CCSéries Claire Temple

Meus pensamentos depois de assistir Luke Cage

16.2.17Dana Martins


Eu pensei que não ia gostar tanto, não conhecia tanto do personagem e não tava no clima de ver. maaas não tinha nada melhor. O resultado é que eu me surpreendi muito. Aqui eu falo sobre como foi assistir, o que diabos é Luke Cage, representatividade, minhas coisas preferidas e Luke Cage vs. MCU. (sem spoiler)

O primeiro episódio foi meio parado, mas depois que eu entrei na história ficou interessante. Tipo, é estranho, porque a sensação é de que os episódios de Luke Cage duram horas. Eu sou acostumada a fazer maratona, mas eu assistia, assistia, assistia e quando ia ver tinha terminado 1 episódio só. Eu não cheguei a achar entediante, apesar de um ou outro momentinho que eu parei pra olhar o celular - aliás, é por causa disso mesmo que eu sei que não foi entediante. Eu parava 1 segundo e sentia que tava perdendo coisa e queria voltar pra história.

Acho que isso que me prendeu a Luke Cage - eu queria ir em frente, saber o que ia acontecer a seguir. Como eu tava assistindo com o meu irmão (ou seja, tinha que esperar), levou três noites pra assistir os 13 episódios, mas quanto mais fundo eu tava na história, mais eu queria saber. Então entre um dia e outro volta e meia eu tava: Como a Claire vai fazer isso? O que vai acontecer com a Misty? Como eles vão pegar os vilões?

Ok, se você não sabe nada de Luke Cage, talvez tenha se perdido agora, então eu vou ajudar:

Luke Cage é a série de um super-herói da Marvel, dessas que estão saindo no Netflix. Teve o Demolidor, a Jessica Jones e agora o Luke Cage. Logo em breve eles vão aparecer juntos em Os Defensores. Basicamente, igual os Vingadores no cinema - cada um tem seu filme e tem o filme de geral junto. Aliás, ambos os universos são conectados. Então o que acontece nos filmes da Marvel (Capitão América, Thor, Guardiões da Galáxia...) também tem influência nesse mundo.

Só que a jogada dessas séries do Netflix é que mostra a perspectiva dos heróis de uma forma muito mais local, urbana, cotidiana. Nos quadrinhos o Homem-Aranha é conhecido como "amigo do bairro" - e os super-heróis da Netflix, são literalmente os "amigos do bairro". Reflita: Enquanto os Guardiões da Galáxia estão viajando o espaço, os Vingadores batalham invasões alienígenas e o Capitão América enfrenta o governo internacional - Luke Cage, Jessica Jones e os Defensores estão lidando com gangues locais e a lojinha da esquina que foi assaltada.

Cada um em uma área diferente e a do Luke Cage é o Harlem. Segundo o Google, "Harlem é um bairro de Manhattan na cidade de Nova Iorque, conhecido por ser um grande centro cultural e comercial dos afro-americanos." E eu acho que mais do que vimos em Demolidor e Jessica Jones, o bairro é crucial para essa primeira temporada da série. É tão importante que é quase um personagem. Mas vamos devagar.

Luke Cage e Jessica Jones em Jessica Jones

Nesse contexto, Luke Cage é um cara fortão "à prova de balas", que na verdade foi apresentado em Jessica Jones (altos babados. eu não acho que seja necessário assistir pra entender Luke Cage, porque é tudo falado, mas com certeza entende mais, né?) (e de qualquer forma, COMO ASSIM VOCÊ NÃO ASSISTIU JESSICA JONES????? CADÊ O AMOR PRÓPRIO, GENTE?). Mas enfim, aqui vemos Luke Cage alguns meses depois continuando com o projeto de "ser deixado em paz", trabalhando 2 empregos ruins pra tentar pagar o aluguel e ainda tendo dificuldade. Aí tretas acontecem e ele se vê no meio de um conflito com gangsters locais e aceita que precisa fazer algo - só que quanto mais ele faz, mais merda acontece e aí somos levados por uma jornada que vai revelar ainda mais segredos.

E GENTE O LUKE CAGE ESCUTA TRISH TALK, PRECISO DIZER MAIS ALGUMA COISA? ESSE É O HOMEM QUE VOCÊ QUER NA SUA VIDA PLMDDS

A storyline dele é dividida com 1) Misty Knight, uma detetive da polícia e também uma personagem dos quadrinhos super-heroína e também uma das minhas coisas preferidas na série. E olha que ela é do tipo que segue fielmente a lei e eu me irrito com personagem assim.


interpretada pela Simone Missick, que eu vou stalkear assim que sair daqui

e 2) os vilões. Luke Cage (quando eu usar sobrenome estou me referindo à série, beleza?) tem vários vilões, alguns que só depois da metade da série a gente conhece. 

dá vontade de guardar o Mahershala Ali num potinho


Olha, eu não sei direito como explicar Luke Cage. Acho que tipo a sensação é de estar realmente visitando o lugar. Através dos vilões, a gente entende o panorama do crime no Harlem, que envolve políticos e a polícia também. Existe uma discussão de "como essas crianças acabam virando bandidos?" E isso é interessante, porque é também através dos vilões que a gente conhece o "panorama" cultural do bairro.

