A Lógica Inexplicável da Minha Vida Benjamin Alire Sáenz

A Lógica Inexplicável da Minha Vida, de Benjamin Alire Sáenz

12.8.17Taiany Araujo


No ano passado eu tive a oportunidade de pedir qualquer livro do catálogo da Companhia das letras, e eis que vejo o título: Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo. Fiquei tão empolgada que nem pensei direito, e também não li direito, pedi acreditando que seria algo relacionado à filosofia só porque tinha o nome Aristóteles na capa. Depois de um tempo, descobri que tinha uma resenha aqui no blog sobre o livro, fui ler e...

NÃO TINHA NADA A VER COM FILOSOFIA (BERRO).

Esse foi meu primeiro romance do Benjamin Alire Sáenz, e mesmo não sendo nada do que eu imaginava, fiquei completamente apaixonada. Eu queria mais, e esse mais veio na forma de “A Lógica Inexplicável da Minha Vida”.

Diferentemente do primeiro livro, esse não me pegou de cara, mas acredito que possa ter mais a ver comigo do que com o livro em si, eu tava com certa dificuldade de parar para ler. O que me ajudou muito nisso foram os capítulos serem curtinhos, teve uns de duas páginas, isso fez com que a leitura fluísse bem e eu podia separar meia hora de leitura e ia ser suficiente. Acabou que, apesar de eu não ter começado o livro querendo lê-lo, terminei com a certeza que os livros do Benjamin sensibilizam e apaixonam, você querendo ou não.

Na contracapa da “A Lógica Inexplicável da Minha Vida” encontramos o seguinte comentário do The New York Times: “Um romance poético e fascinante que explora temas como família, amizade, amor e perda. Com Sal, Sáenz dá a seus leitores um jovem ao mesmo tempo forte, vulnerável, sábio e carinhoso.” Não posso deixar de concordar, incluiria apenas o luto, tema esse que foi explorado de forma tão vasta e com os mais variados comportamentos. Era um luto real, não o que a gente acredita ser o luto lendo em livros, ele não tinha um início e um fim, um prazo onde o acontecimento já se estabilizou, o autor conseguiu mostrar como o luto é de pessoa para pessoa, e como ele pode surgir nos momentos mais inesperados.

Eu li o primeiro livro do Sáenz achando que era sobre filosofia, e esse segundo livro só me confirmou que no fim das contas os dois não são a filosofia que eu imaginava, mas à sua maneira, esse autor consegue envolver seus livros numa áurea filosófica e poética sem perder a simplicidade e sem deixar as coisas rebuscadas e inacessíveis. Durante a leitura eu consegui me identificar com as pessoas, com as experiências e com os sentimentos, e confesso que chorei em algumas passagens, incluindo no final do livro enquanto tentava disfarçar já que tava no hospital esperando ser chamada para minha consulta. Foi difícil não deixar o sentimento rolar solto e controlar meu muco nasal que teimava em escorrer.

Uma coisa que reparei durante a leitura, é que tanto este como Aristóteles e Dante concentram-se fortemente nos temas sobre dor, família, amizade, crescimento e sobre lidar com preconceitos. Longe de tornar repetitivo, o autor consegue passar as experiências vividas por seus personagens adolescentes de forma extremamente realista. Além disso, há tanta angústia em seus dois livros que poderia torna-los pesados demais, no entanto, há um frescor, quase como o dia depois de uma tempestade.

O livro começa com o início do último ano do Salvador Silva na escola , um menino super tranquilo que foi adotado aos três anos de idade por um cara gay. Isso vai ser importante para todo o desenrolar da história. Assim como em Aristóteles e Dante, n’ A Lógica Inexplicável da Minha Vida, temas LGBT+ se fazem presentes de forma simples e natural, no entanto, essa é uma das coisas com as quais os personagens terão que lidar.

Só porque achei a capa lá de fora muito fofa também <3

A história se concentra principalmente nas relações de Salvador (Sally) com as pessoas e com o mundo ao seu redor, mais precisamente, seu relacionamento com seus melhores amigos, Sam e Fito, e com sua família adotiva. O estilo de narração é quase uma narrativa de fluxo de consciência, uma vez que a história é contada pelo ponto de vista de Sally. É interessante notar como a relação familiar e identidade cultural é desenvolvida pelo autor. Apesar de ser adotado, Sally diz que nunca se sentiu dessa forma, e mesmo sendo americano, o fato da família de seu pai terem raízes mexicanas faz com que ele, por consequência, se identifique com essa cultura e se reconheça mexicano. Claro que como um menino branco, ele é afrontado por isso, e me pareceu muito perspicaz do autor trazer essa questão. Somos a cor da nossa pele ou somos a cultura na qual crescemos?  

