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Por Fora do Oscar: Todos aqueles que não são homens nem brancos o bastante para fazer parte da premiação

13.2.15ConversaCult

Alguns gráficos alarmantes


Eu não assisto filmes por obrigação, ainda mais na correria pra acompanhar o Oscar. As únicas vezes que eu tentei entrar na onda, por acaso, acabei assistindo Inverno da Alma (filme com a Jennifer Lawrence pré-Katniss!) e Os Descendentes (filme com a Shailene Woodley pré-Tris). Então esse ano estava acompanhando essa coisa de Oscar muito de longe, se não fosse eu ficando de olho pras sextas do Por Dentro do Oscar aqui no CC saírem, eu nem saberia o que está sendo indicado. Aí hoje, de repente, eu me pergunto: Quantos dos filmes indicados a Melhor Filme têm mulher protagonista?

Por que eu me perguntei isso? Sei lá. É o tipo de coisa maluca que passa na minha cabeça e termina em um post. 


Vou colocar aqui essa imagem do instagram do CC que me ajuda a saber quais são os principais filmes.


Boyhood e Birdman. Sniper Americano poderia ser mulher, mas teriam feito questão de colocar "A Sniper Americana" se fosse mulher. E provavelmente seria um filme focado na situação da mulher no exército, mas isso não é propaganda boa. Os outros eu sabia que eram sobre homens. Restou apenas Selma (ESSE TEM POTENCIAL) e O Grande Hotel Budapeste. Selma eu descobri que é uma cidade e é um filme sobre o Martin Luther King lutando por direitos iguais de voto (que ele conseguiu, apesar de até hoje isso não significar igualdade de representatividade, como veremos abaixo). O segundo ainda acho que é sobre um hotel, mas descobri que o protagonista é um homem bissexual (ou pelo menos é o que esse artigo diz, não assisti o filme).

Ou seja, dos 9 principais filmes de 2014 segundo o Oscar, nenhum deles é da perspectiva de uma mulher e apenas um representa diversidade racial. 

Eu acho interessante é que estamos falando do Oscar, que busca premiar os melhores filmes em relação à arte de fazer cinema. Não estou falando de filmes mainstream, em que eles têm uma desculpa de "isso não vende" que a gente tenta engolir. Os filmes do Oscar só vendem porque são filmes do Oscar, alguns não chegam nem a passar no cinema e muitas vezes eles estão mais interessados em trabalhar algo artisticamente do que agradar o público. Aliás, o Oscar tem um histórico de rejeitar qualquer história mainstream, sambando na cara de filmes de ficção científica ou fantasia, só dando um espacinho nas categorias técnicas. Isso se não tiver nenhum filme "intelectual" que usa efeitos. 

Mais do que isso, cinema é uma arte de ver diferentes realidades. Mas a única realidade que estamos vendo é a do homem, branco.



Antes eu me questionava por que dividir categoria de atores entre homens e mulheres. Atuar não é uma coisa só? Agora eu penso que se isso não existisse, corria o risco de mulheres não ganharem Oscar. Nesse momento eu quase queria que existisse uma categoria de roteiristas e diretoras mulheres, pra gente poder conhecer e reconhecer mais delas. (e acho que isso só não existe porque quando criaram essa estrutura do Oscar nem consideraram que mulheres poderiam fazer essas coisas!)

Uma curiosidade é que eu fiz, para um post ainda não publicado, uma análise de filmes com mulheres protagonistas no top 50 de filmes mais lucrativos dos últimos 20 anos e o resultado é bem parecido com os desses gráficos. Quer dizer, seja no filmes que as pessoas escolhem (aka. os que elas deram mais dinheiro) ou nos filmes que uma academia especializada escolhe, o padrão é o mesmo. Parece uma doença braba generalizada. 

Isso não é um problema desse ano, como esse gráfico mostra (fonte).



Eu não entendi muito a lógica desse abaixo (fonte), mas isso daria um mapa do mundo interessante. 


"Mas são só filmes!" Não, são a forma que nós enxergamos o mundo. E ela pode ser tão problemática quanto a representatividade no cinema.

Na lista tem algumas coisas boas, tipo parece que dois personagens são representação LGBT+? Não posso afirmar isso, mas se o tumblr não tá mentindo o protagonista de O Jogo da Imitação é homossexual e se aquele artigo tá certo o de O Grande Hotel Budapeste é bissexual. Temos um negro. O filme do personagem negro é dirigido por uma mulher negra, a Ava DuVernay e Birdman é dirigido por um mexicano. Olha só quanta diversidade.

