Batman vs Superman Brian Azzarello

Guia de Quadrinhos: Mulher Maravilha (Os Novos 52)

14.5.14João Pedro Gomes


Ok, crianças, vamos ser todos sinceros aqui: quem já leu (ou se interessou em ler) alguma coisa da Mulher Maravilha? Não precisa mentir. Sério. Na verdade, um grande e sonoro "NÃO" seria o mais esperado como resposta.

Eu sempre admirei, ainda que remotamente, a personagem, mas admito que tudo sobre ela parece afastar os leitores: a pessoa usa maiô cheio de estrelinhas, bota (e o cabelo solto de prancha), é princesa de uma ilha paraíso (?) e tem um laço como "arma"... Até o nome dela passa uma imagem ruim. Quem coloca "Maravilha" no meio do nome? É o mesmo que implorar pra não ser levada a sério (Mara Maravilha, te amamos!!!!).

Mas mesmo com tanto motivo pra desacreditar, eu resolvi dar uma chance pra moça. Ok, o motivo não foi dos mais nobres (eu só queria ver mais disso. A perfeição em forma de imagem, gente), começar a ler essa HQ foi uma das melhores coisas que eu fiz enquanto leitor de quadrinhos. A versão dos novos 52 da Mulher Maravilha me fez não só ver a personagem de uma forma totalmente diferente, mas descobrir como sua figura é importante dentro dos quadrinhos e da cultura pop em geral. Não faz ideia de como isso possa ter acontecido? Continue lendo que aqui embaixo eu explico tudinho. Além, é claro, de indicar uma história incrível (:

>> Ficha Técnica
Título: "Mulher Maravilha" (Wonder Woman)
Data de lançamento nos Estados Unidos: Setembro/ 2011
Data de lançamento no Brasil: Junho / 2013
Roteiro: Brian Azzarello
Arte: Cliff Chiang
Periodicidade: mensal
Situação: fase em encerramento (edição #33 de #36)
Editora: DC Comics
Comprar: Encadernados em inglês (com seis edições em cada): 1-6 | 7-12 | 13-17 | 19-23 | 24-29 | Também publicada no Brasil pela revista Universo DC, disponível no site da editora panini.
Classificação:



>> Como era antes do lançamento?
A Mulher Maravilha já não vendia bem há muuuito tempo. O que não é nenhuma surpresa, né? Fizeram tanta reinvenção na coitada (transformando-a em guerreira, deusa do Olimpo, justiceira urbana, agente secreta, estilista...) que dá a impressão de que ninguém sabe direito o que fazer quando assume o desafio de escrever suas histórias.

Assim, após uma saga fail que vendia menos a cada edição, os novos 52 foi uma oportunidade perfeita para mudar isso.

>> E essa HQ aí é sobre o quê?
Leave the baby alone!!!!!11
Zeus desaparece misteriosamente e começa uma disputa entre os deuses para decidir quem ocupará seu lugar no trono. Paralelamente, circula a profecia de que um de seus filhos está destinado a tomar esse cargo e causar a queda do Olimpo. Para evitar tal tragédia, os outros deuses iniciam um intenso período de caça, buscando no mundo mortal qualquer filho bastardo do deus trovão.

Após anos longe de sua terra natal, Themyscira, a Mulher Maravilha - que prefere ser chamada por seu nome real, Diana - acorda com o surgimento da jovem Zola em seu apartamento londrino. Perseguida por deuses e monstros, ela clama por ajuda. Está grávida de Zeus.

É claro que Diana, embaixadora da paz e defensora dos oprimidos, acabaria assumindo a responsabilidade de protegê-la. Mas para que isso seja possível, ela precisará se envolver mais do que nunca com suas crenças e origens. E se, durante esse período, acabar descobrindo que ela não é quem sempre pensou ser e que toda sua vida fora uma mentira? Além do fardo que trazem as respostas, Diana, antes uma simples guarda-costas, acaba se tornando a maior das vítimas nesse perigoso jogo de poder dos deuses.

>> Por que eu deveria ler?
Uma das formas que encontraram para trazer de volta parte da glória da Mulher Maravilha foi explorar ao máximo suas origens. Afinal, ela está totalmente ligada à mitologia grega, e mesmo isso sempre estando presente em suas histórias, dificilmente foi algo que recebeu tanto destaque quanto agora. Aqui, dezenas de personagens, criaturas e tradições mitológicas são exploradas. Isso é bem presente nas cenas de Diana na ilha das amazonas, onde podemos ver todo um conjunto de costumes que ilustram muito bem o que imaginamos ser a Grécia Antiga.

Isso é interessante porque fez com que o autor adaptasse totalmente a mitologia para os dias atuais, mas sem alterar sua essência, bem no estilo Percy Jackson mesmo. Essas adaptações incluem a personalidade de alguns deuses, sua presença e influência no mundo mortal... O próprio monte Olimpo acabou se tornando um prédio de luxo. Genial, gente.

A arte de Cliff Chiang se encaixou perfeitamente no estilo moderno que quiseram dar à revista. Observem: tem até piscina, churrasco e pinheirinhos!!!!
Também é bom ver que a HQ foge um pouco dos padrões na temática e no tratamento que dá às relações entre personagens. Mesmo sem analisar muito a fundo, você percebe que toda a confusão com os deuses, o bebê, Zola e a Mulher Maravilha acabam se tornando, depois de algumas edições, algo bem parecido com os dramas de uma daquelas famílias grandes e problemáticas. Traições, filhos indesejados, vingança, porradaria... Imagina uma versão legal da novela das nove, que envolve mitologia (que quem conhece sabe que era cheia dessas tretas) e super-heróis. Isso resume mais ou menos o espírito dessa HQ.