Um dos principais locais na série é o Harlem Paradise, uma boate criada por um chefão do crime pra lavar dinheiro, mas ele realmente se importa com a música. E quase todo, se não todos, episódios têm um número musical de artistas negros no fundo. Eu não cheguei a pesquisar, mas acho que são artistas reais. A série faz o mesmo com livros, escritores, atletas e outras figuras notáveis da cultura negra americana. Nada é forçado, tudo está inserido no contexto. É tipo... o que as pessoas brancas fazem quando adicionam referência em qualquer coisa, só que essas referências sempre são brancas e Luke Cage muda isso.

Achei aqui dois posts listando referências de Luke Cage: post 1 - post 2



Agora mudando de assunto, acho que o que eu mais gostei na série é o alívio. O alívio de poder ver pessoas que são sempre reduzidas a figurantes, capangas e "melhor amigo" ganhando espaço, destaque, sendo importantes pra narrativa e, principalmente, respeitadas. Em breve eu vou publicar aqui um texto que eu escrevi sobre como histórias são focadas em satisfazer o homem branco - e Luke Cage não tem isso. E mesmo nas vezes que eu percebi, é porque envolvem temas como brutalidade da polícia e dava pra sentir que que não eram ditos explicitamente porque... bem, como autoproteção???? Se não foi censurado. Mas enfim, eu preciso estudar isso melhor e eu estou escrevendo isso logo após de terminar de assistir a série pra tirar o que eu quero falar do meu peito.

Mas o que importa é que existe aquele sentimento de incômodo constante quando eu tô assistindo as coisas com representatividade ruim, é decepção atrás de decepção e frustração diante das injustiças. E assistir Luke Cage foi assistir em paz, relativamente.

Na verdade, eu nem lembro de assistir uma série assim - com um elenco predominante negro. Tem um personagem negro e quando aparece outro... é negro também. E outro? Negro. Pra todos os lados, o chefe do chefe do chefe, o policial que passa no carro, o capanga do capanga, a pessoa na rua. Se não é negro, é latino. Agora de cabeça eu só consigo pensar em um homem branco. Ok, três. Mas eles são todos de fundo, corruptos e a maioria morre. (apesar de mesmo assim receberem personagens interessantes e desenvolvidos de alguma forma.......)

Isso até bagunça a minha cabeça, porque é difícil analisar representatividade em um contexto que eu não tô acostumadas, os filtros precisam ser outros, eu preciso me reorganizar. Eu assisti 9 episódios da série até me dar conta de que ser gay ainda não foi inventado no mundo de Luke Cage - nada de representatividade até agora. Então, tipo, a série fez eu não pensar e só seguir a história.

E os personagens? Eu gostei de todos. Sério, é até estranho. Eu gostava de ver todo mundo em cena. Alguns mais que os outros, mas ainda assim, eu me divertia com os vilões, ficava triste por eles e feliz por eles, mesmo quanto tava com raiva também e queria que o Luke Cage acabasse com a situação de uma vez. Claire e Misty rainhas.

Falando na Claire... ela é uma das melhores coisas que o Netflix nos deu. Ela está em todas as séries e nessa aqui pela primeira vez vi a personagem ser mais desenvolvida.

E o relacionamento dela com o Luke é muito bom. Desculpa, Jessica Jones, mas aquela coisa não era muito saudável, não. E o caso da Claire com o Demolidor, aquilo não foi nem um relacionamento, foi um absurdo. Desculpa Claire por fazerem você passar por aquilo. Enfim, aqui ela recebe o tratamento que merece, todo slow-burn, com frasezinha especial e isso favorece muito o personagem do Luke, porque ele é bem fechado, então até a Claire aparecer, ele não fala muito sobre si ou o que tá acontecendo. E acho que a gente aprende a gostar de personagem pela interação dele com os outros. 


Até mesmo o Luke e a Misty fica melhor mais pra o final da história, quando eles aprendem a confiar mais um no outro e estão mais abertos. Tem uma cena entre os 2 que é a minha preferida de todas.

Ih, gente, nem ia falar isso tudo.

Ia dizer só mais 3 coisas, mas acabei escrevendo mais. 

