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Viva a diferença

17.1.18Taiany Araujo


Esse post pode conter spoilers

Eu, como muitas meninas nascidas na década de 90, era viciada em Malhação - a novela teen da Globo - mas depois de acompanha-la por anos afins e reencenar muitas das cenas, comecei a enjoar e a não me identificar mais com as tramas. Foi assim que entre 2004 e 2005 eu parei de assistir a novela em grande estilo, depois do clássico Vagabanda era melhor sair enquanto o time tava ganhando e o amor prevalecia. E qual não foi minha surpresa ao ser reconquistada por essa turma 13 anos depois.

De cara a narrativa da franquia parecia o velho mais do mesmo, apesar de toda essa tentativa de temas específicos que sinceramente não sei se vinha dando certo. Malhação: Viva a Diferença seria mais uma que eu não veria e ok com isso. Na real eu nem sabia que esse seria o nome, mas alguma força cósmica deve ter operado porque uma semana depois da estreia eu ligo a TV e sou imediatamente fisgada por esse hino. É claro que ainda tem coisinhas meio fuéen, talvez seja também por eu já está com 26 anos e outros interesses e preocupações, no entanto, dessa vez as coisas foram tão acertadas que até as coisas que eu tô pouco me lixando pra assistir, eu tô amando HAHAHAHAHAHAHA 

Mas afinal, qual é a trama desse ano e porque todo o hype em cima disso? 

Dessa vez a novela é ambientada em São Paulo (não lembro se outras vezes a cidade era tão especificada assim) e começa com o encontro que vai dar o ponta pé para todo o enredo. Keyla, uma adolescente de 16 anos está num mesmo vagão de metrô junto com 4 outras meninas de idade aproximadas, Lica, Tina, Ellen e Benê. É nesse momento que o trem para, e Keyla, grávida (nada novo até aqui pois esse tema já foi muito abordado no folhetim), começa a entrar em trabalho de parto, e bom, só tinha elas ali, foram todas ajudar mesmo. 


O começo, assim, não tinha nada de tão especial, mas a forma como cada personagem foi sendo apresentado e construído é o que trouxe a novela novamente para os holofotes, todo dia tem alguém começando a acompanhar a trama que para minha tristeza já tá pertinho do fim.

Antenada nos temas do momento e na realidade dos jovens, cada capitulo trabalha assuntos atuais e por vezes polêmicos, mas não só isso, as questão são apresentadas de forma tão real e simples que traz pra destaque debates muitas vezes não discutidos com adolescentes. Por exemplo, o tema de assédio/abuso sexual, que é algo complicado de ser falado, as pessoas tem vergonha, medo, mas a novela trouxe de forma muito transparente e condizente com o que acontece. Adorei. Um prima de 13 anos que assiste a novela falou que eles discutiram isso em sala de aula, uma amiga vivia uma situação parecida, teve coragem de falar com a professora, e com isso pode procurar ajuda. Eu fiquei emocionada. E minha prima falando de forma super consciente, dizendo que o pessoal da turma se uniu para apoiar a menina lá. Se isso não é expor o elefante branco no meio da sala e fazer diferença na vida das pessoas eu não sei o que é.


Além desse, outros assuntos já foram expostos de maneira didática, mas sem aquele moralismo fingido. Por exemplo, o uso de drogas já foi abordado mais de uma vez, e apesar de não ter sido incentivado, também não foi demonizado. Viva a diferença ilustrou o que acontece, desenvolveu uma das consequências, e de forma singela, deixou nítido que mesmo com as consequências há pessoas que continuam usando. É o que acontece, todo mundo sabe, nem sempre dizem. Cigarros, bebidas e sexo são contextos inseridos nessa temporada.

No entanto, talvez o que destaque Viva a diferença de todas as outras 500 temporadas de Malhação seja a forma como a sexualidade foi abordada. Mesmo sem denominações especificas, quem acompanha a novela ia acompanhando as descobertas dos próprios personagens, como o menino ace, ou o menino gay (que ainda vai sofre preconceito sem nem estar num relacionamento, simplesmente por ser amigo de um menino hétero), as meninas que para mim são pan ou bi, mas que de toda forma, estão adentrando num relacionamento homoafetivo. 

Se quisermos, vamos encontrar problemas na trama, uma ou outra coisa que poderia ter sido melhor trabalhada, representado de maneira mais claro, no entanto, essa ainda vai estar junto às temporadas mais corajosas, dando um salto gigantesco sobre os assuntos abordados nas novelas do momento. 

Sério gente, até a importância do psicólogo foi citado, junto com saúde mental, agressão físicas contra professores/diretores em colégios, abusos psicológicos, autoflagelo, racismo, gordofobia, a questão da virgindade vs ser descolado, bullying, pais alcoólatras, as diferenças entre o sistema educacional privado e público, e entre outros temas, esses só foram os que lembrei de cara. O legal é que eles não são ilustrados como aqueles vídeos educativos das escolas, eles são inseridos na trama costurando tudo de uma forma que a gente realmente acredita que aquilo esteja acontecendo. E não está? No nosso meio, ao nosso lado, de uma forma ou de outra vivemos as situações ali abordadas, ou ao menos temos contato com elas. 

Então, respondendo qual é do hype sobre essa temporada, é o fato do Cao Hamburger ter visto os jovens de hoje e resolvido falar sobre eles, e não sobre o que acham ser a juventude. 


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1 comentários

  1. Essa é a melhor Malhação e quem falar o contrário tá errado. Agora tenho visto algumas reclamações, mas ai a gente vai ver quem tá reclamando e nem sei se vale a pena discutir. Viva a diferença tá muito perfeita e não quero que acabe, vou ficar carente. #LimanthaLoveWins

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