autor brasileiro Bruno Flores

[Resenha] Rumah, Bruno Flores

25.1.16Anônimo


O livro narra o passar do tempo do povo Kitaran. O enredo é retratado em três diferentes partes: a conquista, a decadência e o renascimento. Uma é guiada por Tesé explorando sua ilha, Rumah, e trazendo a tona um passado triste e de destruição. A segunda é levada por Tavo, um pai desesperado pela salvação da filha e estopim da revolução. O terceiro é focado em Wangka, um naufrago navegador que pode acabar se responsabilizando pelo futuro do povo Kitaran. A saga nos traz diversas revelações e emoções, de uma revolução perdida a noites de amor. 

Assim como o livro é dividido em três partes, vou redigir minha crítica em três tópicos/palavras: decepcionante, complexo e surpreendente.

Decepcionante:
Apesar de termos a felicidade de encontrar personagens negros, a decepção vem quando se trata da mulher. No livro a mulher é um "objeto", uma barriga reprodutora e submissa ao homem. A mulher aparece para unicamente satisfazer os desejos morais e sexuais do homem. Os parâmetros de "escolha" de mulher no livro são ter uma família rica e ser virgenzinha. Rica pra dar moral ao marido e virgenzinha pra que todo o fogo que ela venha a ter seja pra satisfaze-lo.

Como se não bastasse durante todo o livro a humilhação da mulher, Rumah ainda divide elas em apenas dois tipos. Uma a puta, extrovertida, feliz demais, reclama demais, bonita demais, esbelta, dançarina, enfim, ""problema"". (SLUTSHAME!!!) A outra é a pacata, sem sal, submissa, não contesta, a criação perfeita para a satisfação do homem.

Sacerdotes, líderes, guerreiros, médicos, desbravadores, trabalhadores, justiceiros, navegadores... todos homens, nem uma só mulher independente e forte. Não consigo pensar o que está mais errado nisso, se é a prepotência de achar que a mulher é só pra ter um buraco pra enfiar ou se é trata-la como uma pessoa sem vontade própria e direito algum.

Pra experimentar o nível do absurdo aí vai uma passagem do livro:




Essa situação me lembra dois casos distintos. A primeira foi uma crítica que li de "Ligações Perigosas", da rede Globo, que dizia mais ou menos assim: justamente por vivemos em um século onde há liberdade de expressão que o autor poderia adaptar essa história antiga. Tendo em vista um problema social vivenciado por nós, traduzi-la pelo olhar da atualidade, crítico e empático. Principalmente porque a obra ganha sentido pelo tempo que é lida. Não importa se retrata uma realidade de 3000 mil anos atrás, a reação ao que está escrito é aqui e agora. O outro caso é nos agradecimentos de "A Culpa É das Estrelas". Lá o John Verde explica que o suposto remédio que auxilia no tratamento de câncer de Hazel é fictício. Por quê? Porque ele gostaria que existisse. Ele transforma algo que em vez de ruim, é algo que dá esperança e é construtivo. Algo que o autor de Rumah poderia ter feito, sem perpetuar estereótipos e preconceitos sociais negativos/destrutivos. 

Complexo:
MI AMIGO, presta atenção nessa sua leitura! Fique atento aos detalhes e aos nomes pra não ficar perdido. Eu tive que caçar certas passagens pra, enfim, entender completamente. Isso não é um ponto negativo, pelo contrário, é muito bom. É mágico ver os detalhes, as realidades e as pessoas todas conectadas no fim. Ao meu ver, apesar do esforço, enriquece a leitura!

Surpreendente:
Assim como Legados de Lorien, Extraordinário e principalmente Morte Súbita (por sinal todas EXCELENTES leituras), nós vemos a história se formar por três gerações diferentes. Seja por primeira ou terceira pessoa, é incrível o poder desse tipo de narrativa enaltecer a leitura. Desvendar os mistérios a partir de outro personagem ou outra perspectiva e, conforme a trama continua, enlaçar todos os segmentos no final é sem igual. É como se fosse intercalados os capítulos de uma trilogia num livro só. O autor me apresentou uma estrutura nova e eu gostei bastante. 

Eu costumo dizer o público que indico, mas, essa eu não indico a ninguém. O descaso com a mulher, ou com qualquer pessoa, por algo involuntário eu realmente repudio. 




Livro: Rumah

AutoraBruno Flores

Editora: Desfecho Romances

Paginas: 232

Comprar: Travessa



Nota:


(2 conversinhas)

Sobre a nota: Minha nota será de 2 conversinhas. Aqui está a resenha que mais me deixou pra baixo. Eu odeio fazer uma critica direta e pesada. É o primeiro livro do autor. Eu queria dar 5 conversinhas! Eu queria, como eu queria! Mas não deu. Eu olhei com muito carinho cada palavra desse post, tentando suavizar porque afinal é um livro muito legal. Eu gostei, me fez me questionar até que ponto uma luta vale a pena, questionar qual a diferença de nós se oprimirmos quem nos oprime. Porém, me incomodou mesmo. Eu levei cerca de 4 meses pra conseguir ler, tendo que reler as primeiras 100 páginas. 


Um muito obrigado a gentil e paciente Oasys Cultural pela oportunidade de resenhar!



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1 comentários

  1. Acho que o Valentino não percebeu o tipo de narrativa que o livro buscou explorar e a época que a história está inserida. Se for pensar assim, ele não irá recomendar nenhum livro sobre a Igreja, tendo em vista o que ocorreu na Inquisição. Achei RUMAH, o primeiro livro do autor maravilhoso, inteligente e apesar da leitura dificil, em função da sua narrativa, a bela história por si só já vale muito a pena, pois é um livro que foge ao padrão atual dos novos escritores que surgem no país. Recomendo muito o livro.

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