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Imaginários em Quadrinhos vol. 3 (AKA um jeito fácil de encontrar quadrinistas legais no Brasil)

18.5.15João Pedro Gomes


Hoje estou aqui para falar de um daqueles livros tapa na cara. Sabe quando você não dá nada por ele, pega pra ler pela capa e acaba se surpreendendo pra caramba? Imaginários em Quadrinhos vol. 3 foi bem assim. Mesmo de um jeito totalmente diferente do que eu esperava, ele acabou renovando minha fé nos quadrinhos nacionais, e é uma das melhores opções pra quem quer conhecer novos artistas brasileiros desse meio e não sabe como.

Aliás, tem histórias aqui que eu queria muito que tivessem livros próprios com mais espaço pra desenvolver, então preciso de mais gente pra reivindicar isso comigo. Sim, você está convocado.

Deixa eu contextualizar uma coisa: quando eu pedi a prova desse livro entre as opções do mês da editora Draco, eu não sabia bem do que se tratava. Além, é claro, de que era uma antologia de histórias em quadrinhos com vários artistas e roteiristas. Mas o título "Imaginários" e a capa com aquele lobisomem bacanudo me fizeram achar que seria uma história de fantasia tradicional, com essas criaturas místicas, estilo meio RPG e a parada toda. Adivinhem? Eu estava errado.

*preciso dizer que me senti meio enganado pelo Lobisomem. Apesar de ter uma história com essa temática (essa da foto aqui em cima, que é muito legal, aliás - comentários detalhados sobre ela mais embaixo!), a arte da capa é completamente diferente da mostrada na história. Nada muito grave, HQs americanas fazem o mesmo, mas eu precisava comentar.




Mas estar errado foi algo bom, porque é a diversidade que faz essa coleção tão especial. Tipo, começa com uma aventura espacial meio super-heroica, daí você vira umas páginas e surge uma história sobre a desumanização do homem, depois tem uma fantasia urbana envolvendo a máfia japonesa e outra sobre zumbis e sadomasoquismo... Com histórias tão diversas e de apenas vinte páginas cada, é praticamente impossível não gostar de nenhuma ou ficar enjoado durante a leitura. O único lado ruim é que, como eu disse no começo do post, às vezes o espaço não é o suficiente e dá vontade de ler mais de várias delas. 

Foi o caso da terceira história, Origami (de Jun Sugiyama e Junior Ferreira), QUE MEU DEUS DO CÉU. Tudo bem que não precisa de muito pra me conquistar quando a história envolve cultura japonesa bem contextualizada pro nosso país e origamis ganhando vida (!!!), e se ainda tiver personagens engraçados e bem construídos e uma arte que encaixa perfeitamente com a proposta... Pronto, já entrou pros favoritos. Deu pra ver que os autores pensaram em vários detalhes pra enriquecer a história, quase como se tivessem escrito o roteiro pro piloto de uma série pra mostrar o quão legal é aquele mundo e fazer você querer descobrir mais e mais.

Daí o problema de histórias tão curtas: não tem mais.

EU REALMENTE ACHO QUE DEVERIA TER UM LIVRO MAIOR SÓ PRA ESSA HISTÓRIA, OU UMA SÉRIE, SEI LÁ,
EU QUERO RESPOSTAS PRAS COISAS QUE FICARAM EM ABERTO, EDITORA DRACO,
PORQUE VOCÊ FAZ ISSO COMIGO ;---;






De qualquer forma, outras histórias conseguem se beneficiar do espaço disponível e fazer maravilhas autocontidas. Malária (Edson Oda e João Pinheiro), por exemplo, é praticamente um curta-metragem estampado papel, desde sua arte realista até a trama intensa com ares de faroeste. Aliás, nunca vi uma personagem que representa a Morte de forma tão realista quanto aqui. Cenas (Thiago Cruz) poderia ser facilmente uma versão estendida de uma dessas tirinhas poéticas do Facebook, que receberia milhares de compartilhamentos pela crítica social inteligente. E, claro, O Vira Lata (Lillo Parra e Juliano Oliveira), que, se munindo de uma arte tão intensa quanto o roteiro, transforma o lobisomem numa espécie de herói sombrio, que combate um dos crimes mais comuns e revoltantes do nosso país. Ah, e a comparação entre homem e animal que fazem aqui é genial. Ser a inspiração da capa é um mérito totalmente merecido por essa história, e ela é, com certeza, a mais emocionante da antologia. 

As outras duas histórias (a primeira e a última do livro, coincidentemente) foram as que menos apelaram pra mim. O Astronauta Curioso em: O Devorador de Mundos (Rod Reid e Breno Tamura) é tão ~cheesy~ quanto seu título. A trama tem lá seus pontos interessantes, como as várias referências à cultura televisiva e a arte e o traço bem fluido. Mas o formato de "super-herói salva o mundo do vilão cartunesco" não funcionou bem pra mim. Aliás, a coisa toda do Devorador de Mundos me lembra muuuito o vilão do Quarteto Fantástico, e a inspiração pode ter atrapalhado minha experiência. 

Desalmados: te mato três vezes (Raphael Fernandes e Gustavo Hildebrand) ainda é uma incógnita. A história, baseada num filme de mesmo nome que ainda não estreou, mostra algumas pessoas combatendo o apocalipse zumbi e uma seita chamada "adoradores do flagelo", pessoas que estupram e escravizam sexualmente os poucos sobreviventes que conseguem encontrar. Acho que o nível de nonsense ou a originalidade bizarra foram demais pra mim, embora eu tenha sentido um estranho prazer enquanto lia (????????) Voltarei com notícias quando descobrir o que achei disso tudo. Só direi que a arte tava bem bacana :B

Esqueci de falar que essa história é bem adulta, então: CUIDADO, CRIANÇAS


Enfim, essas duas não me agradaram tanto, mas é o que eu disse lá em cima: essa é a graça de ler antologias. Você vai amar algumas coisas e gostar um pouco menos de outras. O importante é que opinião é algo relativo e que eu não odiei nenhuma das histórias (aliás, vi pouquíssimos problemas e sei que as que não fizeram meu estilo podem agradar absurdamente outras pessoas), o que já é uma conquista enorme. 

Considerando tudo, acho que não há muitos motivos pra você não querer ler Imaginários em quadrinhos, tanto o volume três quanto os anteriores, que ainda não li, mas seguem o mesmo padrão. A parte gráfica do material é predominantemente excelente, a gramatura do papel é ótima e eu já opinei sobre a qualidade das histórias. Esse livro me forneceu um tipo de catálogo de quadrinistas nacionais incríveis que eu não conhecia, e eu tenho certeza que você, assim como eu, vai querer adquirir mais do que pequenas amostras de cada um deles após a leitura.




Livro: Imaginários em Quadrinhos (vol. 3)

Organização: Raphael Fernandes

AutoresRoger Cruz, Rod Reis, Breno Tamura, Thiago Cruz, Edson Oda, João Pinheiro, Jun Sugiyama, Junior Ferreira, Lillo Parra, Juliano Oliveira, Raphael Fernandes e Gustavo Hildebrand

Editora: Draco

Paginas: 136


(4 conversinhas)

A prova desse livro incrível foi cedido pela editora Draco. Obrigado por revelarem ao mundo tantos artistas legais, pessoal \o/

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1 comentários

  1. Excelente resenha, muitíssimo obrigado estava querendo comprar essa hq e não encontrava um pé de pessoa tratando acerca.

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