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Os artistas urbanos ignorados

30.6.14Igraínne


Olá, amores da minha vida! Hoje o post vai ser ligeiramente diferente. Como vocês sabem, artista de verdade atrai artista. Por isso, nos últimos tempos, conheci alguns que me fizeram repensar o próprio termo "artista". Por que, afinal de contas, quem pode ter certeza sobre até onde vai a arte? E eu não estou falando das ditas "sete artes", mas sim de gente com talento para fazer espetáculos darem certo, enriquecerem, se tornarem best-sellers....

Infelizmente, no entanto, muitas dessas pessoas são vistas como meras vagabundas hoje em dia, regularmente questionadas sobre "você é só artista ou trabalha?". É por isso que decidi fazer esse post. Para mostrar para vocês que existe muito mais cor nessa cidade barulhenta (e em qualquer uma) do que a gente pode imaginar.

Quer saber quem são esses artistas? É só clicar aí embaixo!

1. Malabaristas
Se você mora em cidade grande, com certeza já viu um desses. Geralmente eles chegam sem você perceber, invadem seu sinal de trânsito e desafiam as leis da gravidade. Pessoalmente, sempre fico mais impressionada com o fogo (infelizmente aqui no Rio tenho visto poucos se arriscando dessa forma) do que com as bolinhas clássicas. Depois da apresentação eles agradecem, vestidos de listradinho, e passam o chapéu a procura de alguma contribuição. Eles não são vagabundos, diferentemente do que muita gente acredita. Eles são homens com palcos ambulantes. Qualquer estrada tá valendo. Apesar de muita gente passar buzinando por eles, às vezes até mesmo proferindo xingamentos, ainda dá pra ter a certeza de que eles conseguem ser mais felizes que essa toda gente estressada. Porque trabalhar com arte sempre parece sem a coisa mais incrível do mundo, pelo menos para mim.

Uma vez tentei fazer isso com laranjas e o resultado foi um ovo na minha testa.

Para quem não sabia, o malabarismo advém do circo, tem suas raízes do espetáculo em tenda. Há alguns anos, o Júnior (de Sandy e Júnior, sim, genten) esteve em uma novela representando um menino que se divertia tacando bolinhas para o alto. Se você se lembra do começo dos anos 2000, com certeza lembra dessa novela. É até ruim olhar dessa forma, porque percebemos que as novelas de hoje em dia vêm ignorando os artistas sem espaço social determinado. O músico (Larte, por exemplo, na novela da nove) só tem seu espaço quando é consagrado.

É engraçado como artista só é bem sucedido em novela, apesar dos pesares. É lindo de se ver, desde que não haja ninguém assim na família.

2. Artesãos
Mais frequentes em cidades litorâneas, os artesãos vendem todo tipo de coisa, desde brincos a bolsas e chapéus. É impressionante como eles conseguem montar objetos incríveis a partir do... nada? Confesso que já dei muito dinheiro para esse pessoal, e, por incrível que pareça, as coisas que ganhei em troca foram mais simples e mais significativas que muita produto que comprei em loja. Nas últimas semanas, por exemplo, fiz uma viagem e comprei a bolsa que tá aí embaixo. De longe, foi a aquisição mais diferente de todo o meu armário. É o tipo de bolsa que só artista faz - e só artista usa - e é por isso que teve tanto significado pra mim.

Observem minha nova bolsa esmagando meu computador.
É engraçado, porque muita gente vê o artesão em qualquer pessoa que costura, emenda, pinta e escreve por lazer, mas não possui essa atividade como a principal via de sustento. Minha tia, por exemplo, adora pintar caixinhas, garrafas, costurar, remendar, rasgar, montar... E ela é professora. É algo que me faz pensar: o artista estaria vivo, ainda que diferentes formas (ou graus) dentro de cada um de nós. É o lazer em forma de trabalho para alguns (os chamados vagabundos ou ambulantes) ou o lazer em forma de distração para outros (os ditos centrados e focados).

