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Clube de Escrita: Escrita é um processo

6.11.15Dana Martins

Na imagem de capa: Uma pessoa enterrada em uma pilha de bolinhas de papel amassada, apenas as pernas de calça preta para fora. Também saindo do papel uma lata de lixo cheia.

Hey! Pleno NaNoWriMo, e quem é que tem vida enquanto escreve? Decidi passar aqui pra compartilhar de bônus essa lista de 7 livros YA que foram escritos durante o NaNo e falar sobre escrever lixo (e transformar em algo bom).

A nossa agenda está completamente vazia e, no momento, eu não tô com muita vontade de terminar os outros posts que eu tenho quase prontos. Aconteceu algo maravilhoso na minha vida de escrita essa semana e eu tô bem concentrada nisso, não tive muito tempo pra pensar em nada. OU SEJA...

Mas já que estamos aqui, eu mandei uma news especial de NaNoWriMo e tive uma conversa legal, onde eu falei sobre a escrita mais como um processo de melhora do que algo pronto, uma coisa que eu quero falar aqui no Clube de Escrita há séculos. Então... por que não compartilhar aqui também?

Vou começar com uma pergunta: Por que você não pode mudar de voz durante a escrita? Por que você não pode ir pra outros personagens? Essa é a sua história, é só o primeiro rascunho, você não tá escrevendo em pedra.

Uma curiosidade: Eu tenho um problema muito sério de "pessoa" e "tempo" na escrita. Principalmente com tempo. Eu tô lá escrevendo no passado e de repente tá no presente e aí vou pra o passado. Às vezes o personagem domina uma narração em terceira pessoa e vira em primeira. Enfim, eu deixo rolar no primeiro rascunho. Depois eu arrumo.

Na imagem: um trecho de uma história minha onde eu passo a escrever do presente (está) para escrever no passado (estava)
eu literalmente escrevi esse texto e 1 segundo depois tava mudando de tempo na história sem querer


Tem 2 lemas que eu carrego comigo todo NaNo:

1- Não olhe para trás! Não importa o que você fez, importa que você tenha feito.
2- O importante é escrever. 

Ou seja, vai em frente.

Não tá gostando? Muda de pessoa, coloca uma invasão alienígena, passa pra outro personagem, começa outra história.

No gif: uma mulher sendo entrevistada falando "Não peça permissão"


Às vezes eu acho que parte do bloqueio é porque a gente esquece por que tudo começou. Ou para onde estamos indo.

Então, eu acho importante pensar em uma coisa: Por que você quis escrever essa história? O que, naquele momento de insight, você sentiu? 

A história que eu terminei essa semana eu comecei ouvindo Sugar, do Maroon 5. Eu simplesmente imaginei uma personagem andando de carro e, quando vi o clipe da música, adaptei para um conversível. Por que ela está no carro? Pra onde ela tá indo? Roubei do clipe: um casamento. Assim a história foi rolando e eu escrevi 6 mil palavras direto. Eu nem tive muito tempo pra não saber o que eu tava fazendo, verdade seja dita, mas quando eu escuto a música outra vez, eu sei o que eu quero passar. 


Então, por que você escolheu essa história? O que te chamou atenção nela? O que, a princípio, fez você querer ir pra o papel?

A outra história que eu vou começar a escrever: a ideia de como uma pessoa feliz lufa-lufa poderia se transformar numa corvinal fdp. Ao mesmo tempo, ela surgiu de momentos fofinhos de uma personagem criança com a "instrutora" dela. Essa é a minha base. Isso que me dá direção. Isso que eu quero ver. 

E aí às vezes a gente sabe o que quer, mas quando escreve olha lá: uma merda. 

Já tentou olhar pra uma paisagem e desenhar? Pode ser que você tenha altas habilidades de desenho e eu não sei, mas se você for como eu, é bem capaz de sair uma coisa estranha no final. Você consegue ver a paisagem, mas quando tenta colocar no papel sai um troço estranho.

O que você vê...

Na imagem: O close do rosto de um cavalo com os cabelos ao ar e banhados pelo dourado do sol

O que você escreve...


Na imagem: Um desenho feito no paint muito ruim de um cavalo. Parece uma cabeça de cobra com dente sorrindo enfiada no corpo torto de um leão. Em cima escrito mal "cavalo"


A escrita é a mesma coisa. Às vezes a gente consegue ver o que nós queremos retratar, mas quando colocamos no papel não sai o que esperamos. 

E o que você faz?

Desiste?

Não. Nós continuamos fazendo. Nós continuamos melhorando.

Na imagem: Passo a passo do processo criativo de um desenho de dois pokemons. Começando o esboço mal feito com as formas, depois fazendo linha em volta melhor, cores, sombra, fundo, detalhes... É na direita um pokemon verde de planta que parece uma batata com patinhas, na esquerda é o pokemon azul de água que é tipo uma tartaruga gordinha.
Fonte.

Repara como é feito em camada. Imagina se você para no primeiro esboço porque obviamente tá uma merda. Pense nas possibilidades a cada versão. 

Eu indico dar uma olhada no processo desses links: Processo 1. Processo 2. (só imagens)

E esse link daqui (tem texto) que mostra as diferentes possibilidades na escolha de um redesign do uniforme da Capitã Marvel, porque em alguns casos não é uma questão de ir melhorando algo no desenho, mas testar as formas de desenhar antes pra escolher qual é a que mais se encaixa.

