Alice Oseman assexualidade

[Resenha] Rádio Silêncio, de Alice Oseman

3.8.19Dana Martins


Rádio Silêncio, da Alice Oseman, está sendo lançado pela Rocco nesse agosto e quando eu li esse livro em 2016 foi uma história que me fez muito bem, então pra comemorar decidi fazer uma nova versão da minha resenha pra compartilhar o meu amor por esse livro, que mesmo 3 anos depois continua deixando o meu coração quentinho só de lembrar.


Eu demorei pra fazer resenha desse livro, mas eu não sei se posso fazer uma resenha boa. Ou expressar o quanto eu gostei dessa história.

Primeiro, porque a minha emoção de terminar foi canalizada num Batdrama.

Segundo, porque muita coisa é spoiler.

Aviso de Representatividade:
  • Protagonista bissexual. mas no livro também tem vários personagens que são gays, fala de assexualidade e demissexualidade, heteronormatividade, e ser agender. 
  • Protagonista negra, uma das amigas dela é descendente indiana e o outro coreano.
  • Também fala de depressão. 



Rádio Silêncio (Radio Silence) é um YA contemporâneo, ou seja, a história de uma garota chamada Frances que vive hoje em dia como a gente, e está em seu último ano da escola naquela fase de desespero para conseguir entrar pra faculdade. O único diferencial na sua vidinha pacata de estudante é o seu podcast preferido, o Universe City. 

O Universe City é um podcast em formato de história protagonizado por Radio, um pessoa tentando escapar de uma faculdade futurista bizarra. O podcast é feito como mensagens de Radio pedindo socorro a seja lá quem esteja ouvindo, se alguém está ouvindo.

Quando Frances acaba conhecendo a misteriosa pessoa por trás do podcast, ela se dá conta de que talvez essa pessoa também precise de ajuda.

Eu sei que eu estava procurando um livro pra ler, um que fosse desses tão bons que você não quer parar, e Radio Silence foi isso. De algum modo, a história reflete bem o momento de "o que fazer com a minha vida?" que surge quando você está terminando a escola, e também fala disso em um nível mais pessoal, voltado pra o "quem eu sou?" Eu não sei explicar, mas é como se quando você tivesse na escola, às vezes você não fosse você. Você tivesse essa versão de você que tá na escola, mas é separada de "quem você é", por uma mistura de razões. Às vezes você tem vergonha de falar o que gosta, ou existe aquela expectativa dos 18 anos - o momento que você vai ser adulto e, finalmente, ser dono da própria vida! 

Eu tô me sentindo velha agora, mas acho que uma das maiores mudanças entra os 17 e os 24, pra mim, é a forma como a gente leva a sério regras sociais e "adultos". Eu nunca levei a sério pra valer, mas existe um certo medo que vem de não entender realmente o outro lado. Existe aquilo de achar que você precisa se encaixar, ou ser alguém. 

Acho que a melhor maneira de explicar isso é calouro da faculdade vs. veterano. Calouro tira xerox de tudo, se preocupa com nota, tem medo de faltar, compra material escolar e só falta perguntar se pode sair pra ir ao banheiro. Veterano chega no último dia de aula só pra fazer prova e ainda pede caneta emprestada. E essa preocupação como um todo é muito grande na época da escola, e a gente acaba escondendo quem nós realmente somos enquanto tentamos cumprir a to-do list de quem deveríamos ser.



trecho de Universe City
"Há muito tempo uma terrível predisposição para nunca dizer uma palavra tem me afligido, e honestamente eu não consigo entender por que ou como isso aconteceu. C'est la vie."

Então Radio Silence também aborda esse processo de encontrar a liberdade pra gostar do que você gosta, e pessoas que gostam do que você gosta, e descobrir que a vida não precisa seguir um roteiro. E, também, acho que parte disso vem de aprender a falar e se expor.

Pensando agora, no meu podcast com o Adson (Batdrama) a gente já falou bastante sobre algumas coisas nós não aprendemos, e aí agora já adultos temos problemas por causa disso e acabamos precisando nos reeducar. Em parte Rádio Silêncio é sobre alguém que nunca aprendeu a pedir ajuda, e o Universe City é a forma que encontrou pra se comunicar. 






