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Quando filme da Mulher Maravilha era um sonho distante

31.5.17Dana Martins


Em 2014 teve o especial de Super-Heroínas aqui no site, que começou com uma pergunta: O mundo está preparado para a Mulher Maravilha? Isso era uma dúvida real na época, algo que parecia sério, e agora que o filme da Mulher Maravilha finalmente está aqui, eu decidi refletir sobre o que mudou nos últimos 3 anos.
A primeira coisa é que, por acasos da vida, durante o mês que a gente começou o especial Super Girl Power, foi anunciado quase que ao mesmo tempo que iam fazer um filme da Mulher Maravilha (DC) e um filme da Capitã Marvel (Marvel). Então a gente teve a experiência de escrever antes de saber vs. depois de saber.

Quando o mês começou, a gente tava refletindo: gente, será que um dia nós vamos ver uma adaptação de super-herói protagonizada por uma mulher no cinema?

Em 2014 essa parecia uma dúvida real, porque não existia nada de bom e nenhuma perspectiva do futuro. As super-heroínas eram só aquela mulher no fundo, que vira namorada ou faz algum comentário pra mostrar que é Inteligente™. Nossa visão de super-heroína no mundo era Viúva Negra, que em tempos que até Homem-Formiga ganha filme, não conseguiu nem um episódio especial em Black Mirror.

Mulher em mundo de super-herói era só aquela ali fazendo acrobacia no fundo pra eles apontarem e dizerem "é claro que nos importamos com mulheres!!!" 



Acho que a Viúva Negra vai ser o eterno símbolo das barreiras que as mulheres sofrem em um espaço dominado por homens. Talvez seja até essa a minha motivação de escrever esse texto - não esquecer essa época em 2014, onde um filme de super-heroínas protagonizado por mulher não era nada se não um sonho muito distante e improvável, algo que a gente não sabia de verdade se seria possível. 

Uma época que está enterrada definitivamente há três anos, porque mesmo se tudo der errado, agora nós vamos poder olhar pra trás e apontar pra Jessica Jones, pra Supergirl, pra Mulher Maravilha - o que a gente não tinha. Mas ao mesmo tempo, nós não sabemos até quando isso vai durar. 

O medo continua ali, embaixo da superfície.

Se o filme for mal, o que acontece? Será que a gente vai ter outros? Se toda essa fase de filmes de super-heróis chegar ao fim dando espaço a seja lá o que vier depois, nossas super-heroínas desaparecerão e ficaremos à mercê de um ou outro filme do Batman e do Homem-Aranha ocasional?

Mas enfim, já lá em 2014 descobrimos que a sorte estava ao nosso favor e tanto a Marvel quanto a DC decidiram depois de uns 30 filmes só nessa fase, fazer um (cada) com mulher branca protagonista.

Durante o mês do Super Girl Power eu também comecei a questionar de onde diabos vinha a dúvida de "Será que o mundo está preparado para a Mulher Maravilha?" - COMO ASSIM O MUNDO NÃO TÁ PREPARADO? Como alguém se precisa se preparar pra adorar uma super-heroína incrível? 

Acho que a dúvida vem do fato de que a gente aprende como algo normal a centralizar nossas preocupações no que homem machista acha. A depender da permissão deles pra existir. A pergunta verdadeira não era "se o mundo está" e sim "os homens machistas vão deixar isso acontecer?" 

Estamos em 2017 e a resposta é: eles ainda estão chorando.

Mas eu também (e acho que não só eu) aprendi que isso pouco importa. É um absurdo que a gente ache improvável uma mulher sendo foda num filme de super-heróis. 

Acho que é porque, desde então, nós tivemos algumas mulheres (brancas) interessantes em filmes de gêneros normalmente centrados em homens:

A Esperança



Mad Max: Fury Road



Star Wars: O Despertar da Força



Ghostbusters



Rogue One



Esquadrão Suicida: Harley Quinn


(não consegui lembrar de mais ninguém, a não ser uns 2 filmes aí da Scarlett Johansson)
(coloquei a Katniss no início porque coloco minha mão no fogo se ela não motivou o povo a dar mais atenção a mulheres em história de ação)

A gente também teve as séries da Jessica Jones e Supergirl, assim como Agente Carter. 

