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Vamos repensar os Manifestos no Brasil, vamos repensar Jogos Vorazes

17.6.13Dana Martins


O sentimento de orgulho é uma coisa louca. O sentimento de poder também. Nós somos fortes, nós somos jovens, nós estamos na rua lutando. Estamos mostrando que nós somos mil vezes mais fortes do que tentaram nos fazer acreditar. É difícil não se deixar contagiar.

E é por isso que devemos continuar resistindo. Como assim? Você é contra os manifestos?

Pelo contrário. Eu só acho que... vamos pensar um pouquinho mais também. E hoje eu decidi mostrar como Jogos Vorazes conta a história das nossas manifestações e por que você tem que ficar de olho aberto.

Vou falar a verdade: a análise de Jogos Vorazes junto com a revisão do nosso mundo ficou grande mesmo. Eu pensei até em cortar, mas foda-se. Isso aqui é o nosso país e se você quer dar o primeiro passo sem conteúdo pra virar uma marionete por aí (ou já ficando com preconceito por ser Jogos Vorazes!!!)... azar o seu. Muito bonito ver como você quer mudar o mundo.


Se você tem acompanhado as manifestações, faz o favor de assistir isso antes de ter coragem de dizer que não tem nada a ver:


Bem, vou começar reapresentando a história. E se prepare para spoilers, porque dessa vez garantir o prazer de uma leitura não é a minha prioridade. Aqui o objeto não é só rever os livros, é rever o nosso país.

Em Jogos Vorazes temos um mundo futurista de um país que surgiu depois de algum tipo de apocalipse que acabou com o nosso mundo como é hoje (só uma forma de passar a borracha e criar um país como quiser). Esse país é Panem, um lugar dividido em 13 distritos e uma Capital, uma formulação quase genial:

Cada distrito é isolado, dedicado a um tipo de produção para não ser auto-suficiente e eles trabalham sob a mão de ferro da Capital.

Então, basicamente, a estrutura é: 13 distritos são explorados em troca de uma falsa segurança e outros recursos, enquanto na Capital eles controlam tudo e aproveitam a vida.

É claro que essa situação não é boa e os distritos se revoltaram, sob o comando do Distrito 13, o mais forte e distante. Só que eram todos muito desorganizados e em uma combinação estilo Guerra Fria a Capital negociou a "libertação" do Distrito 13, contando que eles não se metessem em Panem.

Para os outros 12 distritos... a coisa não foi nada boa. Primeiro, leis mais rígidas ainda passaram a vigorar. Segundo, eles não ficaram sabendo da combinação e nem que o Distrito 13 ainda existe. Terceiro, eles são submetidos a um castigo maior ainda: os Jogos Vorazes.

Como o narrador do filme "Jogos Vorazes" conta em poucas linhas no início: a história é de que o Distrito 13 foi destruído por punição (e exemplo), enquanto os outros receberam a bondade da Capital e em troca, todo ano, devem mandar 1 garoto e 1 garota como tributos para um jogo estilo lição de moral. "Olha a destruição que vocês podem causar se decidirem não obedecer"

Para o pessoal da Capital, é só o novo Big Brother. E até mesmo os distritos devem tratar os Jogos Vorazes como... uma Copa do Mundo. Festejar, torcer, assistir... pouco importa se é alguém da sua família em uma arena para matar o seu vizinho.

Tudo isso que eu disse tem implicações bem maiores e muito mais detalhes, você pode descobrir lendo o livro. O que me interessa aqui é uma coisa chamada "jogos vorazes."

Não o livro, não o filme... o reality show. O nome do livro é esse não é à toa, o livro é sobre esse reality show.

E o que tem esse reality show?

É o maior tiro na cabeça que a Capital poderia ter dado.

O que acontece é que em um país de medo, repressão, isolamento, alienação... eles conectaram cada pessoa. Cada pessoa. Todo mundo é obrigado a assistir os Jogos Vorazes. Todo mundo.

Eles estão conectados.