Frances, Aled e Daniel fazendo cosplay de Doctor Who, não tem no livro, mas.

Além disso, Radio Silence foca na amizade, no último ano de Frances na escola, e um pouco de como é fazer parte de fandom online e criar um podcast famoso no youtube. Eu sempre fico com pé atrás quando tem fandom e internet nos livros, com medo de que seja aquela coisa de tiazona falando coisa estereotipada, mas Radio Silence bate bem perto da realidade, e é legal ver o impacto de mensagens de ódio e de fandom na vida dos personagens. Isso sem ser nenhum tipo de "mensagem sobre a internet!!!" Não, é só que Frances vive na mesma época que a gente, e a internet e tudo o que a gente vê por aqui é uma parte da vida dela. Ponto.  

trecho
"Eu meio que quero dizer algo antes que a gente continue.
Você provavelmente pensa que eu e Aled Last vamos nos apaixonar ou algo. Já que ele é um garoto e eu uma garota.
Eu só quero dizer-
Nós não.
Isso é tudo."

Meu capítulo preferido - o momento que a personagem para a história pra jogar na nossa cara que não é só porque tem um garoto e uma garota e eles são amigos, que eles vão se apaixonar. 
trecho
"Eu tenho certeza de que você acha que eu estava reclamando de nada demais. Você provavelmente pensa que eu sou uma adolescente chorona. E sim, tudo isso estava só na minha cabeça, provavelmente. Isso não significa que não era real. Então vai todo mundo se foder."

Outro dos meus momentos preferidos, quando a protagonista responde aqueles comentários de "Você tá mal com isso? Mas tem gente sofrendo mais no mundo."

Os personagens também são muito parecidos comigo, de diversas maneiras. Dá até um pouco de medo.

E no final acontece umas coisas tão legais que eu tava FDSHJUASOAAPASKASKDASOSAKSAOk quase jogada no chão. 

Enfim, esse é um YA contemporâneo que eu indico muito.

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Agora eu envio o Batdrama por email, só se inscrever nesse link. Falo sobre vida, cultura pop, representatividade, escrita e... aparentemente sobre os livros que eu estou lendo além da resenha.

Revisão do texto publicado em 22/10/2016. 

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5 comentários

  1. Ah, parece incrível! Vou realmente buscar para ler, principalmente porque trata de assexualidade e demissexualidade que as pessoas não enxergam como algo existente né.
    Enfim, obrigada Dana, por mais uma excelente indicação (comecei a assistir Younger por causa do seus post tbm, entre outros hahaha).

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    1. obrigada pelo comentário! Fico feliz em saber disso. E a autora do livro é assexual, e o novo livro dela lá fora parece que vai ser sobre isso :)

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  2. "De algum modo, a história reflete bem o momento de "o que fazer com a minha vida?" que surge quando você está terminando a escola" Querida, tenho 28 anos recém feitos e ainda estou nesta mesmíssima fase! Kkkk
    Agora, sério: Amei sua resenha. Me "encontrei" com a autora no twitter no começo desse ano pelo anúncio de que sua Webcomic ganharia uma série na Netflix. Uau!
    Então andei pesquisando bastante. E me interessei ainda mais por saber que além da própria autora se identificar assexual arromantica (como eu ^^'), ela também aborda sobre isso em seus livros. E essa sua resenha me deixou com muita muita vontade de ler! Todas as partes que você citou aqui como sendo suas favoritas são coisas quais me identifico muitíssimo e passei por situações bem semelhantes. É uma sensação refrescante poder ler algo assim, é bom se sentir compreendido! Haha Hmm... Todas essas questões psicólogicas tão comuns à medida que entramos em nossas vidas adultas mas tão pouco exploradas. E se não estou enganada Alice era uma adolescente quando escreveu seu primeiro livro, então ela falava do que sabia, pois vivia... Enfim...
    Obrigada pela excelente resenha!

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  3. I appreciate you spending the time to make such a detailed piece. Having read this, I've learned a lot. Keep up the fantastic work! I can't wait to read your future blogs. It's always a pleasure to read your carefully considered and well-researched articles.
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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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