bissexual Carmilla

Os atropelamentos da representação LGBT+

2.3.15ConversaCult


Hoje eu vou falar de um problema específico da representatividade LGBT+: o momento que uma representação atropela outra. A verdade é que a variedade de representação não existe. Quando a gente tem um personagem LGBT+ é AQUELE e é tipo um troféu que a gente tem que pegar e proteger, porque não temos essa sorte todo dia. O que isso significa? Que não importa qual representação estejam fazendo, vai ser insuficiente.

Pera, vamos desacelerar.

Esse monte de letras na sigla LGBT+ não é à toa, ainda mais se você tentar usar uma versão mais completa tipo LGBTQIAP+, que ainda assim inclui o "+", porque há muita gente que precisa ser representada. Eles se juntam sob essa bandeira para fortalecer, mas isso não significa que a luta de todos é a mesma. Cada grupo em particular tem uma luta própria que merece atenção. Aí que começa o problema: Às vezes as lutas se atropelam.

Exemplo bem simples: todo representação homossexual é uma oportunidade perdida de representação Assexual. Imagina aquele personagem que passou a história inteira sem expressar atração e aí no final é revelado que ele só não tinha se entendido como homossexual. fuen fuen. e ao mesmo YAY. MAIS UM.



Homossexual, bissexual, pansexual e questioning são outras lutas que se confundem. No caso de um personagem que é mostrado se entendendo sexualmente, por exemplo. Isso é uma representação importante, só que ao tentar desenvolver essa jornada para um personagem, você está deixando de afirmar uma sexualidade. Mais do que isso, esse tipo de representatividade tem o histórico problemático de definir LGBT+ como "uma fase", "era só diversão" e desvalidar a existência.

Por exemplo, o personagem bissexual sempre acaba nessas confusões, adoram usar como desculpa pra uma representatividade de última hora "ela sempre teve esse namorado, mas agora que terminaram precisamos arranjar outra forma de fazer essa personagem interessante." Se bobear, os bissexuais são os mais presentes nas histórias (porque adoram reciclar personagem), mas a representatividade válida é mínima. Eles não se afirmam como bissexuais. Não tem conversa sobre o fato de que eles se sentem atraídos pelos dois sexos. Há até quem diga que eles não existem. Porque, é claro, ela só pode ter virado lésbica.


E, só pra constar, não é que um garoto que teve um relacionamento hétero não possa escolher se identificar como homossexual. Epa. Tá vendo outro momento em que a representatividade pode se atropelar? O personagem bissexual e o personagem que teve um comportamento sexual diferente da identidade sexual são duas histórias importantes, mas ao contar uma, você não estará contando a outra (a não ser que você tenha 2 personagens, é claro). 

Ou você pode fazer 5 personagens. Por que só um ou dois? Assista Carmilla

Aliás, a cada vez que um personagem se afirma bissexual, um pansexual morre. -n

"Mas se for pensar assim, Dana, todo personagem está anulando uma chance de representatividade. A partir do momento que ele é definido*, todas as outras possibilidades de representação são perdidas"

Sim, mas em alguns casos isso se torna prejudicial.

Eu acho importante discutir isso aqui por 2 motivos. O primeiro é alertar para a diversidade na representação, vamos parar com essa guerra fria de homo vs. hétero. (Lembrando que ainda precisamos de mais representatividade homossexual, as pessoas ainda não se tocaram que eles são pessoas e podem ter histórias que não se resume à sexualidade). O segundo motivo é que volta e meia eu vejo uma história levar pedrada por escolher uma forma de representação LGBT+, às vezes até quando tá fazendo um bom trabalho. Isso é especialmente problemático porque quebra a divulgação e o incentivo a irem mais longe. Não, não devemos ficar calados, divulguem textos, ideias, dicas sobre como pode ser melhor, mas distribuir ódio na internet porque a representação não é da letra que você quer não é bom pra ninguém, além de causar briga entre pessoas unidas sob a mesma bandeira.

*a sexualidade do personagem é definida, porque é uma criação e mal ou bem o autor escolhe isso (mas às vezes, personagens têm vontade própria). agora, se na realidade, você consegue escolher pelo que se sente atraído... 






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3 comentários

  1. Legal seu ponto de vista, claro que todos precisam de espaço e de representatividade, mas ainda acho um avanço quando o homossexual é representado, já que ninguém espanca ninguém por ser assexual, as pessoas ignorantes vão contra a qualquer um (seja bi, seja pan, seja homo) que esteja com pessoas do mesmo sexo, porque isso é considerado "safadeza".

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    1. ninguém espanca, mas porque muita gente nem acredita que isso existe, não duvido nem que muitos assexuais nem saibam que são. e aí rola outros problemas, tipo se forçar a fazer sexo sem querer, ou a exclusão porque o mundo age como se todo mundo gostasse e tivesse muita vontade de fazer sexo. ou outros, que só um assexual pode te dizer. (aliás, assexual pode se apaixonar e querer casar, e se fizer isso com alguém que se sente atraído sexualmente? como funciona?) então é uma representatividade importante.

      mas entendi e é extremamente importante ainda o homossexual. até porque quanto mais, mais temos chances de ver diversidade e ver que não existe um tipo de pessoa homossexual e que elas são pessoas independente pelo gênero que elas se sintam atraídas.

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  2. Acho que toda boa representação é válida e útil, até o momento em que a gente não mais se importar com a orientação sexual dos personagens. E, nesse ponto em que estamos, é meio sem noção criticar uma história que representou X e não Y, em termos de orientação sexual, só por esse motivo.

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