amizade CCReflexão

Eu não tenho obrigação de satisfazer as expectativas de ninguém

30.11.18Jota Albuquerque


Vivemos numa sociedade que não aceita sinceridade. E quando falo sinceridade, é ser honesto consigo mesmo ou com os outros sem maldade. O capitalismo, as pessoas no poder e pessoas arrogantes são quem lucram com a nossa inabilidade de dizer "não" e de nos expressarmos quando sem vontade de algo, sem querer fazer algo ou simplesmente não gostando de algo (seja atitude, sejam falas, seja produtos, etc.).

Por isso tantas amizades nossas podem acabar por uma simples fala como "essa atitude não foi legal", "isso que vocês fazem é horrível", etc. Porque as pessoas se fecham para reconhecer que estão erradas e que as pessoas podem não se sentir da maneira que ela se sente. Por isso que as pessoas acham que você tem que mudar sua personalidade por completo, mudar quem você é para o interlocutor, e isso não deveria ocorrer.

Infelizmente estamos tão centrados em uma cultura que promove a falsidade e incapacidade de dizer "não", que não notamos os problemas que essas coisas acarretam em nós e quantas situações problemáticas criamos para nós mesmos em decorrentes disso.

Eu, particularmente, prefiro que meus amigos sejam honestos comigo, discordem, me dêem sermão quando eu fizer cagada e saibam dizer não e respeitar o meu não, do que concordar com tudo que eu diga e faça. Amizade, por mais que às vezes não gostemos de ser contrariados e escutar que estamos errados, não se trata de só baterem nas nossas costas e estarem do nosso lado em qualquer tipo de situação, afinal, podemos estar errados e precisamos admitir quando estamos errados, não fazer parte do senso comum do nosso Ocidente que não quer reconhecer e aprender com os próprios erros. Reconhecer quando fazemos cagada é o que nos diferencia dos animais não-racionais, porque podemos pensar e consertar as coisas, podemos evitar de repetir o mesmo ciclo vicioso.

Mas quando eu não devo satisfazer as expectativas arrogantes que todos nós temos, eu também preciso trabalhar para que eu não espere coisas das pessoas que não são de seus feitios ou que elas não podem me dar, assim como aprender a reconhecer quando eu estou depositando uma esperança em alguém de agir da maneira como eu agiria em relação à fazer algo de algum jeito que ela não vai fazer, porque o jeito que eu faço, ninguém mais faz e porque eu preciso aprender a aceitar as pessoas por quem são.

É difícil? É. E eu só percebi essas coisas recentemente, sabe? De perceber que você deposita um espelho de expectativa em alguém, esperando que esse alguém faça ou te responda do jeito que você faria ou que você gostaria (e não estou falando sobre desrespeito ou preconceito, hein, tô falando de coisas não-problemáticas que os outros fazem que a gente espera que eles façam como nós esperamos... acho que deu pra captar), e é muito importante aprender a reconhecer esse tipo de coisa.

Para ilustrar melhor, vou dar um exemplo do que ocorre comigo em relação a um amigo: 

Esse meu amigo fica muito chateado comigo, e eu percebo, se eu falo "não" ou se, no geral, discordo dele sem sorrir ou brincar. Para ele, não sei se conscientemente ele percebe, eu estou sendo grosso ou "descontando" nele seja lá o que é que for com que eu esteja puto. 

Já eu, espero poder conversar com ele da mesma maneira que eu e uma amiga fazemos (mesmo sem entender totalmente o universo do qual ele é apegado, puxando conversando, tentando compreender um pouco), mas ele não faz o mesmo que eu, então muitos dos assuntos que eu converso, ficam "restritos" (não que seja impossível conversar com ele sobre essas coisas, mas é como se existisse uma linha, que é até onde dá para chegar, mas não dá para rasgar essa linha e ir adianta, saca?).

Então não só eu estou tentando me desapegar do que boto de expectativas sobre ele, mas como ele poderia fazer o mesmo. Assim como todos poderiam fazer. Nos pouparia muitas brigas, muitos desentendimentos e decepções.


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