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Estante Nacional #9: Cláudia Lemes

22.8.18Taiany Araujo


O Estante Nacional de hoje é mais que especial, pois estamos com ninguém menos que a rainha dos thrillers. Com livros capazes de amedrontar os leitores mais aficionados desse gênero, Cláudia Lemes quebra os esteriótipos e nos apresenta histórias assustadoras de tão reais. Esse talvez seja o segredo dos seus livros: eles não partem apenas da imaginação da sua criadora, são antes disso, frutos de um estudo constante sobre perfis de assassinos famosos, sexologia e psicologia forense, psicologia social e investigação. Quem espera enredos romantizados como estamos acostumados a ver em seriados vai se surpreender, a autora não tenta embelezar nada.

Segundo ela, se sentir segura para escrever algo demorou, foram 10 anos lendo sobre serial killers e investigação criminal até se sentir pronta para escrever Eu Vejo Kate sem enganar os leitores, mesmo que tenha sido uma leitora compulsiva desde os 7 anos. Suas preferencias incluem: noir, terror, clássicos e suspense. Mas de forma geral, se é livro, ela está lendo. Entre aqueles que figuram o topo da lista estão: As Cinzas de Angela, O Grande Gatsby, e As Brumas de Avalon.

Diferente do que se imagina, thriller não é um gênero específico de livros, mas sim qualquer história que proporciona emoções e curiosidade no leitor de forma tal que ele se sinta preso a trama. A própria Claúdia desmistifica isso: "É um equívoco comum associar thriller ao romance policial. Para editores americanos, thriller é qualquer livro que gera emoções tão fortes no leitor (em especial a tensão) que ele não quer parar de ler. Há diversos tipos de thrillers, desde os de aventura, ação, tecnológicos, de tribunal, psicológicos até os de terror. "

Nascida em Santos (SP), Cláudia morou no Rio de Janeiro, na Califórnia e no Cairo, além de ter tido a oportunidade de conhecer dezenas de países em quatro continentes, e foi essa vida cheia de aventuras, a responsável por seu fascínio pela história, mente e comportamento humano. De volta ao Brasil, a autora vive na sua cidade natal com o marido e os 3 filhos: dois meninos e uma menina. Além de escritora, ela é professora, tradutora e intérprete. E como se isso não fosse o suficiente, ainda transformou seus estudos e conhecimentos em serial killers numa diversão comandando o canal Serial Chicks com sua amiga e psicanalista, Paula Febbe. E é presidente da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror.

Assim como muitos de nós, Claúdia ama gatos e aceitou participar dessa entrevista que AMEI conduzir.

1-Como e quando você começou a escrever?

Eu comecei a escrever histórias próprias aos 13 anos, em cadernos, e minhas amigas eram minhas leitoras. O primeiro livro que escrevi com estrutura de romance foi aos 19.

2-Quais os livros que você já escreveu? Comente um pouco sobre eles com a gente.

Escrevi mais de dez livros, mas prefiro falar apenas daqueles que o leitor pode comprar e ler, caso se interesse. O primeiro foi Eu Vejo Kate, que publiquei como autora independente e depois pela Editora Empíreo, que é um thriller de investigação sobre serial killers. É um livro muito querido pelo público, que esgotou sua primeira tiragem e ano que vem provavelmente vai ganhar uma segunda edição. Foi elogiado pela expert em assassinos em série, Ilana Casoy. Depois disso publiquei também pela Empíreo Um Martini com o Diabo, um romance policial noir sobre máfia, também muito elogiado. Ano passado lancei pela Lendari meu primeiro livro de não ficção, Santa Adrenalina: Um Guia para quem quer Escrever Thrillers, e agora estou voltando à publicação independente com o thriller Inferno no Ártico, cuja pré-venda chegou a 121% da meta de venda, e que será lançado no começo de Setembro deste ano.

3-Você possui alguma rotina pra escrever?

Eu gostaria muito de ter uma rotina, mas minha vida é muito corrida, com trabalho, três filhos, casa, e trabalhos como presidir a Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, e leitura crítica, tradução e os cursos que eu dou. Estou me organizando para em breve conseguir mais tempo para a escrita.

4-Quando você resolveu publicar um livro seu? Quais foram as dificuldades que encontrou? 

Resolvi autopublicar em 2014. As dificuldades foram de alcançar um público além do meu círculo de amizades. Para isso fiz parcerias com blogs e peguei pesado na divulgação do livro e foi graças a esse trabalho que a Editora Empíreo se interessou e decidiu apostar na publicação do livro. Pensando nas dificuldades do autor iniciante foi que criei a associação, ABERST, que em seu primeiro ano já conta com mais de 80 associados.

5-Como você definiria seus livros pra quem nunca leu?

Meus livros são thrillers com muita investigação. São livros para adultos, com boa dose de violência, sexo, e exploração cruel da psicologia das personagens. Adoro ambientações exóticas, surpresas e plot twists. 

6-Como foi o processo de definir a sua identidade no meio literário? 

Foi difícil perceber que eu poderia ser eu mesma e caminhar como eu mesma e não como eu achava que os leitores e editoras gostariam que eu fosse. Quatro anos de agregar leitores e aperfeiçoar minha escrita não me deram tantos frutos quanto quando eu decidi peitar o sistema atual e encarar uma publicação independente do meu jeito. Quando comecei a mostrar mais de mim foi quando as pessoas realmente pararam para prestar atenção. Mas não adianta só fazer marketing: sua escrita tem que falar por você, tem que ser competente. 

7-Dentre suas histórias, qual sua favorita? Porquê?

