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[Resenha] Alta Fidelidade, de Nick Hornby

20.10.13Paulo V.

por Paulo V. Santana
- Livro: Alta Fidelidade
- Livro Único
- Autor: Nick Hornby
- Editora: Companhia das Letras
- Comprar: Saraiva, Fnac, Travessa
- No Skoob











Minicrítica - Resumo:


"Rob é um sujeito perdido. Aos 35 anos, o rompimento com a namorada o leva a repensar todas as esferas da vida: relacionamento amoroso, profissão, amizades. Sua loja de discos está à beira da falência, seus únicos amigos são dois fanáticos por música que fogem de qualquer conversa adulta e, quanto ao amor, bem, Rob está no fundo do poço." (trecho da sinopse oficial)

Alta Fidelidade é um livro que eu já tenho vontade de ler há um bom tempo, mas eu sempre enrolava e acabava deixando para depois. Mas agora que a Companhia das Letras começou a lançar os livros do Nick Hornby, não pude perder a oportunidade de ler. A narração é um dos pontos principais do livro, nunca me senti tão próximo de um personagem como me senti do Rob e no fim até senti saudades. Após a leitura, é fácil compreender o motivo do Hornby ter se tornado tão famoso, super recomendo.

Quer saber mais? Clique abaixo para conferir a resenha completa!



Acredito que todos que os apaixonados por livros têm uma grande lista de livros desejados e, no meio dessa lista, provavelmente tem um autor que você tem a maior vontade de ler porque todos falam bem dele, mas isso nunca acontece. Você sabe que quando ler vai amar porque aquele livro parece ser a sua cara, mas mesmo assim ele fica ali, esperando, esperando e esperando.

Até que chega o dia em que você finalmente lê. E é nesse dia que você se dá conta de todo o tempo que você ficou enrolando e se arrepende amargamente por todos os segundos de leitura perdidos. É, foi exatamente esse o meu sentimento quando cheguei ao fim de “Alta Fidelidade”. “Por que diabos eu não li isso antes?!”, eu pensava.

A história contada brilhantemente por Nick Hornby é sobre Rob, um cara de 35 anos que está passando por um período “não muito animador”, digamos assim. Ele é dono de uma loja de discos que está quase indo à falência e não tem muitas ambições para o seu futuro, e para piorar tudo Laura, a mulher da sua vida, acabou de larga-lo.

O livro apresenta, então, como as coisas foram se desenrolando na vida de Rob após o grande evento que foi o seu término com Laura – embora ele não admita essa parte do “grande evento”, tanto que até a deixou de fora do top five dos términos mais memoráveis de sua vida. Tudo isso ao som de muita música, elemento essencial para ter uma boa vida (o que soou bem piegas, mas é verdade).

Eu amei o livro e tudo mais, mas vou contar agora uma curiosidade: eu demorei bastante para conseguir “engrenar” na leitura. Na verdade, eu só comecei a ler de verdade na segunda tentativa, pois da primeira vez eu deixei o livro de lado depois de pouquíssimas páginas. Não que o começo fosse ruim – pelo contrário, é uma das melhores partes – mas eu não tinha conseguido me conectar com o personagem. Quem narra a história é o próprio Rob, então o primeiro contato foi meio que uma surpresa, porque é uma personalidade diferente do que estou habituado.

A questão da personalidade do Rob, aliás, é um fator surpreendente. Isso porque eu costumo implicar muito com uma história contada em primeira pessoa se eu não gosto do personagem ou discordo de alguma opinião dele. É tipo uma birra mesmo, “ah, personagem X falou coisa Y, agora não vou gostar de mais nada que ele fala”. Porém, depois que conheci o Rob adequadamente, criei um vínculo com ele. Em vários momentos ele diz coisas que eu não concordo, como comentários um tanto machistas ao falar de ex-namoradas. Posso ir contra a atitude, mas esses são detalhes que constroem o personagem e são relevantes para o todo.