Ah, e esse volume da Mulher Maravilha é parte dos novos 52. Isso significa que participou do reboot da DC, ou seja, que você não precisa ter lido absolutamente nada pra entender. Pode confiar, experiência própria (:

>> Mas nada é perfeito, deve ter algo de podre aí...
O maior motivo das críticas que os fãs fazem pra essa HQ é à própria Mulher-Maravilha. Diana sempre foi conhecida por ser uma heroína nobre, gentil, que preza por paz e justiça acima de tudo. Mas essa imagem da heroína é totalmente deturpada aqui: xingamentos de baixo calão, brutalidade e agressividade desnecessária são coisas comuns nessa nova versão.

"Bitch"???????
Isso seria "normal" se não destruísse completamente a essência da personagem. A Mulher-Maravilha foi a primeira super-heroína dos quadrinhos; a primeira a inverter os papéis e não ser mais uma mocinha em perigo; a primeira a não abaixar a cabeça para a desigualdade de gêneros e a conquistar seu merecido espaço num mundo completamente machista. Ela é, simplesmente, um dos maiores símbolos do feminismo  que a ficção já viu. Sujeitá-la ao padrão de mulher que grande parte dos homens querem ler (a guerreira seminua louca por sangue), não importa o que isso signifique economicamente, é o mesmo que jogar fora tudo aquilo que a personagem representou por décadas e mais décadas de história. As garotas (e garotos, por que não?) que cresceram inspirados pela personagem não merecem isso. De verdade.

>> Resumindo: vale ou não a pena?


Acho que pode valer ou não. A Mulher Maravilha dos novos 52, embora um ótimo ponto de partida para novos leitores, perde boa parte da qualidade ao fazer uma representação ruim - e até desrespeitosa - da heroína. Se você quiser conhecer melhor a personagem, seus ideais e sua a importância, fuja dessa HQ. Superman/Wonder Woman ainda é infinitamente melhor nesse aspecto (essa, aliás, é minha HQ favorita atualmente. Clique aqui para saber mais!).

Mas é injusto desmerecer toda a parte boa do trabalho por causa disso, né? Continuo recomendando avidamente esse título para todos que procuram uma aventura épica, que combina o que a mitologia e a modernidade tem de melhor a oferecer. No final das contas, essa mistura fica tão boa que, deixando o lado crítico um pouquinho de lado, proporciona uma leitura pra lá de divertida.

O importante é que, seja através dessa HQ ou de outra qualquer, a Mulher Maravilha é uma personagem incrível e que merece uma chance de ser lida por você. Aproveite que ela vai estar no novo filme do Superman e da Liga da Justiça e comece a ler alguma coisa dela para entrar no clima! Talvez homens-morcego e alienígenas já tenham salvo o mundo vezes demais.

Até a próxima! 
- João Pedro Gomes

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3 comentários

  1. Concordo que SUPERMAN/WONDER-WOMAN é bem melhor, melhor desenhada inclusive, e a personalidade da Diana na revista Superman/Wonder-Woman é bem diferente mesmo, mas a Mulher-Maravilha da revista League of Justice tem uma personalidade distinta tanto da versão de WONDER-WOMAN quanto da versão de SUPERMAN/WONDER-WOMAN, como se fosse uma terceira pessoa! (Mas também se passa em um terceiro momento cronológico, se supõe que ela evoluiu com o passar do tempo)

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    Respostas
    1. É bem isso mesmo. Muito irritante acompanhar as três revistas e parecer que são tres mulheres diferentes com a mesma roupa (tanto que eu até já larguei a HQ da Liga da Justiça. Muito "guerreira sem cérebro" pra mim. Mas a teoria sobre momentos cronológicos faz bastante sentido).

      E eu sou totalmente parcial pra falar da arte do Tony Daniel em SM/WW! Em toda revista tem um quadro que dá vontade de imprimir e colar na parede do quarto, HAHAHAH (aliás, acho que vou fazer isso). E o roteiro também é incrível! Espero que façam algo parecido com a Mulher Maravilha do Charles Soule nos cinemas. Sinceramente, estou com muito medo de estragarem a personagem usando uma das outras... Enfim, é esperar pra ver.

      Obrigado pelo comentário o/
      Abraços, João.

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  2. Aprendi a ler nos anos 70, com cinco anos de idade. em uma revista da Antiga Ebal. Com dois lados. A revista se chamava SUPERPODEROSAS - de um lado Poderosa Isis, do outro Mulher Maravilha. Nunca esqueço. Lia e relia várias vezes sob as sombras de um pé de abacate. E o medo de cair um abacate na cabeça sempre vinha junto. Para poder vender mais, ir nas ondas, que vem e vão, deturparam vários Gibis, sim, antes ninguém chamava de HQ, eram chamados de Gibis, se alguém me provar o contrário eu aceito. Mas tem que tirar foto de algum livro antigo, dos anos 70, e me enviar. Então como dizia, para entrar no mercado, adaptaram, mudaram, criaram, fizeram o sete, e acabaram por estragar vários heróis da época de ouro. Que o diga o Capitão América, a própria Mulher Maravilha. Enfim, o Superman morreu, O batman ficou paranóico, O Hulk virou cinza, O homem aranha agora é negro, O thor usou armadura. Se eu ficasse congelado e acordasse 20 anos depois pensaria que estava em outro mundo, um mundo paralelo.
    Abraços.

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