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As histórias e os testemunhos da sala de aula

17.5.14Igraínne


Olá, todo mundo. Frequentemente, nesse país, vemos professores sendo ignorados, rebaixados e desvalorizados. A greve na educação em 2013, talvez por uma série de questões pessoais, me afetou mais diretamente do que a muita gente por aí. Eu, Igra, sou estudante de Letras, o que implicaria, em tese, em um futuro na sala de aula. Como estudante de Letras, no entanto, sei que não entrei nesse curso para isso (entenda aqui). Na realidade, desde o princípio, eu sempre tive medo de acabar numa escola, porque essa é profissão que persegue a minha família. Minha mãe, minhas tias, minha prima... Todo mundo vive disso, e todos sofrem juntos quando o dito "público" testam suas mentes.

Esse post traz o depoimento (talvez alguns de vocês já os tenham visto) de seis professores acerca da sala da aula no Rio de Janeiro (embora isso não mude muito de figura em outros estados). Eles nos contam, em tom pessoal, a respeito de suas experiências, motivações e esperanças em um momento que sucede à greve. É o tipo de testemunho que todo mundo deveria ver, seja professor ou não.

Especialmente porque, na última segunda-feira, outra greve na educação foi iniciada.


Antes de começar, contudo, gostaria de explicar por que decidi escrever esse post. Minha mãe entrou em depressão três vezes por causa da educação. Minha tia tem alunas que matam aula para pagar um boquete por cinco reais na praça ao lado. Outras, fumam maconha no banheiro. Alunas de 13 anos grávidas, gente desconhecida que entra na escola para ~~observar a aula de educação física~~~, o que obriga o professor a trancar a quadra com todo mundo dentro.... São histórias da minha família, histórias com as quais eu convivi desde sempre.

Quando as pessoas me perguntam porque eu não considero a sala de aula como uma opção, eu apenas respondo que não tenho estrutura. Eu vejo as consequências todo dia quando encontro com minha mãe, quando encontro com outros parentes. Entendam, eu ainda considero os professores uns verdadeiros heróis. Mas eu ainda sou covarde demais para conseguir vestir uma capa desse tamanho e lidar com o vilão.

E o vilão nem mesmo são os alunos.









A gente precisa ter uma fé cega para ir até lá. Conheço gente que sonha com isso, sonha com o ato de ensinar. E, da minha parte, há muita admiração por essas pessoas. O Diego aqui do blog, por exemplo, dá aula de Artes em São Paulo. Eu o considero um herói por gostar do que faz. 

Muita gente me fala que, talvez, dar aula em universidades seja uma estratégia para mim (de fuga, notem bem), mas o trauma de crescer com tudo isso - e até mesmo fazer parte de tal ambiente, já que eu também estudei em colégio público nesse país - me impede de seguir adiante. É um crescimento, isso eu não nego. No futuro, se eu tiver um filho, o colocarei pelo menos um ano na instituição pública para ele entender que não há bolhas no sistema. A desigualdade nos deixa calejados, há um abismo separando o aluno da escola pública daquele aluno do colégio particular. 

Eu só espero que, até lá, tudo tenha mudado o suficiente para que esse abismo nem sequer exista. Sonhar ainda é sonhar.  


E você, o que acha sobre o assunto? Conta pra gente! 

Veja também:

- Igraínne M. 
(vulgo Igra)

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2 comentários

  1. Estudo no CAp UFRJ, um colégio público no Rio de Janeiro. Eu nunca trocaria o que o CAp me proporcionou por estudar a vida toda num Santo Agostinho e só conviver com apenas um tipo de pessoa. Na mesma sala, tenho amigos que moram no leblon e amigos que moram na rocinha, gente com iphone e pessoas que não tem dinheiro nem para um caderno.
    O CAp é um colégio diferente, tudo bem, mas não é tao diferente assim quando se está lá dentro. Cresci em escolas particulares, todas arrumadinhas, limpinhas e organizadas. Tudo o que eu ouvia sobre as escolas públicas eram que os professores não conseguiam dar aula, que algumas não tinham nem cadeira para os alunos sentarem, que alunos do nono ano não conseguiam escrever direito. Era a minha realidade, meu mundinho pequeno.
    Quando entrei na escola, queria começar a chorar. É feia, um calor de 40 graus no auge do verão e não tem ventilador. Não tem sabão pra lavar a mão no banheiro, nem papel pra secar a mão. As paredes da escola são pichadas com palavrões e realmente não tem cadeiras para todos os alunos, mas o pior eram os alunos. Roubaram vários celulares naquele ao. Um garoto caiu na aula de educação física, e outro começou a chutar a cabeça dele e quase deixou o que estava no chão surdo. Um menino de doze anos foi espancado por outros mais velhos, caso que a direção abafou e preferiu ignorar. Uma professora saiu da sala chorando. Com o tempo, eu me acostumei a coisas como essas acontecendo de vez em quando, pois todos achavam normal. Achavam engraçado.
    Em 2012, o ano que eu entrei no CAp, tivemos uma greve que durou dois meses. Os alunos apoiaram por todos os motivos errados. Era legal ficar sem aula, ficar de férias mais tempo. Quando voltamos, tínhamos aula sábado a tarde. Os professores faltavam muito no sábado, e a matéria ficou muito atrasada. Agora provavelmente vamos ter greve de novo.

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    1. Poxa, Maria, há tempos eu não lia algo como esse seu comentário. De uma certa forma, queria que ele fosse longo o suficiente para que eu o lesse durante o dia todo.
      Sei que é estranho eu vir aqui para dizer apenas isso. Mas é que não tenho muito o que falar sobre o assunto, e precisava te dizer o quanto gostei do seu texto, então... Fim =)

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