E abaixo duas páginas do livro "The Art of The Last Of Us" (a arte do jogo, livro que mostra o processo criativo). Essas duas páginas mostra parte do processo de montar a personagem principal, Ellie. Essas são só algumas das várias versões que eles fizeram - e nenhuma delas foi escolhida.

Você vê como eles testam diferentes cabelos, diferentes roupas, diferentes posições. (aparentemente, cor de pele não tava no jogo nem outros formatos de corpo... ok, mas até mesmo isso deve ter sido eliminado numa decisão prévia). Enfim, na escrita nós também temos isso. Podemos não passar tanto tempo escolhendo o penteado da personagem, mas vamos testar jeitos dela falar, ou como acertar a voz particular e detalhes narrativos que tornam o personagem único para o leitor. Você pode fazer isso na pesquisa prévia, é claro, ou como eu: simplesmente se jogar e descobrir no caminho. O fato é que quanto menos você fez antes, mais você vai aprender durante a própria escrita. 

Na imagem: foto de duas páginas do livro. É basicamente o que eu descrevi em cima. Mostra várias versões da mesma personagem.

Tem essa imagem que eu salvei no instagram outro dia especialmente pensando em escrever sobre isso:


Quando você olha pra o seu primeiro rascunho ruim, você tá olhando pra parte no pé dessa mulher. "Eu acho que tá uma merda, eu acho que não tá certo" É óbvio que não tá. Mas a gente não tem noção de que pode existir esse processo de "melhoramento" e trava achando que é isso.

Eu gosto muito de aprender sobre criação com arte, porque tem muito conteúdo e você encontra até sem querer. Você encontra facilmente essa noção de processo, de partes, de diferenças de estilo. Você vê as pessoas fazendo "estudos" - tipo, ficar desenhando uma mão em diversas posições pra poder aprender a desenhar. Quando é que você fez isso com a escrita? Quando é que você ficou trabalhando um elemento específico de criar histórias? Descrever formas diferente de abraços. Ou cabelos. Ou roupas.

Eu sinto que existe muito ideia de que escrever é só sentar, escrever uma história perfeito do início ao final, e pronto.

Mas não, o seu primeiro rascunho é só o começo. No NaNoWriMo você está fazendo o primeiro esboço lá em cima. 

Primeiro você encontra uma ideia que te interesse. Você visualiza ela. Você pensa no que você quer desenvolver.

Depois você escreve muito merda e melhora até ficar bom o bastante. 

No gif: As mãos de alguém entregando um livro rosa, em cima a leganda "Coloque pra fora, querido. Escreva no livro."


Pra finalizar:

Por que diabos você não poderia mudar a pessoa do narrador da história? Por que você não poderia colocar outros narradores ou personagens?

Lembre: você pode fazer o que diabos você quiser na sua história. E eu sei que é difícil quebrar os próprios bloqueios, é uma eterna batalha mental de EU POSSO, EU VOU, ISSO É ACEITÁVEL. Mas você pode.

No gif: Beyonce apontando pra tela e cantando "Quem manda nessa porra?"


Indico completar a leitura com o vídeo de um desenho foda sendo criado do 0 e esse outro texto, "Talento é uma mentira", muito parecido com esse aqui com o relato de uma desenhista sobre melhorar sua habilidade. 

Espero que você esteja tendo um bom NaNoWriMo. <3


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3 comentários

  1. Adorei o texto, principalmente sobre a experimentação. Eu só escrevia coisas em 1º pessoa, porque achava que o resultado era "mais legal" e todo mundo ficava falando que deixava o leitor mais próximo do personagem. Eu ficava pensando: "Gente, então pra quê que escrevem em 3º pessoa? Quem vai querer deixar o leitor mais distante?". Até o dia que eu precisei dar voz a um segundo narrador, porque eu PRECISAVA mostrar uma coisa na qual o protagonista-narrador não estava presente. Aí eu escrevi a tal cena em 3º pessoa e: APAIXONEI. Comecei a fazer várias vezes cenas em 3º pessoa e são de longe as minhas favoritas! <3 Peguei gosto, agora só quero escrever em 3º.

    Só um adendo sobre: "Por que diabos você não poderia mudar a pessoa do narrador da história?". PORQUE VAI DAR UM TRABALHO DO CÃO PRA CORRIGIR DEPOIS, VAI POR MIM. É o que estou fazendo no momento. Risos. Não que vc não possa, né, mas... De qualquer forma, vale muito a pena experimentar. Quanto antes vc descobrir COMO quer contar sua história, melhor.

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  2. Como eu amo Clube de escrita! haha eu preciso aprender esse negócio de testar, de estudar personagens ou parte das histórias. Até hoje não aprendi. E preciso fazer isso sem achar tudo uma merda...

    Sugar <3 <3

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    1. eu nunca parei pra fazer estudo também não, mas é uma possibilidade. e de certo modo a cada história que eu escrevo eu vou desenvolvendo algo (outro dia eu escrevi uma cena só pra ver se eu podia escrever)

      E eu diria: o truque é achar uma merda mesmo, mas fazer mesmo assim!

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