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Juntando os Pedaços, de Jennifer Niven

22.12.16Taiany Araujo


Quero que saiba que estou torcendo por você.

Eu quase nunca entro no email do blog. Eis que entrei e vi que tínhamos um email da Companhia das letras com os livros que podíamos pedir de parceria. Resolvi dá uma olhada e li a sinopse de um chamado Juntando os pedaços. EU QUERIA ESSE LIVRO, EU VI O FILME DA MINHA VIDA PASSADO COM A SINOPSE DESSE LIVRO. Corri lá no grupo pra falar que queria o livro, a Bells já tinha pedido ai à gente entrou num consenso e o livro ia ficar pra mim mesmo, ok.

Tempos depois chega o correio na minha casa com um livro que eu não fazia ideia de quem tinha pedido (já havia esquecido que EU queria um livro da Cia), mas ao abrir e ler a sinopse fiquei pulando loucamente porque era meu, só meu, todo meu.

quando eu percebo que o livro é pra mim

Até esse momento ainda não tinha me ligado no autor do dito livro, então imaginem meu medo quando descobri que esse era o mais novo livro da Jennifer Niven. Essa mulher me destruiu com Por Lugares Incríveis e apesar de ter amado a história, eu não sabia se estava pronta para mais uma montanha-russa de emoções, choro, esperança e desesperança e mais todos os outros sentimentos que ler uma história contada por ela me gerou.

Segundo a autora, ela escreveu Juntando os Pedaços como uma resposta a todos que escreveram para a ela depois de Por Lugares Incríveis, como uma forma de dizer o quanto cada um de nós é importante, querido e amado. Ela havia respondido a cada pedido, havia repetido tantas vezes o quão aquelas pessoas eram especiais. Então ela resolveu escrever sobre isso. Uma história que falasse de pessoas com problemas, que lutam com suas questões, que enfrentam coisas duras. A própria Niven estava lutando com o luto pela morte da mãe, com fato de esse ser o primeiro livro que a mãe não leria dela. Cada um de nós enfrenta coisas difíceis na vida, com esse livro ela veio nos apresentar duas pessoas e como elas lidaram com essas coisas difíceis.

Junte um pedaço de amizade com outro de autoaceitação, mais outro de amor e ainda um de esperança — todos juntos compõem a história de Libby e Jack.

Eles são tão a Libby e o Jack, e essas duas imagens então <3

O livro segue a história de dois adolescentes de dois mundos diferentes. De um lado temos Libby Strout que finalmente encontrou a coragem de voltar para a escola depois de ter sido educada em casa por quatros anos por causa de seu problema de peso causado pelo estresse pós-morte da sua mãe. Comer tornou-se seu mecanismo de defesa, uma maneira de controlar a dor pela perda da mãe, o problema é que isso não só fez com que ela fosse reconhecida como a garota mais gorda dos EUA, como também que ela ficasse presa dentro de casa e precisasse ser retirada com a ajuda de um guindaste. Depois desse fato, a Libby e o pai perceberam que precisavam de ajuda, médica e psicológica. Agora, ela está bem, emagreceu, e apesar de ainda precisar perder 90 quilos, tá super de boas com seu corpo e pronta para voltar a viver.

Do outro lado temos o Jack Masselin, um garoto super popular que aparentemente tem a vida perfeita, mas que sofre em segredo de uma doença chamada prosopagnosia, conhecida como cegueira facial, que é a incapacidade de reconhecer rostos de outras pessoas, mesmo da sua família. Ele desenvolveu o truque de olhar para identificadores para que ele consiga distinguir quem é quem ao redor dele, entretanto isso tá se torando cada vez mais difícil e deixando ele em situações complicadas. Além disso, Jack descobriu que o pai estava tendo um caso logo depois de o mesmo ser diagnosticado com câncer, e apesar de o pai ter passado pelo tratamento e estar bem agora, o fato de ele ter uma amante não deixa de revoltar o filho mais velho.

– Você nunca fez nada maldoso ou idiota sem pensar? Alguma coisa de que se arrependeu imediatamente? – Ela não responde, então continuo: – Às vezes as pessoas simplesmente fazem merda. – Às vezes porque estão com medo. Às vezes elas escolhem fazer merda com os outros antes que possam fazer merda com elas. É uma forma de auto-defesa de merda.

