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Clube de Escrita: Por que eu escrevo?

12.8.14Dana Martins


Às vezes eu penso: por que eu escrevo? Só que eu acho que eu não tenho uma opção quanto a escrever. As coisas ficam vindo na minha cabeça até que se torna insuportável e eu tenho que simplesmente escrever. Eu não consigo fazer mais nada. Agora mesmo: eu tinha que escrever.

Na verdade, eu tenho que escrever. Estou escrevendo uma história que eu adoro e meu prazo pra terminar é amanhã, mas minha revisão não passou nem pela metade ainda. Já refiz umas 4 vezes o início. Essa é uma das drogas de revisar: eu começo lendo o início pra ver se está ok e é claro que ainda não está, então eu começo a refazer e o resultado é que eu tenho um início bem completo e um final que às vezes nem existe. E como eu estou lidando com o tempo, eu não sei se é mais produtivo eu me deixar ficar eternamente trabalhando na primeira parte ou tipo trabalhar em camadas. (Eu faço tudo. Aí eu reviso tudo. E tudo outra vez.) Parece que a segunda opção é a mais rápida, mas eu não consigo sair do início. E nem é só por rapidez, talvez eu esteja presa no início por algo do final e... droga. 


Mas por algum motivo eu não estou fazendo nem um nem outro. Não agora. Talvez às 5 da manhã baixe o espírito e eu fique revisando até meu cérebro parar de funcionar e eu dormir. Ou bem no meio do meu banho eu tenha que sair correndo para escrever algo. Mas agora? Agora eu estou escrevendo, mas não a história.

Eu pensei que talvez fosse porque eu não quisesse escrever. Ou talvez fosse porque eu estou tão viciada em Orange Is The New Black que eu quero assistir mais, ver vídeos extras, entrevistas, ler curiosidades. É um pouco isso, sim. Mas eu percebi que é porque eu também quero escrever sobre a série. Tem tantas coisas nela pra falar! A questão do politicamente correto, os livros que eles falam em cena, um estudo de como eles usam certos elementos narrativos ou de como eles trabalham a nossa percepção para quebrar estereótipos. Isso porque eu ainda nem consegui falar o que eu queria falar de Orphan Black, tipo a questão do estupro. Ainda tenho um texto sobre Faking It pra terminar. E outro sobre Korra.

como eu fico pensando em tudo o que eu quero fazer

É como se tivesse um monte de coisas que eu precisasse descobrir e discutir, eu não consigo ficar muito em paz enquanto eu não coloco pra fora. Só que eu quero também terminar a minha história, então eu não escrevo, mas como eu quero escrever sobre Orange Is The New Black eu não consigo me concentrar na história. Aí acaba que eu não escrevo nem um nem outro.

como eu realmente acabo lidando com tudo o que eu tenho que fazer

Ou eu escrevo um texto sobre por que eu escrevo. 

E esse é até um resultado produtivo, porque eu me permiti abrir o bloco de notas e vir aqui escrever tudo isso. Eu provavelmente teria ficado no twitter tentando ignorar coisas da série e pensando em como eu estou indo escrever sem realmente fechar tudo e abrir a história.

Aí chega um momento que eu penso... será que eu não gosto realmente de escrever histórias? Estou me forçando a fazer isso porque é algo que eu acho que eu gosto de fazer? Só que as histórias me perseguem também, com menos frequência do que ideias para posts. Mas nem sempre foi assim, o que me leva a acreditar que é uma questão de cultivar.

Fui procurar um gif para ilustrar cultivar e encontrei isso:


Mas na realidade ficar tentando escrever é mais:


É como se eu fosse um carro desgovernado. Eu tenho vontades, vontades de mil coisas e se eu ceder às vontades, elas vão me levar para onde elas quiserem. Só que elas vão e voltam como bem entendem. Então às vezes elas me abandonam no meio da viagem. E eu fico ali sozinha no acostamento com um trilhão de viagens inacabadas. Às vezes eu também penso que o importante é a viagem em si, mesmo que seja por um tempo limitado, a cada vez eu estou avançando ou conhecendo um lugar diferente. Só que... pra mim não é o bastante. Eu quero construir algo. Então às vezes eu tenho que assumir o volante. As vontades me ensinam aonde eu quero ir, mas eu preciso segurar firme no volante para chegar até lá.

E, por experiência própria, depois que você faz isso por um tempo, é como se as vontades aprendessem qual caminho você quer levar e começassem a aparecer sozinhas para te levar nessa direção.

Good Karma?

Tudo isso para me lembrar por que eu devo ser forte agora, bloquear o mundo e me forçar a escrever. Eu posso ter conquistado o vício de escrever posts, mas ainda preciso me treinar ao vício de escrever histórias.

A coisa engraçada é que depois de escrever tudo isso eu fiquei realmente mais tranquila. E acho que posso focar na minha história.

-dana martins

PS: Eu consegui terminar a história no prazo.