Socorro, não consigo responder ahahahaha. Seria como escolher um filho entre os demais. Eu sinceramente acho que a obra mais recente, Inferno no Ártico, conseguiu unir o clima pesado de Eu Vejo Kate com a maturidade da escrita vista em Um Martini com o Diabo. Talvez seja minha melhor obra até hoje, mas não sei se a chamaria de favorita.


8-Quais suas inspirações?

James Ellroy, Stephen King, Kurt Vonnegut, Anne Rice, Karin Slaughter e Roald Dahl.

9-Um autor nacional que você acha que todos deveriam ler?

Acho que no horror/terror temos o Oscar Nestarez, que é muito bom, assim como o Everaldo Rodrigues, que está se destacando agora. No suspense e policial eu indico mulheres: Soraya Abuchaim, Paula Febbe e Renata Maggessi.

10-Qual a maior dificuldade do mercado editorial brasileiro?

O mercado está passando por mudanças drásticas agora. A maior dificuldade ainda é publicar de forma tradicional por uma grande editora, sem perder seu estilo e identidade nesse processo. Hoje o autor precisa ter um público grande de leitores para conseguir que uma editora invista nele. Mas elas não são o inimigo: as editoras muitas vezes querem investir em nacionais e não podem, pela forma como o mercado é. As livrarias ficam com mais da metade do valor de capa de um livro. As distribuidoras pegam boa parte. Para a editora, que corre todo o risco e faz todo o investimento, sobram poucas opções. Por isso é importante que os leitores sejam fiéis aos autores que gostam, e claro, que a pirataria seja combatida. Caso contrário, não tem como o mercado editorial nacional melhorar.

11- Qual a importância de uma agente literário para quem quer publicar seus livros por editora?

Hoje em dia os agentes são muito importantes. E em breve acredito que serão a única ponte entre autor e editora, como é nos EUA. É preciso pesquisar bem antes, ver como é a postura da agência, etc. Mas é um caminho mais acertado para quem quer se profissionalizar como autor.

12-Uma lembrança querida da carreira?

Acho que a primeira Bienal como autora foi especial. Era meu aniversário, autografei livros literalmente o dia inteiro, conheci muitos colegas autores e leitores e pude ver os exemplares do meu livro desaparecerem das prateleiras. tenho muitas lembranças boas, mas essa foi especial.

13- Quais seus projetos para o futuro?

Ano que vem eu provavelmente lanço mais um thriller, embora ainda não tenha decidido qual, já que tenho dois livros prontos. E neste ano ainda sai a segunda edição de Santa Adrenalina e mais um trabalho de não-ficção. Meus contos poderão ser encontrados nas antologias lançadas neste ano: Narrativas do Medo 2, Creepy Pastas, Quando a Noite Cai, e mais duas com lançamento no segundo semestre.

***
De acordo com o Skoob Cláudia Lemos tem 12 livros publicados, mas aqui vamos deixar o link dos que ela mandou pra gente:


Kate é uma escritora imersa na produção da biografia do assassino em série Nathan Bardel. Enquanto ela mergulha de cabeça na sombria vida do serial killer, ele próprio passa a acompanhá-la vivenciando as experiências conturbadas de sua biógrafa. À medida que se aprofunda nos mistérios de Bardel, Kate desperta outro assassino. Ela não sabe, mas sua vida corre perigo.


O jovem Charlie Walsh está em Las Vegas, não para tentar a sorte, e sim para matar seu pai, o chefe da máfia italiana, Tony Conicci. O plano era infiltrar-se no restrito grupo de confiança da família Conicci e se aproximar do chefão. Mas Las Vegas corrompe. E o desejo de vingança de Charlie é posto em prova quando ele se vê seduzido por amizades, poder, drogas e dinheiro que a máfia oferece. Com o FBI em sua cola, e secretamente apaixonado pela enigmática esposa do pai, ele precisará decidir onde apostar sua lealdade.


Um bom thriller precisa de envolvimento do leitor. Precisa de surpresas, viradas na história, personagens com quem eles podem se identificar, torcer, e admirar. Bons thrillers mantêm a tensão entre uma cena de ação e outra, jogam obstáculos cada vez maiores no caminho do protagonista, apresentam conflitos internos angustiantes. Podem ter cenas de sexo eletrizantes e momentos de puro horror.


Duas escritoras que se conheceram pela internet. O que gostavam era parecido. O que detestavam também. Identificação. Literatura pesada e transgressora. Ser transgressora. Além da semelhança física entre as duas, a admiração pelo que não era fácil de aceitar e engolir na sociedade: A admiração pelos homens errados.(...)E assim nasceu o “Cartas no Corredor da Morte”. Uma novela epistolar. Um experimento criativo, onde arte e literatura se encontram. Algo inovador em um mundo fake. Algo real.



Alguns contos vão parar em antologias, outros ficam na gaveta. Desses últimos, selecionei quatro contos e uma novela que abrangem vários espectros do suspense e terror, desde o mais Hitchcockiano ao puro e manjado estilo slasher. É um trabalho paralelo e sem pretensões, para aqueles que gostam de boas histórias de ninar. Divirtam-se.






Encontrando a Cláudia nas redes sociais:

Facebook: https://www.facebook.com/claudia.s.lemes/



Obs do entrevistador: Não só fiquei extremamente empolgada com essa entrevista como percebi o quão recheada de dicas para escritores que estão começando ou que nunca publicaram. Além disso, gosto muito do fato da Cláudia se dedicar a mostrar o serial killer como ele realmente é: um sádico, com inteligência média, vivendo uma vida comum, sem todos aqueles rituais meticulosos e exagerados que o cinema tenta glamorizar. No fim das costas, isso é muito mais assustador.


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