Cada um a seu modo, os dois tentam juntar os pedaços de quem são. Quem é a pessoa que eles veem no espelho, quem é a pessoa que eles acreditam que os outros veem, quem é pessoa que eles gostariam de ser, e a pessoa que foram, quem está por trás de todas as coisas que nos faz ser como somos. E é durante essa tentativa de juntar os pedaços que o universo desses dois irá se juntar quando uma brincadeira de mau gosto inventada pelos amigos de Jack - o Rodeio das Gordas - faz com que Libby seja humilhada na frente da escola toda. Esse é o primeiro passo, não só para que nós comecemos a juntar os pedaços sobre quem são Libby e Jack como também para eles possam descobrir isso por si mesmos.

Eu fique super empolgada para ler sobre como o personagem ia lidar com a prosopagnosia, uma doença muito mais comum do que se imagina. Acredita-se que pelo menos 2% da população sofra desse mal. E talvez ela nem saiba que não reconhecer rosto não é algo comum, assim como o Jack não sabia. Além disso, a maneira como Jennifer Niven tratou a gordofobia foi tão real. A Libby já sofria bullying quando criança por causa do seu peso, e a maneira como ela lidou com a morte da mãe só fez com que as pessoas achassem que podiam dizer o que queriam, que sabiam o que acontecia com a Libby e o pai, que sabiam o que era melhor para uma garota que só queria que alguém dissesse que tudo ia ficar bem.

A autora conseguiu mostrar o que acontece quando a gente tá bem, quando a gente se reconhece como alguém especial que merece ser amado como qualquer pessoa, mas que enfrenta o julgamento dos outros todos os dias, os olhares enviesados e reprovadores, de cobrança e repulsa para com o corpo gordo. A Libby só quer ser aceita, só quer dançar e participar das atividades escolares como qualquer um, mas tudo o que recebe é hostilidade. Ela é gentil, inteligente, alto astral , compreensiva e tantas outras qualidades que são deixadas de lado pelas pessoas por não estar dentro dos padrões de beleza atual. Pior, ela é humilhada e ridicularizada por isso. É tão triste saber que essa muitas vezes é a realidade das pessoas gordas. O bullyling acontece de forma direta ou na base da brincadeira. Machuca todas às vezes.

Sei o que está pensando: Se você odeia tanto isso, se é um fardo tão grande, emagreça, e seu problema estará resolvido. Mas estou confortável assim. Talvez eu perca mais peso. Talvez não. Mas o que as outras pessoas têm a ver com isso? Quer dizer, desde que eu não sente em cima delas, quem se importa?

Sinceramente, eu amei a Libby e o Jack juntos, a forma como eles vão se aproximando e se permitindo. Mesmo dentro de seus defeitos e traumas, eles realmente conseguem se enxergar como são. Libby a fortaleza que se ergueu sozinha e por isso mesmo tem rachaduras que parece só o Jack consegue ver. E o Jack, um menino que parece ter tudo que todos sonham, mas que é inseguro e na verdade está fingindo e ferindo outros primeiro para não ser ferido por eles.

Melhor ser o caçador do que a caça. Mesmo que a caça seja você mesma.

Uma coisa que me deixou chocada foi saber o bafafá que esse livro teve antes mesmo do seu lançamento, existe uma espécie de classificação de sinopse e ele ficou com uma ou duas estrelas por dois motivos: o Jack ter descrito o cérebro dele como quebrado e a Jennifer ter falado de uma menina gorda sendo que ela mesma não é gorda. Mas vamos tentar refletir sobre esses dois pontos.

Primeiramente, uma pessoa pode se referir a si mesma como quiser, naquele momento a autora dava voz ao Jack, ele dizer que considerava o cérebro dele quebrado não significa que as pessoas com prosopagnosia ou qualquer outra doença neurológica, psicológica, entre outras, sejam pessoas quebradas. Acredito que tenha faltado um pouco de interpretação e analise da situação, e até boa vontade de quem leu a sinopse e já foi julgando-a. A aceitação não acontece fácil, se ver diante de doenças, principalmente doenças sem cura, faz com que muitas vezes nos enxerguemos com alguém falho e defeituoso, mesmo que isso esteja muito longe da verdade. Para mim, a autora só estava ilustrando como o Jack se sentia com ele mesmo, ela não estava falando que as pessoas com prosopagnosia tem cérebro quebrado.