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3 comentários

  1. Olá!

    Há dez ou vinte minutos, em tinha certa visão da forma como trabalho nas coisas que escrevo. Agora, é provável que isso tenha mudado um pouco.

    Minha mente é um turbilhão de ideias. Elas levam muito tempo para aparecer – às vezes meses. Mas quando vêm, o fazem de tal forma que eu preciso escrever, me obrigo a isso. Pois é como se as histórias chegassem prontas ao meu cérebro.

    Quando começo a trabalhar nelas, porém, sempre acabo travando e bolando algo novo para fazer. Agora, por exemplo, estou com uma vontade tremenda de excluir tudo o que já escrevi nesta caixinha e criar um comentário totalmente novo. Mas acho que será interessante não modificar, porque isso demonstra bem a forma como escrevo.

    Eu – assim como você citou no post sobre si – tenho uma grande tendência a revisar infinitamente os meus trabalhos e nunca conseguir concluí-los.

    Já cheguei a pensar que é porque demoro muito neles, então acabo terminando com uma mentalidade levemente superior àquela que tinha quando os comecei. Eu nem ao menos sei se isso faz sentido, mas às vezes penso que o Luan que escreve é um ser inferior ao que revisa, de forma que não consigo respeita-lo a ponto de confiar nele. E esse é um processo maçante. Sei que estou errado em agir assim, só que não posso controlar, estou viciado.

    Bom, enfim, não sei se deu pra entender muita coisa do que tentei dizer. Está tarde e ainda tenho muito trabalho pra hoje. Porém, se minha dificuldade tiver transparecido neste comentário e você souber algum método que ajude quanto a esses maus costumes, por favor, não se acanhe em me ajudar.

    Fim. (desculpe, eu estava doido pra terminar assim)

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    1. Oi, Luan \o

      Eu não sei se realmente entendi o que você falou. Quer dizer, eu entendi, só faltou entender em que exatamente você quer ajuda. Pra terminar história? Pra parar de revisar?

      Uma coisa que ficou marcante no seu comentário é a ideia de "maus costumes" e que existe um jeito certo ou um jeito melhor. Não existe.

      E isso que você falou do Luan que escreve não ser tão bom quanto o que revisa, é interessante. Tem um texto que corre a internet de uma escritora que fala que a frustração do escritor é porque ele tem bom gosto. Ele sabe o que é bom. Ele sabe ser crítico. Só que ele ainda não tem a habilidade pra ser bom assim, então ele fica frustrado com o resultado. Você sabe o que é bom, mas não sabe como ser bom. E se não me engano a dica que ela dá é que você tem que ir fazendo mesmo assim. Treinando. Buscando fazer. Estudando. Acho que não deve existir um "fim" porque você pode sempre esperar ser melhor do que você é, mas você pode ir melhorando aos poucos.

      Seja legal com o Luan escritor, ele é que vai te levar a algum lugar. Deixa ele se divertir e fazer merda. E deixe o seu Luan crítico ser mais do que isso também, porque opinião todo mundo dá, né? Agora ajudar de verdade... E o seu Luan escritor precisa de ajuda pra descobrir onde melhorar e como melhorar. Tipo, X personagem tá ruim, como você pode melhorar?

      É difícil eu dar alguma dica direta de como melhorar (cá entre nós, eu também estou aprendendo), porque cada caso é um caso, cada história é uma história. Mas se permita ser ruim, construir algo completo. Tava lendo um texto esses dias que dizia "é melhor um domo deformado em Florença, do que uma catedral nas nuvens"

      Se quiser conversar e houver algo mais que eu puder ajudar, estou no twitter @danagrint

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    2. Oi, Dana \0,

      Meu primeiro comentário havia saído meio bagunçado mesmo. Mas você acabou entendendo exatamente o que tentei dizer sobre revisão.

      Achei superinteressante esse trecho sobre a frustração do escritor. Sobre o fato de sabermos o que queremos, mas não como chegar até lá. Até porque isso acaba abrangendo muito mais do que apenas a sintaxe de uma narrativa, e se fazendo valer para a história como um todo.

      Afinal, eu sei qual é a transformação que ocorrerá com a personagem no decorrer dos fatos, mas a graça está em me desafiar a fazer acontecer. Em mexer os pauzinhos e, assim como você citou, brincar com o meu eu escritor. Desafiá-lo a ser mais profundo e, simultaneamente, mais claro. Pois assim como ouvi uma vez, escrever é contar a história que você sempre quis ler, mas que ninguém escreveu ainda.

      Talvez, se o Luan revisor deixar que o escritor arrisque mais – e, consequentemente, erre mais – isso realmente seja ainda mais divertido até mesmo para se revisar. Você definitivamente está certa nisso.

      Aliás, essa conversa me deixou com vontade de escrever. Então, foda-se o sono. Estou com vontade de descobrir o que tenho a dizer. (rimou)

      Ah, e não sei se já falei isso, mas gosto daqui. Valeu pelas dicas, Dana.

      Até mais!

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