nosso mundo pra muita gente. 



A representatividade é como um espelho mais mental. Ele não reflete quem você é fisicamente apenas - ele reflete também como você se sente quanto a isso ou traços de personalidade e comportamento. 

Eu não quero falar de problemas, mas eles existem e apesar de não ser o foco aqui eu não posso deixar para trás. O problema da representatividade é um: o espelho tá dominado. É como se você quisesse chegar pra ver como você tá, mas já tem outra pessoa parada ali na frente e tudo o que você consegue ver é a imagem dela. Aí você fica tanto tempo parado ali vendo aquela outra pessoa que começa a achar que é ela e esconder tudo de você que não é ela.

Por isso temos discursos como o da Shonda Rhimes falando sobre normalizar a televisão (não trazer diversidade, não ser "politicamente correto"). É um discurso sobre aumentar o espelho pra ele refletir todas as pessoas que estão querendo se ver e, de modo geral, a gente aprender a ter consciência de que o nosso reflexo não é o único que existe. 

Mostrar os outros não é ser "politicamente correto", é respeitar a existência do outro. 

No momento não existe muito um "nosso" reflexo. Existe um homem branco cis hétero parado ali e a gente tá aprendendo que há outros reflexos além dele. Sabe essas confusões de ditadura gay ou contra o feminismo? É quando você mostra o reflexo de outra pessoa por 1 segundo e os outros têm um ataque do coração achando que não vão se ver mais. É até irônico, chamar a ideia de compartilhar a imagem de "ditadura" exigindo... que fique apenas uma imagem sendo mostrada.



É por isso que a gente precisa de um espelho maior, ou o espaço no espelho tem que te ser rotativo. 

Mas enfim, o foco não é o problema. O foco é no momento que você olha no espelho da representatividade e se vê. Vê partes de si que não esperava que existissem, porque estava há tanto tempo vendo o de outra pessoa que não reparou que esse seu lado existia ou que era tudo bem que ele existisse.

Eu escrevi um texto sobre The Legend of Korra e como a Korra me ensinou que era tudo bem ser uma garota com poderes "físicos". Que mulheres também eram tratores humanos. HUAHUAHUAH Que não existe esse negócio de ser uma mulher "macho", porque ser mulher também significa ser forte, meter a porrada, não ser delicada, gostar de correr. É ser mulher... mulher.

Voltando pra história da Cinderela, no original é como se a fada tivesse transformado a Cinderela no reflexo único que todos estão vendo. Já a magia da representatividade faz a pessoa ver a si mesma e perceber que pode existir. 

Quer dizer, a boa representatividade. 

"Representação não significa boa representação"



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2 comentários

  1. É engraçado (?) que as vezes a gente olha para algo que aprendemos a ver como diferente ou fora do normal em nós mesmos e queremos dizer para gente que tá tudo bem, mas não se acredita que tá tudo bem até que consiga ver isso em alguém ou algo que desperte a sua admiração. Até ter uma prova de que tá tudo bem e que pode ser incrível. E os filmes,séries, livros etc etc, tem esse poder.

    "a magia da representatividade faz a pessoa ver a si mesma e perceber que pode existir. " Não só que pode, eu acho, mas que a existência dela é e pode ser maravilhosa para ela e pros outros.

    A metáfora do espelho foi ótima. Ainda tá dizendo do narcisismo de alguns de apenas querer ver a si mesmo ali, como se a existência do outro fosse anular a dele.

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    1. Vou colocar aqui o quote que tá ali na parte de baixo do blog (que provavelmente vai mudar, então é excelente salvar aqui): “As garotas precisam de modelos, só assim podem imaginar-se em qualquer carreira. Você não pode ser o que não pode ver. ”

      Basicamente: Você pode ser o que você não pode ver.

      John Green tem uma afirmação parecida que é algo tipo "se você não imagina nada acontece" (e cidades de papel é um livro muito sobre isso). E basicamente tem todo um pensamento de semiótica que anda por aí.

      A representatividade abre muito nosso caminho nesse sentido. Lembrar que existe. Que é possível. Como pode existir. O que é. A partir daí a gente cria em cima disso e faz do nosso próprio jeito. Mas uma referência é muito importante.

      Adorei muito seu comentário <3

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