Primeiro, as 3 coisas:

1. É que o personagem latino junto com a Claire mais relevante em Luke Cage é interpretado por um ator italiano. E esse é um problema recorrente de representatividade latina em Hollywood. 
2. A mãe da Claire é interpretada por uma atriz brasileira. Muito legal ver isso, mas também fico pensando que ela tá fazendo uma personagem latina cubana e ainda fala coisas em espanhol. E ela é branca. (e o cara italiano também. eu sinceramente não sei direito como americano faz leitura de latino. mas de uma forma ou de outra, o privilégio branco tá aí)

3. Tem uma cena em que tá a Misty Knight, a vereadora Mariah Dillard (outra das poderosas) e mais duas mulheres negras. Elas são diferentes entre si, importantes pra trama da própria forma, personagens interessantes e, de certo modo, a série me fez torcer e simpatizar com todas elas. Na cena, elas estão discutindo, avançando a história, resolvendo um caso entre si. É tipo... é um tipo raro de imagem na televisão. Já é o tipo difícil entre mulheres, mas mulheres negras então... Nossa senhora. (enquanto você tem filmes como Vingadores que é basicamente isso inteiro com homens rsrsrs) 

Acho que meu tipo de série é o tipo de série onde pessoas são permitidas existir. 

Enfim, só enquanto eu escrevo isso, eu já pensei em detalhes sobre a representatividade de Luke Cage, coisas pra melhorar, mas por hoje eu vou ficar aqui nesse tópico.

No geral, Luke Cage foi bom de assistir. A história me chamou atenção, os personagens e até os segredos. E falando sério, amo história de super-herói, então ver todos os detalhes em que o "estilo de super-heróis" se mistura ali - treta com experimento secreto, contrabandos de superarmas e vislumbres de quem esses personagens são nos quadrinhos. (MISTY COM A ROUPA VERMELHA. AAH)



LUKE CAGE VS. UNIVERSO MARVEL

E no caso da Marvel, a conexão com o resto do MCU (universo). Eles citam fatos de Jessica Jones, o filme Vingadores 1 quando tem a invasão alienígena que o Loki causa na cidade - isso é chamado de "o incidente" e aparece de várias formas na trama. Tem um momento que a Claire pega num poste o telefone de uma aula de luta, que é dada pela Colleen Wing personagem de Punho de Ferro E nos quadrinhos parceira da Misty, então pode ser que a gente veja algo aí no futuro. Minha única tristeza de não assistir mais Demolidor é não pegar as referências mais recentes, parece até que partes da segunda temporada acontece ao mesmo tempo que Luke Cage, então a Claire aparece lá com uma ferida que ela sofre em Luke Cage. E EU ADORO ISSO.



Agora, vou te falar, Nick Fury precisa distribuir os números de telefone entre a galera, não aguento mais. Eu não assisto a série assim CARA, LIGA PRA O HOMEM-ARANHA, ELE RESOLVE ISSO EM 3 SEGUNDOS. CADÊ A JESSICA JONES, TU CONHECE ELA, LUKE, SÓ LIGA. Tudo bem que se colocar mais de um super-herói ali praticamente não tem série, já que resolve tudo em um episódio. Mas acho que quanto mais séries e mais avançamos no universo, mais difícil é sustentar eles não se ajudarem.

Ah, outra coisa disso tudo, é que em Luke Cage nós vemos um pouco da discussão sobre como afeta o povo ter gente com super-poder andando na rua. O último Capitão América: Guerra Civil já desenvolve isso de uma maneira legal, com a aliança internacional (?) tentando fazer um registro pra manter esse povo sob controle. Mas aqui a gente vê o povo mesmo, vê jogo na mídia. Ele é uma ameaça? Um herói? Um vigilante? Pode fazer essas coisas?

E tem algo a mais sobre o Luke Cage é que ele não usa máscara nem roupa de super-herói na série - e eu gostei muito da explicação deles pra não usar.

Enfim, só quero mais. Quero ver todo mundo interagindo. Quero ver a Misty ganhando o braço dela. Quero que seja o Pantera Negra que dê. HAUHAUHAUHA Queria também ver mais ligação entre séries e filmes. 

Se até aqui não ficou claro que eu gostei de Luke Cage... bem, é.

A série ganhou um lugarzinho especial no meu coração. Foi como assistir um filme de 13 horas, é uma experiência diferente, é um formato de história que eu não sei explicar. Luke Cage soa como uns filmes de gangster estilosos e meio antigos que envolve policiais e crime de bairro, parece algo que eu assisti perdido em alguma das tarde na Globo, só que é bom, atual, consciente, com mulheres interessantes E super-heróis.


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1 comentários

  1. Depois do sucesso de Demolidor (Daredevil) e Jessica Jones, é a vez de Luke Cage combater a criminalidade na cidade de Nova York. Falar da Rosario Dawson significa falar de uma grande atuação garantida, nos Rosario Dawson filmes ela se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com esta produção, Paixão Obsessiva que estreará em TV, para mim é um dos grandes filmes de Hollywood.

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