E por mais que a Capital tenha o controle sobre o que vai acontecer nos jogos, eles não têm o controle sobre o que os tributos vão fazer dentro dos jogos. Eles não só conectaram o país inteiro como deram poder a essas vítimas (tributos).

Já falei aqui que durante o primeiro livro Katniss começa a ter noção desse poder. Quando ela desafia os criadores dos jogos atirando uma flecha na maçã e na direção deles, ela pensa que vai ser punida. Só que eles não fizeram nada e nem poderiam fazer, porque eles não podem mostrar que estão perdendo controle diante do país inteiro (e muitos mais motivos).

Durante os jogos, consciente ou não Katniss controla isso. Quando faz o pacto com Rue, a menininha, ela não está só chorando pela irmã, a Suzanne não está só dando motivo para dramatizar quando a menina morre... para a população, isso é algo bem maior: não precisamos ser inimigos.

Veja bem, eles já não se conheciam bem (distritos) e quando se viam era em uma disputa sangrenta (ou em alianças cheias de suspeitas). Katniss mostrou que você pode se importar com o outro. Quando ela recebe o pão do distrito 11, fica claro que os outros também podem se importar com ela. Ela transformou a conexão em uma aliança.

No desafio final, quando em desespero ela decide comer as amoras venenosas junto com Peeta, ela coloca a corda no pescoço da Capital. Eles perderam no próprio jogo.

Só para completar, ao longo dos outros dois livros o foco é mais em como isso é usado. A Capital passa "Em Chamas" tentando manipular toda a imagem. O Distrito 13 passa "A Esperança" tentando manipular também toda a imagem. É uma guerra de ideologias, mídias e praticamente ditaduras. Katniss vira um peão na mão dos outros.

Tudo bem, e daí?


E daí que algo muito parecido aconteceu no nosso mundo. Algo muito parecido está acontecendo.

O nosso jogos vorazes é a internet. Ela nos conectou, ela nos mostrou que podemos ser realmente aliados.

Katniss é o símbolo da rebelião. Eu estava pensando... quem é o símbolo da nossa revolta? Quem é o nosso líder? Eu não sei nem quem começou com isso tudo e ao mesmo tempo eu sei que agora todo mundo é um pouco líder.

Curiosamente, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi: o facebook. E, pensando bem, o facebook é a nossa Katniss. Não só o facebook, todas essas pessoas que foram para as ruas.

O dia 13 de junho e a "Revolta do Vinagre", isso foi o nosso momento da flecha na maçã da boca do porco. Porque tem um detalhe crucial nesse momento: poder. Acertando a flecha na maçã, Katniss descobriu sozinha que tinha algum poder. Quando ela venceu a Capital com as amoras, Katniss mostrou aos distritos que eles também tinham poder.

Aliás, o filme aproveita a liberdade de não contar a história em primeira pessoa para mostrar uma cena que o Distrito 11 explode em revolta. Eles nunca fariam isso antes. A diferença crucial é descobrir que tem poder. E Katniss mostrou isso. E a Revolta do Vinagre mostrou isso.

Assim como em Panem, nós fomos criados aprendendo que o mundo é assim mesmo, que nós somos um juventude comodista, que a política não é a nossa prioridade. A verdade é que nós queremos mais do que tudo mudar o mundo, todos nós somos meio divergentes, só que é difícil ver isso crescendo em uma estrutura familiar que é praticamente uma ditadura ("eu que mando aqui!"). O dia 13 de junho mostrou que não é bem assim.

Independente do que pode haver por trás disso tudo, uma coisa é certa: há vontade. Vontade de colocar o pé na rua e mudar o nosso país.

Talvez a gente não acredite em política mesmo, provavelmente porque política hoje em dia é sinônimo de uma série de leis e relações feitas para enganar o povo. Aliás, não dá pra ler uma página de política sem pensar em corrupção ou no quanto daquilo ali foi editado para manipular alguém. Política virou gente roubando dinheiro. Os nossos candidatos... sinceramente, são todos iguais. Ou acabam sendo porque eles não agem sozinhos e estão sempre limitados. No Brasil há tanto roubo e uma minoria na Capital que trata o resto como selvagens ou coisa pior. (também é mostrado no livro, caso tenha ficado a dúvida)

Por acaso, fui procurar esse print e veio de brinde com um comentário falando de "panis et circensis" De onde você acha que veio o nome Panem em Jogos Vorazes? E por que você acha que são JOGOS vorazes? :) aliás, esse Rogério foi demitido.

