clube de escrita criar personagens

Clube de Escrita: Tem algum manual de construir histórias?

15.4.15Dana Martins



Meu amigo perguntou:
"Você tem algum tipo de manual ou algo assim sobre construir histórias? História de uma forma geral. Contos, livros, etc. Quero escrever meu ~livro~ porém to sofrendo muito. Dicas desde construir meus personagens (como achar nome, personalidade, físico..) até construir as cenas e ligar umas as outras."

Eu diria que a resposta é: você faz como você quiser. Não tem regra o.õ Sério, não tem regra nenhuma. Se você quiser fazer um personagem superficial porque tá com vontade, faça. Aliás, um monte de histórias têm personagens mal construídos. E há mil opções para ligar cenas e tal. Eu acho muito importante lembrar que essa é a sua história e você tem o direito de fazer o que bem entender mesmo que pareça uma merda.



Dito isso, essa é a única resposta que eu posso dar no momento:

Eu acho legal você pensar sobre o que você quer contar na sua história e se como você tá colocando reflete isso da melhor maneira que você pode fazer. (dica: tenta resumir a história em uma frase da forma mais direta possível, também usar o texto sobre conceito do personagem pra pensar no conceito da sua história. é legal ter isso por perto como guia e âncora) e, no meio disso, pensar em quem são os seus personagens, o que eles querem, quem eles são, os medos deles e defeitos (o que o seu personagem quer? o que tá impedindo ele de conseguir isso?). Todo personagem tem isso, vale lembrar. 

Aqui tem um post que eu brinco com a fórmula John Green e você pode ver como ele usa praticamente o mesmo modelo em todas as histórias. 

Então a partir de definido sobre o que você quer falar, dá pra desenvolver o arco do tema (o desenvolvimento da história) e o arco dos personagens (o desenvolvimento deles dentro da história, o que eles mudam? o que o tema principal influencia neles?)

E... acho que é basicamente tudo o que você precisa. É legal fazer um guia do desenvolvimento dos pontos principais ao longo da história.


- Fulano vive normal caçando peixes
- Chegam pescadores com varas mais eficazes e dominam a área de pesca
- Fulano sofre com as consequências por não poder caçar peixes
- Fulano decide que precisa arranjar uma forma de superar os pescadores
- Ele cria um plano pra atingir os pescadores, mas dá errado e polui matando todos os peixes do lago
 - Fulano é preso
 - Ele descobre como recuperar o lago e pede ajuda aos amigos pra fugir da cadeia
- Ele recupera o lago enquanto a polícia vai atrás dele e confusões
- Salva o dia, ganha a liberdade e se junta aos pescadores, percebendo que sua caça de peixes era arcaica e ele tava sendo conservador, e que ganha muito mais se unindo aos novos
- Fulano vive normal pescando peixes


Depois é só ir escrevendo de ponto em ponto. 

Eu sei que essa não é a melhor ajuda, mas não existe uma regra padrão geral pra história. Só nesse tempinho escrevendo esse texto eu pensei: e se a sua história for uma fantasia com vários personagens protagonistas vivendo a própria vida? e se for uma ficção científica onde o mundo é o principal? E se for um YA contemporâneo voltado pra o desenvolvimento de um personagem? E se a trama não for o principal, mas a exposição de pensamentos de vários personagens sobre um caso? Cada opção dessa segue por um caminho diferente. 

Até o objetivo com que a gente escreve muda! Tem gente que escreve porque quer mandar uma mensagem pra o mundo, tem gente escrevendo porque quer viver em um mundo diferente. Então eu não posso dizer que existe um jeito padrão, porque o jeito talvez seja entender por que você quer escrever e como realizar isso de forma que outras pessoas entendam (se for o objetivo). 

Mas acho que de todas as opções, há uma verdade acima de todas: se escreve um livro escrevendo.



Você pode estudar estrutura, construção de personagem e desenvolvimento de mundos, mas você só vai aprender fazendo. Você pode pegar uma história com desenvolvimento ruim e melhorar a estrutura, ou um personagem unidimensional e dar mais facetas, mas fica realmente complicado fazer algo sem... realmente fazer. 

Talvez a dificuldade não seja em algo na história, mas em não ter história escrita.

Tudo bem, divaguei aqui um pouco. Mas acho que no momento é isso que eu posso dizer. Quero no futuro talvez reunir links mais informativos com básicos de criação disso e daquilo, quem sabe? Se você ainda acha que precisa de um caminho pra seguir, talvez dar uma olhada no livro "Story" do Robert McKee, que eu nunca li (HAUHAUHA), mas parece falar de analisar a construção de histórias (roteiros, mas também serve pra livro).

PARA TUDO, lembrei que já tinha um link (em inglês) com o básico de tudo, aqui:


E aqui alguns links mais sobre estrutura:


Fora isso, em termos de estrutura, eu indicaria pesquisar sobre:
  • 7 point system (só pra reforçar)
  • Jornada do Herói
  • Método Snowflake


Obs: Sobre ligar cena, depende muito. Mas eu indico 1) Lembrar que independente de como você conte a sua história, existe uma linha do tempo real dos fatos. O que vem depois? 2) Pegue livros e veja como os autores fazem essa transição. 

Além disso, tem o grupo do Clube de Escrita no facebook que você pode pedir ajuda ou mandar uma dúvida específica na ask do meu tumblr.