E sobre o fato dela ser uma mulher magra falando sobre uma garota gorda, bom, eu sou uma garota gorda e acho que ela falou muito bem sobre a minha realidade. Além disso, para quem não sabe a própria Niven foi uma garota gorda na infância/adolescência e sofreu bullying por isso. Ela mesma diz que o livro tem muito da experiência que ela passou. É claro que ficamos com raiva quando alguém rouba nossa voz, quando alguém fala de uma realidade que não é dela, quando alguém ao invés de apoiar, se apropria da luta do outro, mas é preciso parar um minuto para ver se isso está mesmo acontecendo ou se a gente está vendo apenas a superfície. O fato de a Jennifer estar magra hoje não apaga as vivências dela, e não faz com que ela tenha menos direito que eu de falar sobre esse tema, assim como o fato de eu ter 90 quilos e não 120 não diminua meu direito também.

Em Juntando os Pedaços, a Jennifer usa um primo que tem prosopagnosia, sua relação com o bullying e o luto pela morte da mãe para nos dizer que não estamos sozinhos, que não podemos desistir, e que a vida é bela apesar de tudo.

Querido amigo,
Você não é uma aberração Alguém gosta de você. Alguém precisa de você. Você é único. Não tenha medo de deixar o castelo. Tem um mundo enorme e maravilhoso lá fora.


Nota interessante/curiosa: O Brad Pitt tem prosopagnosia


Ps: Mesmo essa sendo a capa lá de fora, eu achei ela tão sem graça, se tivesse só visto a capa com certeza não ia ter dado uma chance ao livro.

Nota:
amei

Ficha Técnica


- Autora: Jennifer Niven
- Editora: Seguinte
-À venda em: SaraivaAmazon , Submarino.















Eternamente agradecida à editora Seguinte por ter cedido esse livro MARAVILHOSO pra gente <333



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5 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Amei a resenha! Também me identifiquei com a história e achei muito injusto o que fizeram com a autora. Já é tão difícil encontrar escritores corajosos o suficiente para abordar a gordofobia e colocar uma protagonista gorda.
    Não sou mais adolescente mas durante a leitura só conseguia pensar em quanto precisei ler um livro assim durante minha adolescência. Como precisei me sentir representada naquela época e infelizmente não encontrei essa representação.
    É um livro muito importante, não apenas para aqueles que se identificam ou passaram por situações semelhantes, mas para todos.

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    1. Diana, acho que esse foi o primeiro livro que leio onde a gordofobia foi realmente discutida. Fiquei mega feliz como a autora desenvolveu tudo. Que venham mais livros assim.

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  3. Eu tinha ouvido falar de um bafafa com o livro, mas não sabia o que era. Não posso comentar pq nem li nem fiz parte disso tudo.

    Só queria acrescentar que mesmo que seja o garoto se vendo como defeituoso, o que acontece, ainda é ruim porque livros não são uma representação só dá realidade, eles reforçam uma perspectiva sobre a realidade e quando as pessoas sempre repetem a mesma perspectiva, mesmo que em alguns casos seja verdade, pode virar opressão, que é o que acontece na repetição de se ver como cerebro defeituoso em situações assim. Ou seja, ser a realidade e a visão do personagem não desfaz as consequências de repetir o padrão tóxico.

    Mas enfim, acho tbm que criticar já pela sinopse é sacanagem. Ainda mais que não dá pra saber como vai ser construído. A idéia mesmo de ser defeituoso podia ser subvertida. Não sei nada do livro e daqui pode ser uma merda ruim msm ou mt bom. Ou seja, não dá pra criticar HAHAUA

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    1. Dana, eu até entendo seu ponto de como uma repetição pode reforçar uma perspectiva da realidade, mas realmente sente que nesse caso em especifico não é isso que ocorre. O personagem sabe nada da doença, na verdade, ele meio q se auto diagnosticou pela internet. Seria muito difícil ele não ter uma idealização negativada dele mesmo, mas ao logo do livro tanto ele como nós mesmo vamos aprendendo mas sobre e entendo.

      é claro que ela poderia não ter posto o "cérebro defeituoso" na sinopse, já que as pessoas não sabiam como as coisas se desenvolveriam e poderia receber isso de forma negativa (como receberam)? poderia. Mas como você mesma falou criticar já pela sinopse é sacanagem, é desconsiderar muita coisa.

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