3. Grafiteiros
Os mais marginalizados dos 5 citados nesse post, acredito eu. Todo dia quando vou pra faculdade, passo por muros violados com assinaturas sem sentido, borrões que deixam marcas, borrões feios, de fato. No entanto, também há o outro lado, o pintor moderno que aparece para cobrir esses borrões com a agilidade de um cartunista. E o mais legal é que muitas dessas artes são mais "comunitárias" do que individuais: servem para te conquistar, seja com cores ou traço, mas também servem para fomentar uma reflexão. A imagem abaixo é um exemplo perfeito disso, um tipo de protesto silencioso que ameaça o conceito "comunidade", de "copa" e até mesmo da "Fifa". O choro do menino não é pela final.


Jamais conheci um artista assim, geralmente eles são os mais difíceis de encontrar. Eles são poderosos, fazem a cidade parecer bonita e - princialmente - pensante. A proliferação da ignorância jamais será instaurada, ainda com uma educação péssima, se o Estado permanecer decidindo pela degradação humana e social. Há uma lei da física que serviria de explicação para esse fato, uma lei bem simples, mas que nesse caso parece explicar muitas coisas: "Para toda ação, há uma reação".

4. Poetas
Frequentadores de porta de biblioteca, geralmente chegam com uma bolsa à lá tiracolo, oferecendo livretos de papel branco com símbolos bonitos na frente. Às vezes cobram, às vezes não. Uma vez tive a oportunidade de ler um desses no centro da cidade, o poeta em si era ótimo. Lembro-me que ele havia dado detalhes às páginas, com folhas e flores. Era um artista - e parecia ser do tipo completo. Infelizmente, depois de muitos anos, acabei perdendo aquela pequena porção de palavras, o que me impede, agora, de retratar e exemplificar a poesia de rua para vocês, lindos leitores.

Tão inesperada quando uma poesia grudada ao muro.

Os poetas urbanos, no entanto, não estão unicamente na frente de bibliotecas, e essa é a parte mais legal. Quem nunca entrou em um ônibus, se acomodou e ouviu um vendedor ambulante recitar uma rima genial para vender seus chocolates e balas? O nome já diz: "vende-dor ambulante" - ele vendia dores, o combustível mais genial para um poeta (é por isso que a enorme maioria sofre do mal da depressão).

Poeta que é poeta nem precisa de papel. Vê poesia até no que não seria "poesificável".

5. Músicos
Esses são viciados em esquina. Sentam-se ao meio-fio, por vezes levam uns banquinhos, e poem-se a cantar, tocar e declamar. Dos mais criativos aos clássicos, já perdi a conta de quantas vezes me vi diante de um. Os mais legais são os que não levam chapéus, mais sim a própria caixa do violão para pedir dinheiro. São nômades, viciados no passante, capazes de copiar e parodiar músicas da MPB, às vezes com vontades múltiplas de gritar para o mundo que estão ali. 


Essa foi a única foto que não tive dúvidas em escolher. É engraçado como esses músicos se vestem, usando roupas simples, que, ao mesmo tempo, os ajudam a se camuflar na cidade. O homem acima usa uma camisa com o Cristo Redentor, um símbolo da cidade do Rio de janeiro. Chega a ser irônico, o tipo de coisa que quase vira uma crítica social, semelhante ao grafiteiro que uso o muro como cartaz de protesto.

O típico exemplo de artista urbano ignorado. Muita gente se diz artista de gaveta e nunca deu uma moeda pra esse cara. Ou pro malabarista do sinal. Às vezes somos hipócritas e nem percebemos. 

E você? Conhece algum artista da cidade? Já havia pensado neles de outra forma? Conta pra gente!

"Pelo menos eu trabalho com o que eu gosto" - Um malabarista a dois homens que estavam em um carro de empresa.
Dr. Melo com a 25 de Maio, Lanús Oeste, segunda-feira, 13h25 da tarde.

- Igraínne M. 
(vulgo Igra)

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