Back to the Future CCgames

Vídeo games como contadores de história (parte 1)

30.10.13Anônimo


Esse texto nasceu de uma conversa com a Dana sobre narrativas em jogos. Eu pretendia falar do jogo The Walking Dead, mas percebi que precisaria falar muito sobre estilos narrativos em vídeo-games para tal. E ao começar a tocar no assunto, conclui que ele era grande demais para um post só. Então isso vai ser uma série de textos sobre estilos narrativos nos games. Espero que vocês gostem:

Eu sou completamente apaixonado por Graphic Adventures, também conhecidos como Point-and-Click’s, um estilo de jogo do incio dos anos noventa cuja única mecânica necessária para jogar era o mouse, para clickar em personagens ou objetos com que se quisesse interagir. Esses jogos davam pouca liberdade aos jogadores, visto que as suas ações serviam apenas para desencadear uma série de eventos pré-determinados. A graça dos Adventures era o humor sardônico, que premiava a exploração com momentos excelentes, mesmo quando você não estava avançando na história. Sem falar na gratificação de descobrir a solução, muitas vezes absurda, para os problemas propostos - em uma época em que não existiam as respostas na internet e esse tipo de descoberta era motivo de orgulho.

chorem de emoção com esses gráficos
Eu cresci com Day of Tentacles, Grim Fandango, Sam & Max, Full Throttle e o eterno clássico, The Secret of Monkey Island. Por se tratarem de jogos extremamente focados no desenvolvimento narrativo, acabei tendo uma queda por esse aspecto dos vídeo games. Não ligo muito para jogabilidade ou gráficos, mas uma boa história sempre vai me conquistar. Infelizmente, com o passar dos anos, esse estilo de jogo foi sendo posto de lado, e por mais de uma década quase não houveram lançamentos no estilo. Até o belo dia em que a TellTale Games chegou. 

Feita famosa pelo jogo The Walking Dead, essa empresa tem produzido Point-and-Click’s modernos e feito muito sucesso. Ela resgatou títulos antigos do gênero, como Sam & Max e Monkey Island, e trouxe também novas propostas, como Back to the Future, Jurassic Park e seu lançamento mais recente, Wolf Among Us, baseado no universo das histórias em quadrinhos Fabulas. Os jogos são lançados em partes, como episódios de uma temporada, reiterando o enfase narrativo. Apesar de ainda se tratarem de histórias fixas, dão mais liberdade ao jogador ao apresentarem momentos chave de decisão que influenciam o desenrolar da história - inclusive apresentando no final de cada episodio gráficos comparando suas decisões com a de outros jogadores.

você e metade dos outros jogadores não é um psicopata
A palavra chave é investimento emocional. Eles querem contar boas histórias, e vale a pena ouvi-las, apesar da jogabilidade ser estranha para quem está acostumado com outros tipos de jogos. The Walking Dead é uma história sensacional, traz referencias a mitologia original das histórias em quadrinho, desenvolve reflexões filosóficas sensacionais e possui uma carga emocional extrema. O próprio contexto do jogo pede por esse drama, ao contar a história de Lee, um condenado que escapa da prisão graças ao vírus e se depara com uma menina chamada Clementine. Incapaz de abandonar a jovem, ele passa a atuar como responsável por ela, tentando protege-la da realidade horrenda que eles estão vivendo. O primeiro episodio, A New Day, é um pouco introdutório, apesar de ter momentos intensos; Starved for Help já entra com uma temática mais chocante e pesada, mas ao chegarmos em Long Road Ahead é que se percebe que é tarde demais para se voltar atrás. Eu vi homens chorarem com esse jogo, mais de uma vez. Lembrar do final me causa falta de ar. Acreditem, é pesado.

Existem, sim, outras formas de se contar histórias com vídeo game, e tratarei de explora-las uma a uma, mas a verdade continua sendo uma só: Point-and-Click’s ainda são os meus favoritos, e eu peço a todos que deem uma chance a eles. Se você gosta de boas histórias, você vai gostar desses jogos.

(A título de curiosidade, para quem achar que esse é o único exemplo de sucesso neste nicho de mercado, recentemente Tim Schafer, o criador de, sei lá, metade dos jogos que eu citei no segundo paragrafo, criou uma campanha no Kickstarter para a criação de um Adventure clássico com sua empresa, a Double Fine. Eles pediam a audaciosa quantia de 400 mil para a produção, e no final conseguiram mais de OITO VEZES isso.)

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