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Por um Oscar mais nosso: por que é importante assistir e falar sobre os filmes indicados

22.1.16João Pedro Gomes


Ano passado a Elilyan fez um post muito legal sobre por que vale a pena assistir ao Oscar, e os três motivos que ela dá continuam válidos pro desse ano. Você pode ler aqui. Hoje, eu vim falar sobre o mesmo assunto, só que de uma perspectiva diferente. Eis aqui alguns porquês sobre eu estar bastante empolgado pro Oscar desse ano.


Pra começar: essa ideia ainda é estranha pra mim. Eu, que nunca fui muito entusiasta por cinema e ainda hoje passo vergonha nas conversar com amigos, tão pequena é minha lista de obras assistidas. Eu, que sempre achei fascinante aquela cerimônia luxuosa, cheia de gente importante e filmes dos quais nunca ouvi falar, tão distante da minha realidade. Euzinho aqui. O João de sempre, querendo assistir os filmes “grandiosos” que fazem parte da premiação.

Tudo graças ao CC, que acabou me envolvendo na louca cobertura do ano passado e feito eu assistir alguns filmes que jamais pensaria em ver. Foi quando, pela primeira vez, eu parei de ser apenas um mero espectador inerte da premiação.

Na verdade, eu não tinha uma noção exata do quanto não gostava de ser só um espectador passivo. No geral, o que o público médio que vê a cerimônia lembra? Vestidos. Gafes. Selfie mais famosa da história. Com sorte, o nome do grande ganhador da noite. E, às vezes, só vai saber dessas coisas um dia depois, em alguma reprise rápida no jornal ou site de fofocas, e esquecer igualmente rápido. Eu era desses, e, sinceramente? Não me importava.

Mas no meio de tanta coisa bonita pra se ver, a gente perde o foco do que mais importa: os filmes. Que, ao serem anunciados no palco por alguma celebridade e ganharem a estatueta, se transformam em algo maior. Se transformam em representantes da nossa geração, uma síntese do que nós, aqui em 2015/16, estamos produzindo de melhor, e que deixaremos de herança cultural pro futuro.

Tá, claro, isso não é algo absoluto. Cada vez tem mais gente nadando contra a corrente, dando a devida atenção a filmes incríveis que não são indicados (principalmente aqueles que não passam no filtro conservador que ainda usam na hora de fazerem a lista). Mas, no fim do dia, quem ganha, junto com a estatueta, um selo automático de qualidade e fica facilmente marcado na história? Filmes do Oscar, que, não importa quantas premiações de outros países existam ou o quanto a gente tente ignorar seu impacto, continua sendo a maior premiação mundial do cinema. 

Por isso, assistir a esses filmes me deu um certo tipo de poder. O poder de sentir que eu participava daquilo também, e que minha opinião - por menos influente que seja, se limitando a pontas em um post do ConversaCult e um ou outro tweet com alguns RTs -, também era válida. Pela primeira vez, senti que eu podia aprovar ou rejeitar os filmes que uns poucos experts em cinema antes selecionavam por mim, e dizer quando suas escolhas transmitiam noções ideológicas ou uma falta de diversidade com as qual eu não concordava. 

Tudo isso porque esses filmes, enquanto produções que representam (ou deveriam representar) o mundo em que eu vivo, também me pertencem. E assistindo e opinando sobre eles, eu faço o Oscar um pouco mais meu. 

É fácil fazer isso acontecer? Não. Os filmes indicados geralmente não são as coisas mais acessíveis do mundo, parece até que são distanciados da gente de propósito. Já começa com indicações de coisas que saem no final do ano em poucas salas: se você não tiver dinheiro pra várias sessões de cinema no mesmo mês, não consegue se atualizar nem com metade da lista. Isso porque ainda não pensamos no contexto do Brasil, onde tem filme que nem chega a ser exibido antes da premiação, e isso nos poucos cinemas que aparecem. Pois é, muitos de nós precisam se contentar com o blockbuster de sempre como única opção e pronto.

Mas enquanto o mundo continua usando a globalização apenas quando lhe convém, assumindo que nós não precisamos estar por dentro do que está ou não sendo premiado, torna-se ainda mais importante fazer esse esforço pelos indicados. Seja correndo naquele cinema da cidade grande, seja por meios alternativos que se tornam a única opção. É uma forma de dizer que sim, apesar de tudo, nós estamos aqui. Que nós sabemos o que está acontecendo, e não vamos ficar quietos se as escolhas não nos representarem.

Pode parecer idiota fazer tanto barulho em cima de uma premiação. No fim do dia, eles vão escolher os filmes, a gente vai comemorar ou não, e nada vai mudar, certo? Errado, já que o que a gente diz hoje pode influenciar no amanhã. O medo da premiação desse ano repetir o #OscarSoWhite do ano passado é uma prova . Aos poucos, filmes, atores e diretores mais diversificados vão surgir. Filmes feitos por negros que não precisem ser sobre negros para merecer indicação, e que sejam, de fato, vistos antes de receber um voto da academia por “obrigação”. Academia essa que, quem sabe, daqui alguns anos, também não abra espaço para mais pessoas que não sejam os velhos homens brancos de sempre, reduzindo o conservadorismo que, ainda hoje, parece tão inerente ao cinema. 

(pausa pra ediçãoo pesadelo do #OscarSoWhite se repetir? Pois é, se concretizou. Mas aparentemente tá provocando mudanças. É mais uma prova de que...)

Apesar de não parecer muita coisa, nós temos o poder de acelerar esse processo.

A cerimônia está marcada para acontecer dia 28 de fevereiro. Tem pouco mais de um mês pra ela acontecer. Não é muito, mas tem tempo o suficiente pra você se informar dos indicados, correr atrás  para assisti-los e, bem... participar desse pequeno ato de rebeldia por um Oscar que seja mais nosso.


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