Um dos conflitos do livro surge de forma inesperada. Com raiva, Sally responde a uma provocação com um soco, isso o faz questionar sobre seu pai biológico, uma vez que agressões físicas não condizem com a maneira com que ele foi criado. Será que essa raiva que ele começou a sentir está no sangue dele? Será que o pai biológico era agressivo e ele também é? Isso é genético? Afinal de contas, seu pai de criação não o ensinou isso, ele não era assim. O que está acontecendo? 

Salvador ainda não percebeu, mas tá passado por uma crise de identidade, no entanto, a vida o está empurrando para frente, não tem como ele parar pra tentar entender o que está acontecendo. Sua melhor amiga, Sam, também estar enfrentando uns perregues, seu amigo Fito passou por uma situação complicada e precisa dele, sua própria família tá vivendo um momento difícil, e seu pai, a pessoa mais forte que ele conhece, talvez precise que alguém o ajude a se manter firme. Além disso tudo, ainda tem a questão da faculdade. Sally preferia quando sua vida era menos complicada, mas não há nada que ele possa fazer a não ser continuar vivendo-a complicada assim mesmo. 

Dentre as coisas que amei na história, o Vicente, pai do Salvador, foi uma delas. Ele é definitivamente uma das minhas figuras de pai favoritas dentre os livros que li. Ele não é permissivo, mas é compreensivo, ele tem suas regras, mas é aberto a conversar sobre. Sinceramente queria que o autor tivesse explorado mais ele, pois as passagens de interação dele com o Sally me deixavam ansiosa por mais. 

Outra coisa que gostei muito sobre o livro é que praticamente não há romance (logo eu falando nisso), pelo menos não no enredo central. Há alusões sobre namoros, e até uma situação tensa referente a isso, além do surgimento de um antigo namorado do Vicente, contudo, esses relacionamentos amorosos não são o ponto chave na história, eles aparecem como complementos e elementos para a criação do cenário. O foco são as amizades, e não amizades que descobrimos posteriormente ser amor romântico, não, aqui o autor expõe o componente extremamente amoroso de uma amizade forte e verdadeira.

Além disso, a história se passa em El Paso, Texas, fazendo com que muitos dos personagens sejam de ascendência mexicana ou mexicano-americana, e a cultura mexicana é tecida ao longo do livro. É gostoso ler um livro que sai do nicho homem-branco-americano.  A diversidade é incorporada na história de maneira natural, o fato de girar em torno de uma família mexicana e apresentar personagens gays não são uma reviravolta, é apenas o que é. Deveria ser assim sempre. 

Em suma, eu gostei muito do livro, e me senti orgulhosa do crescimento de todos os personagens e de como eles enfrentaram suas lutas. Definitivamente é um livro que eu recomendo, e apesar de ter 422 páginas, como falei no início os capítulos são curtinhos e a leitura flui muito bem. Fica a dica.

Se estávamos fazendo os outros gargalharem e sorrirem, talvez fosse parte do modo como os seres humanos demonstravam amor.

Nota:


Ficha Técnica:




- Autor: Benjamin Alire Sáenz

- Editora: Seguinte

- À venda em: Livraria CulturaSubmarinoAmazon






Um obrigada totalmente especial à Companhia das letras por ter enviado esse livro lindo pra gente <3


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4 comentários

  1. EU PRECISO DESSE LIVRO! Essa resenha não só me apresentou o livro como me deixou uma vontade insana de comprar e devorar ele todinho... QUE RESENHA MARAVILHOOOOOSAAAAA <3

    O primeiro livro desse autor, eu li e amei, ainda tem umas coisas que me confundiram no primeiro, talvez um dia eu releia para reviver e ver se finalmente consigo entender o que me confundia. MAS EU AMOOO *-*

    <3 <3 <3

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    Respostas
    1. Aaaaaaa
      Muito obrigada, fico imensamente feliz em saber que você leu e gostou.

      Como assim confundiu? Vamo conversar.

      Eu realmente amei os dois livros e já estou querendo mais.

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  2. Eu também curti muito o primeiro livro, mas acabei de ler um livro meio deprê e não sei se estou pronta pra outro? Mas o autor é tão bacana que a eu fico, será que tento? :)

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