Então a gente já tem todo um histórico de mulheres brancas ganhando espaço nas histórias de ação nos últimos 3 anos e preparando o terreno para a chegada de mais uma delas: a Mulher Maravilha.

Também vale notar que em paralelo, as adaptações de contos de fadas/princesas recentes tem buscado mostrar as mulheres como mais guerreiras, desde lá Alice no País das Maravilhas (esse recente), Branca de Neve e o Caçador, Once Upon A Time, Valente e Frozen e Moana (não só a única que não é branca de toda essa lista, mas onde os filmes de princesa da Disney finalmente se definem como os de aventura/ação que a gente via personagens como Hércules protagonizar). Só agora que A Bela e a Fera quebra essa tendência e parece que querem fazer A Pequena Sereia, que pode indicar uma outra guinada de volta às princesas recatas do lar. Veremos.

De qualquer modo, o ponto é que desde 2014 a gente começou a ter mais dessas experiências com grande franquias que eram dominadas por homens tendo mulheres como protagonista. É algo que a gente não tinha naquela época e nem sabia se era possível. Mad Max enfrentou homem chorão sem fim. Ghostbusters teve até boicote. Star Wars fez uma linha de brinquedos e marketing voltado pra o vilão Kylo Ren. Tanto Rogue One quanto Esquadrão Suicida são filmes de grupo (com maioria homem), então não dá pra analisar da mesma forma. Mulher Maravilha nem lançou, mas já tem homem chorando porque um cineminha fez uma sessão temática só com mulheres PRA O FILME DE UMA SUPER-HEROÍNA QUE VEM DE UMA ILHA SÓ COM MULHERES. Só que apesar de todas as barreiras, essas heroínas continuam prevalecendo. (Bem, vamos ver a Mulher Maravilha)

O ponto é que, seja lá como for, o conceito de mulheres protagonistas [cis, brancas e hétero] fodas em um espaço dominado por homem já está muito mais comum do que em 2014.

Acho que também, no geral, a qualidade da representatividade da mulher nessas histórias melhorou um pouco. As namoradas não são só namoradas. Você tem personagens como a Valquíria em Thor, tem a Gamora + Nebula em Guardiões da Galáxia e até mesmo a Jennifer Lawrence azul ganhou espaço em uma narrativa dominada pelo Xavier/Magneto/Wolverine. Aliás, tivemos a história de Logan, onde a Laura Kinney está ali como uma nova Wolverine (APESAR DE QUE A PORRA DA FOX QUER JÁ ARRANJAR OUTRO HOMEM PRA SER O WOLVERINE ADULTO TOMAR NO CU). No geral, são passinhos de nada, mas já entenderam que a mulher sentada chorando e esperando o herói vir salvar não vai ser aceita.

Agora é 2017 e eu ainda não sei o que esperar do futuro. Os desafios são outros. Perceber que "mulher" não é sinônimo de "mulher branca" (ou hétero). É também ver que, se a gente conquistou o básico que é poder existir (conquistou mesmo? só vou acreditar quando: 1- se continuarem fazendo filme com mulher nos próximos 10 anos e 2- tiver mais que 1 filme de mulher branca em cada estúdio, o que eles estão fazendo é só expandir o princípio de Smurfette porque na real são grupos de super-heróis com 1 mulher e em vez de um filme só pra todo mundo, estão fazendo um pra cada - o que talvez seja uma resposta do cinema pra nossa vida de viciado em série, mas essa já é outra conversa). E por último: a qualidade dessa representação. 

Um exemplo mesmo é Supergirl, que na segunda temporada já enfiaram um homem tomando espaço e acabaram com histórias pessoais dela e de outras mulheres pra poder focar nele (e o número de pessoas por trás do projeto virou de maioria homem). Agente Carter sofreu um caso sério de escritores ruins. 

Ou seja, se quando nunca fazem, fizerem histórias de super-heroínas, mas centrando no homem e escrita por homem ou gente que não sabe desconstruir o machismo, só vai ferrar com tudo. 

Mas isso é só preocupação e vamos ver o que a Mulher Maravilha nos traz.

Por favor, Mulher Maravilha, nos salve.



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