E depois disso tudo... dessa falta de representação do governo, de uma polícia feita pra proteger gringo (não culpe a polícia! é o que os outros querem! um livro que mostra muito bem isso é Jogos Vorazes, principalmente o terceiro) e da gente se descobrindo com poder...

Ainda resta a manipulação. Como nos dois últimos livros, estamos sendo manipulados.

Pra falar a verdade, eu não acredito com certeza na mídia tradicional (Globo, Band ou seja lá o que for). Mas eu também não acredito muito no que é visto na internet por parte dos manifestantes. São vídeos ótimos, muito bem editados, em duas línguas. Aliás, eu vejo mais imagens de jornalistas e gente filmando do que da multidão em pé gritando mesmo.

Eu não sei o que é verdade. Eu não sei quem começou com isso. Eu não sei por que começaram com isso. E eu não sei qual é a solução que querem pra isso.

Que justiça é essa que estão buscando? Que reivindicações são essas? Eu também quero um país mais justo, mas mais justo como? O objetivo é tirar a Dilma do poder? Quem, exatamente, vai substituir? E, pior ainda, os governadores dos estados e prefeitos das cidades? O que a gente vai fazer com eles? Como esse novo governo vai mudar as coisas?

Eu tenho medo da Capital e quero acabar com esse bando de corrupção... mas eu acho que tenho mais medo ainda do Distrito 13.

Sabe, nesses momentos é triste. É o poder saindo de nossas mãos. Não saber o que é verdade...

Eu só sei que esse não é 1984. Sei que essa história não é de hoje. E sei que... a esperança sempre está aí.

É por isso mesmo que temos que continuar lutando, ainda mais agora que descobrimos que o poder está nas nossas mãos. Vamos lembrar sempre disso. (lembrem! não vou repetir o parágrafo final aqui, mas vale a pena ler)

Corre, Brasil, ou eles vão te pegar! (manifestantes são aplaudidos na saída do Maracanã)
E não estamos sozinhos.

Falando desse jeito, parece que Suzanne Collins escreveu um livro pensando no Brasil. Pelo contrário, ela fez isso pensando no mundo. E até Panem é uma versão futura dos Estados Unidos. Aliás, parece até de propósito entrar no cinema e ver um trailer de Em Chamas com cenas claras de ABUSO DA POLÍCIA logo após assistir um vídeo disso acontecendo de verdade aqui no Brasil.

Na verdade, essa mesma revolta tem acontecido em outros países. Não são poucos os livros, filmes e séries RECENTES envolvendo essa temática. Apesar de Jogos Vorazes ser o que mais desenvolve, dá para citar: Divergente, The Legend of Korra, O Grande Gatsby (a nova adaptação dá um foco imenso nessa parte delicada), Paramore, Arrow...

Acho que fomos além da época que a internet era magia (Harry Potter), ou entretenimento (Crepúsculo)... agora vamos usar isso de verdade.

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4 comentários

  1. Política sempre é um troço complicado, a gente tem que ficar esperto mesmo..

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  2. Muito bom seu texto. Queria apenas acrescentar que a Copa do mundo e a Olimpíada são nossos Jogos Vorazes, patrocinados por nós para entreter aqueles que estão na (ou tem) Capital e que em troca disso nos ofereceram apenas promessas (como no casa dos distritos vencedores que recebiam um pouco mais de mantimentos até os próximos Jogos Vorazes.) E por aqui (Brasil)a revolta do vinagre arrefeceu, talvez tenhamos medos do 13 ou mais provavelmente porque faltou uma liderança. (o Movimento passe livre assim como o distrito 13 nos abandonou apos conseguir reivindicação apenas para a sua causa.) Infelizmente ainda temos que esperar pela nossa Katniss.

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