Para pensar mais dados sobre a diversidade no Oscar, nas premiações e no cinema, eu indico a leitura desses dois textos: And the Oscar winner is... a white, middle-aged man e #OscarsSoWhite - the diversity of this year's awards in one sad graph

E, olha, não é nem que homens-mal-do-Oscar e eu entendo que a diversidade de voz não é o único fator que torna um filme bom, mas isso é um sintoma alarmante de um problema maior e se a gente não tomar consciência, buscando formas de mudar isso, só vamos deixar se repetir. Por parte, eu acredito que não existam tantos filmes sendo feitos com protagonistas que representem diversidade e por pessoas de realidades diferentes, quanto os que estão sendo feitos pelos homens-brancos-velhos, então na hora de escolher é meio lógico o resultado. Então pra isso precisamos ir mais longe e criar incentivos para que mais pessoas tenham oportunidade de fazer filmes. Mas ao mesmo tempo, existe mesmo um problema na hora de valorizar outras realidades, considera-las tão importantes quanto essas "principais".

É interessante ver que os vencedores das categorias representam os juízes das categorias. Eles valorizam o que é bom, ou o que é bom de acordo com a realidade deles?

De qual cor eu preciso ser pra ganhar um Oscar? fonte


Agora mesmo, pra completar esse post fui perguntar pra Ana que tá mais por dentro do Oscar sobre filmes injustiçados que tenham protagonista/diretor/roteirista mulher. "Não todos ao mesmo tempo, que não é pra tanto, só um basta..." Aí eu paro pra pensar e, pera aí, como assim? Todos os filmes do Oscar, menos Selma, são dirigidos, roteirizados e protagonizados por homens. (posso ter perdido algum, porque olhei rápido e nomes americanos podem confundir, mas um que seja não muda o fato) E eu aqui sendo razoável querendo uma mulher em uma dessas três opções. Isso porque eu to focando só em mulher. Parece até que não existe uma diretora, mulher, asiática e queer. 

Pensando rápido: diga um filme com roteirista, diretora e protagonista mulher. Os dois primeiros que eu consigo pensar foram Crepúsculo e 50 Tons de Cinza, pois é. Nenhuma outra adaptação de YA completa os 3, às vezes nem 1. 




Achei interessante acima. As vencedoras negras de Oscar e os papeis que elas representaram. Selma, o filme desse ano, entra no mesmo caso. 

Os filmes que a Ana me indicou são Invencível, dirigido pela Angelina Jolie (roteiro e protagonista homens), e Grandes Olhos, protagonizado pela Amy Adams (direção e roteiro homens). Esse segundo, do Tim Burton, achei interessante que é a história de uma mulher pintora que enfrenta problemas porque seu marido toma os créditos de seus trabalhos (de acordo com a sinopse). 

Enfim...

É triste.

-dana martins





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3 comentários

  1. Oi! Achei o post interessante. Vi muita gente falando sobre nenhuma mulher ter sido indicada para melhor diretora, mas não vi ninguém falando sobre todos os protagonistas dos indicados a melhor filmes serem homens, sendo que foi uma das primeiras coisas que eu notei.
    Não sou muito ligada a Hollywood e não vou com a cara de muitos desses "filmes de Oscar", então sou suspeita para falar, mas não acho que o Oscar seja um prêmio meritocrático em relação à arte. Para mim, todos os prêmios mainstream são mercadológicos, mesmo que com suas limitações e exceções (como o Beck ganhando da Beyoncé nos Grammys). E o fato é que, em praticamente qualquer gênero de cinema, filmes sobre homens brancos vendem mais. Por isso, eles têm mais dinheiro para fazer grandes produções, e o marketing é grande, e a gente acaba conhecendo esses filmes e ficando com vontade de ver.
    Eu acho que a mudança está nas mãos dos consumidores. Se a gente consumir mais coisas diversas (porque tem muita coisa boa sendo feita por aí, só que com menos verba. E ver filmes de outros lugares que não os EUA já ajuda bastante), vão produzir mais. O problema é sair do nosso comodismo (por exemplo, eu quero ler livros diferentes e tenho vários na lista, mas acabo dando prioridade para os de sempre, pq quero ler estes há mais tempo) e ir atrás do que está sendo feito por aí.
    Enfim, não sei se a minha visão é ingênua e/ou pessimista (não entendo profissionalmente de publicidade e da indústria artística, haha. É só achômetro mesmo). De qualquer jeito, acho bom que estejamos discutindo isso, já é um primeiro passo. Mas ainda temos um longo caminho para percorrer.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Marília, concordo com você que procurar o que esteja sendo feito fora de Hollywood seja uma solução, mas ainda é uma solução problemática. Essa ano só Sniper Americano foi totalmente feito por estúdios americanos. Os outros são produções independentes ou com particpação de estúdios britânicos. Ou seja, eles estão procurando fora de Hollywood, mas ainda com o mesmo tipo de padrão. Praticamente andando em circulos.

      O público hoje em dia tem a opção de divulgar aquilo que gosta, então talvez o caminho fosse realmente assistir obras feitas por mulheres e divulga-las. Procurar obras dentro de hollywood ou fora e fazer comentários bacanas, divulgar na internet, passar para os amigos. Fazer o marketing mesmo do filme. Porque se continuar no padrão de comentar só aquilo que aparece ou que está em destaque nos cinemas, vamos continuar no padrão de só filmes de homens brancos cis serem conhecidos.

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