É importante ressaltar que "Alta Fidelidade" é um livro de formação. O Rob que você vê no começo da história não é o mesmo Rob que você vê no fim. O livro é exatamente sobre isso, sobre o amadurecimento, sobre mudanças que acontecem com o personagem. Então, naturalmente, são apresentadas ao longo da história algumas atitudes e pensamentos não muito legais que acabam sendo mudados. Não vou falar muito para não revelar mais do romance, mas a visão de posse que Rob tem sobre a Laura, um dos problemas no relacionamento deles, é um bom exemplo de algo que me incomodou e acabou sendo desconstruído.

Conhecendo o Rob tão intimamente, podemos acha-lo uma pessoa não tão fácil de conviver - e talvez não seja mesmo -, mas no decorrer da história eu me acostumei com isso, compreendi e passei até a apreciar a personalidade dele. A narração do livro é ótima, nunca me senti tão próximo nem tanta saudade de um personagem como aconteceu com o Rob.

"Eu ouvia música pop porque eu era infeliz... ou era infeliz
porque eu ouvia música pop?" [cena do filme baseado no livro]

Anteriormente, eu mencionei que o Rob tem 35 anos (uma idade bem distante da minha, já que eu tenho 16) e isso, mais o fato de que o livro foi publicado em 1995 (e, portanto, dois anos de eu nascer), poderiam ser obstáculos na leitura, só que não foi bem assim. É claro que a vida adulta nos anos 90 é uma realidade bem diferente da que eu vivo, mas as questões do Rob não estão tão distantes das questões de qualquer outra pessoa em qualquer outra época. As complicações de Rob são comuns; problemas de relacionamento e questões de trabalho e futuro, por exemplo, acontecem para todos, em diferentes idades e em maior ou menor grau. Isso independe da década, o que muda é o contexto em que essas questões surgem.

Quem já leu outras resenhas ou comentários do livro por aí, deve saber que a música é um elemento importante. A vida de Rob foi construída acompanhada de uma extensa trilha sonora e uma vasta coleção de discos. O apreço do personagem pela música é tão grande que ele acaba abrindo uma loja de discos, onde passa seus dias com dois caras de personalidade completamente diferentes mas tão apaixonados por música quanto ele, Barry e Dick. Por isso, o livro é recheado de referências à cultura musical da época e de listas com as cinco melhores músicas/discos/artista/etc. O fator diferença de épocas acabou pesando nessa hora e pude aproveitar pouco – quase nada, para dizer a verdade – da presença das músicas na história. Poucos foram os artistas mencionados que eu conheço e estou habituado a ouvir. Acredito que possa ter perdido parte da experiência da leitura por conta desse desconhecimento, mas já planejo reler o livro acompanhado de uma playlist com todas as músicas citadas. Afinal, um livro como “Alta Fidelidade” merece ser relido muitas vezes.

Lá no início eu falei sobre o arrependimento de não ter lido o livro antes. Bom, enquanto eu escrevia essa resenha, cheguei a uma conclusão – talvez não tenha sido tão ruim ter lido o livro agora. Talvez se eu tivesse lido antes não tivesse no momento adequado para ele e não teria absorvido o mesmo que agora. Quem sabe eu nem estaria aqui para dizer o quanto o Nick Hornby é bom na escrita e que todos deveriam ler “Alta Fidelidade”, porque é um dos meus livros favoritos da vida e possivelmente pode ser o seu também. Essa leitura pode não acontecer agora nem no mês que vem ou no outro, mas não deixe de ler. Se eu não tivesse tirado o Hornby da lista de espera, eu nunca teria tido a ótima experiência de ler seu primeiro romance. E, nossa, que desperdício seria.


Classificação:
 (5/5 conversinhas)

Esse livro foi um oferecimento da nossa parceira, a editora Companhia das Letras. Obrigado!

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