-dana martins




TAGS: , , , , , ,

MAIS CONVERSAS QUE VOCÊ VAI GOSTAR

7 comentários

  1. Bem, eu posso citar meus heróis de escrita. OK, eu não escrevo ficção. Mas são uma mão na roda quando eu preciso de luz.
    * Faça boa arte, Neil Gaiman (ok, eu indicaria qualquer coisa, tipo, QUALQUER COISA MESMO que o Gaiman escrever). Nesse caso, em especial, é um livro que te livra da obrigação de ser bom. Você só precisa ser melhor. Melhor que ontem, melhor que seu fracasso, melhor que seu limite. Melhor do que foi, para fazer uma arte melhor.
    * A arte de pedir, Amanda Palmer. Eu gosto muito quando os escritores falam da sua vida, e fazem parecer que sim, nós podemos ser como eles. Nesse caso, a Amanda Palmer eleva o nível da conversa.
    * Sobre a escrita, do Stephen King. Acabou de ser lançado, nem peguei o meu em mãos ainda. Mas o que li sobre a obra me convenceu que esse livro vai me ajudar - e muito.

    Claro, uma nota importante. Eu cito três livros, de três autores que estão intimamente ligados uns aos outros, o que limita a ação efetiva para alguém que não goste dos seus estilos. Eu, particularmente, leio os três devido a um - Gaiman. Ele me levou aos demais.

    Gente, e como pude esquecer? Tem outro livro SUPER inspirador, que não está ligado (milagrosamente) ao meu fanatismo carinhoso pelo Gaiman.
    * Roube como um artista, Austin Kleon. Esse me foi recomendado por uma artista plástica que eu sou fã, a Amanda Mol (vale a pena usar o Google, gente).

    É isso, minhas referências, meu mundo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Emanuel!!! Eu adoro livros assim também e acho que eles me ajudam mais do que livros sobre estrutura. Tipo, eles me inspiram e me fazem ir em frente, me dão força pra lidar com o meu caos de escrita e continuar buscando formas de melhorar. Acho que o meu amigo quis dicas práticas - tipo o 7 point system que você praticamente cria uma ficha pra colocar os pontos da história. Mas sabe de uma coisa? Faz um tempo que to querendo falar de livros assim.
      A Arte de Pedir eu já to aqui pra ler, Faça boa arte é maravilhoso *sai distribuindo*
      Esse do Stephen King eu não sei ainda, mas... qual a relação dele com o Gaiman? o.õ

      Roube como um artista já li também!

      Acrescento à sua lista: The War of Art (não confundir com The Art of War HUAHUAH), que é basicamente o livro que me ensinou que eu posso escrever. Agora eu to lendo um diferente chamado "The Writer's Block", ele não é pra ter uma leitura linear, mas só a introdução já foi muito inspiradora. E também to lendo (pra que ler um livro só, né?) The Creative Habit que é de uma coreógrafa famosa, mas ela mostra como a criatividade pode ser um hábito e já tem me ajudado muito. Aliás, acho que é uma ótima indicação mesmo pra o seu caso que não é ficção.

      E muito obrigada por dividir e comentar aqui. Eu não tinha visto o seu comentário, desculpa :( Você pode vir puxar a minha orelha no twitter @danagrint e obrigada por fazer isso no do CC!

      Excluir
    2. Oi Dana! Que bom que você respondeu!
      Vamos lá. Eu tô numa ascendente criativa em que o livro do Stephen King é o ápice. Comecei com Faça Boa Arte, fui para Roube como um Artista, voltei para a linha de raciocínio com A Arte de Pedir e agora tenho esse livraço de cabeceira Sobre a Escrita. Pra você que encara o NaNoWriMo, é quase leitura obrigatória. Sério. SUPER inspirador.
      Se eu, que não escrevo ficção, achei uma lufada de ar puro, pra ti será furacão de ideias!
      Falando dos sete pontos, e pans, tem um projeto colaborativo - do qual faço parte - "Sete Coisas que Aprendi" [http://www.escribaencapuzado.com.br/ebook-7-coisas-que-aprendi/]. Foi fundamental ler outros autores e, quando eu escrevi, fiquei super inspirado. Sabe quando você tá jogando um jogo longo e acha o save point? Então. Eu tô escrevendo há anos e esse texto foi meu save point.
      Puxa vida, tenho um problema em relação às suas indicações...
      Eu não leio bem em inglês #shameonme
      Mas vou procurar mesmo assim! Desafio novo!
      Beijão, espero que continuemos conversando!

      Excluir
    3. Vou procurar o livro, muito obrigada por me falar, porque eu provavelmente não iria ler se não fosse isso.

      E olha, não saber ler em inglês não é vergonha nenhuma. O The War of Art já foi lançado em português, mas esgotou em tudo quanto é canto, A Guerra da Arte. Fui dar uma pesquisada outra vez (vai que...) e tem ele em pdf aqui:
      http://9dadesasolta.com/download-de-livros/

      O outro só em inglês mesmo.

      Excluir
    4. Baixando em 321NOW!
      AMEI o blog, inclusive. Tô estudando design (por gosto) e fiquei encantado.
      Muito obrigado!

      Excluir
  2. ATUALIZAÇÃO: acabo nesse instante de ler o livro e vim correndo te contar. Stephen King me levou às lágrimas. Várias vezes. E eu acho que esses livros que fazem a gente chorar sem querer são tipo, a inspiração que falta, a vontade que sobra pra escrever.
    Tá no meu TOP 5 (assim mesmo, caixa alta). Ele se desnudou naquele livro. E é tipo um convite para quem escreve não ficção fazer o mesmo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. eu não consigo nem imaginar o que tem nesse livro pra isso o.õ mas ao mesmo tempo: agora eu to com um pé atrás de ler, porque não to podendo ter pesadelo não. essa noite mesmo já matei uns zumbis dormindo e não preciso de incentivo (??) (isso depois que você falou no twitter) (eu não achei a sua resposta pra responder)

      Excluir

Posts Populares