aladdin CCLivros

Clube de Escrita: A arte de criar ideias do nada

13.6.13Dana Martins


"- Às vezes eu me sinto...
- Você vive...
[juntos] - ...preso."

Se você está igual ao Aladdin e a Jasmine, precisando de um gênio. Quer dizer, preso... eu venho hoje com o complemento do post onde eu mostrei como faço para desenvolver ideias e sair do bloqueio criativo. Em vez de criar a minha ideia, dessa vez eu vou falar de algumas coisas que eu uso. 

Tirar ideias do nada é realmente simples, mas não tão fácil. Acho que se você não tem o costume de ver opções, fica complicado ver isso. Tem gente que olha para uma parede branca e acha que não tem nada para falar sobre uma parede branca. A sacada é abrir a mente e ver o que você pode falar sobre tudo. E se esforçar. Quanto mais você fizer, mais fácil fica.

Por que você não fala sobre não saber o que falar sobre uma parede branca? E pesquise "parede branca" no google, cada parede branca é diferente da outra. Qual a diferença entre elas? 
Não rejeite as ideias que passarem pela sua cabeça - nenhuma - e, quando nada passar, enfie alguma coisa aleatória pronta. Eu sempre enfio alienígenas. (não foi uma nave que caiu lá em cima na conversa das velhinhas?) Coloco uma nave, um alienígena, uma abdução no meio e vejo como a história ficaria a partir disso, tendo que alterar tudo o que eu sei pra se encaixar nessa realidade. Isso me ajuda a ver tudo por outro ângulo, mesmo que eu não vá usar alienígenas no final. Você pode usar que a sua protagonista é uma garota de programa (boom!), ou que aconteceu algum assassinato, ou que acabou a luz (o que os personagens fariam?). Até roubar a trama do livro que você tá lendo agora: de repente, minha personagem descobriu que é louca por sexo! Ou que é uma sereia. Se ainda assim você não conseguir pensar em nada: 1- seja sincero e pare de fugir, você está se bloqueando. 2- abra um site de notícias e pegue a primeira que você bater o olho, independente de qual for, e arranje um modo de isso se encaixar na história. 

Faça sempre perguntas. Tá ruim. Por que? A personagem é chata. O que precisa pra ela ser legal? (insira algo que você acha que tornaria alguém interessante) Virar cantora de uma banda de rock. Pronto. 

Veja de outros ângulo. A penúltima dica fala sobre isso, mas acho que vale a pena um tópico extra. Tente pensar tudo ao contrário. Faça a mocinha virar a vilã. Procura o lado bom no personagem mais desprezível. Procure os valores conservadores no personagem transgressor. Ou nem tanto assim. Jogue coisas aleatórias no meio. Seus personagens estão em uma sala e você não sabe escrever. Coloque a garota de calcinha, ou o garoto pelado. Você com certeza vai ter que escrever para explicar isso. Basicamente, você tem que pegar ideias que parecem absurdas e dar sentido.

"Gosto de pamonha", a personagem diz do nada. Mas isso não tem nada a ver com a história! Eles estão no meio de uma missão secreta pendurados por uma corda sobre um sistema de alarme conectado a laser.* Que se dane, faça ela dizer isso e faça isso parecer real com a história. Roube elementos fixos (seu pai acabou de entrar no quarto chamando para o almoço) e jogue isso na sua história. 
*Tudo o que eu precisei para ter ideia desse ambiente foi me perguntar: em que lugar parece extremamente importuno a personagem dizer isso? Isso já me dá a ideia de que também o alarme detectaria som. Ou que talvez fosse um casal na cama à la 50 Tons de Cinza.

Ou dê características banais ao personagem: ela adora Beatles. (por que? como isso influencia na vida dela? vai ter algum show? ela tem camisas? cds? ou só no ipod? ela tem dinheiro pra ter um ipod? o outro personagem também gosta? ou não gosta? isso dá um diálogo?)

Você pode fazer isso, qualquer um pode fazer isso. E se permita escrever lixo. Se permita a embarcar em ideias pela diversão. Se permita escrever sem preocupação.

Se permita escrever sem saber o nome certo, o motivo certo, definir a coisa certa, o nome exato do remédio para pessoa com gripe, ou se a pessoa com gripe precisa de remédio quanto tá com gripe... escreva o que você achar que é. Isso é se permitir escrever lixo, é se permitir ser ruim, errar. 

Eu cheguei a ler que o F. Scott Fitzgerald vivia escrevendo sobre a França sem nunca ter ido pra França (em uma época muito longe de existir qualquer coisa como o google, só para lembrar). Mas continuava sendo bom porque pouco importava se ele inventava coisas, ele estava escrevendo bem. Você não precisa na versão final não ter pesquisado, mas no primeiro rascunho não precisa disso. (já falei sobre as fases de escrita)

Curiosidade: 
Eu sempre quis escrever uma história contemporânea sobre dois jovens, mas eu fico com tédio fácil e sempre acabo caindo no meio de futuros diferentes com tecnologia e ação. Não sei por que, tinha formado a ideia de que eu não conseguia imaginar uma trama para uma história no mundo real interessante. Me forçando a ter algo desenvolvido para o último post, cheguei a uma opção que realmente me agradou - algo que eu gostaria de ler e que abre mil possibilidades de algo legal para tratar. Moral da história: às vezes a gente cria dogmas próprios e não vê além, mas basta a gente ignorar isso e começar a forçar para se surpreender. A pergunta é: será que não dá mesmo? Transforme o impossível em real (literalmente). Por isso desafios são importantes.

Comece a treinar, dá pra fazer agora sem muito trabalho. Pensei em alguma coisa. Qualquer coisa. Escreva o que você pensou (no caso lá foi uma menina de cabelo rosa andando em uma rua de dia), complete essa imagem e tenta entender o que tem de interessante nela. Depois descubra por que ela estaria na história. Questione detalhes do que você fez (imaginou um vaso. qual é a cor do vaso? por que ele está ali? quem colocou ele ali? quem é essa pessoa?). Aceite ideias malucas. Escreva muito lixo. Veja de outros ângulos. E isso é ótimo para fazer também com imagens. (:

Caso queira alguma, deixo aqui a minha preferida do post com imagens da chapeuzinho vermelho


Eu fazendo as perguntas:
Que cachorro é aquele, por que tem matinho nascendo do asfalto, por que a parede é verde, por que a janela é daquele jeito, o que ela está levando, ele é o mocinho antes da jornada (e futuro corno) ou lobo domado depois da história? Troque os papeis: ele funciona como a mãe, os dois são jovens empreendedores que abriram uma loja de cupcakes, ele é o irmão dela e isso foi só uma foto depois dela dar um beijo de despedida na bochecha dele, o cachorro foi atacado por um vírus e está prestes a atacar. Sempre vi isso como ela na rua pra sair, então talvez fosse legal imaginar que isso é dentro de casa na garagem. A camisa preta dele poderia ser, na verdade, um monte de tatuagens (por que ele tem tanta tatuagem?). Os óculos dela na verdade são o sutiã e ela teve que se vestir às presas para entrar uma encomenda relâmpago de cupcake (imagina quando ela - ou alguém - perceber que o sutiã tá no pescoço!). E como ela tem que ser distraída para sair assim... E talvez seja por isso que ela pegou o atalho. E talvez não seja exatamente nos docinhos que o "lobo mau" esteja de olho. Abra a imaginação, olha só quanta coisa você pode escrever! 

A pergunta da Anna me deu ideia para mais um post, que vai ser o próximo onde eu venho para falar sobre "No meio de tantas ideias, como eu escolho a próxima?"

-dana martins

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