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Por que mulheres são uma minoria?

2.2.15ConversaCult


Sempre que eu falava de minorias eu achava estranho incluir mulheres. Elas não são minoria no mundo. As estatísticas mostram que o número de mulheres e o homens no mundo é curiosamente igual. Não exatamente o mesmo, mas próximo. Em países como Estados Unidos e Brasil (que mais influenciam na nossa cultura), as mulheres são maioria. Então como diabos eu posso incluir mulheres na categoria de "minorias"?

Levou um tempo, mas comecei a encontrar uma explicação. 

Quando falamos de um "grupo" ser minoria, não estamos falando em relação a quantidade. Eu ia falar da época da colonização no Brasil, mas quando fui confirmar dados encontrei: "Estudo diz que Brasil tem cerca de 97 milhões de pessoas se declararam negras (pretas ou pardas), contra 91 milhões de brancos. Isso significa que no Brasil há mais negras (ou pardas)." (fonte 2) Agora ligue a televisão. Me diz se essa é a representação que você vê. Negros não são uma minoria em números, mas ainda assim são uma minoria.

Dois pôsters do "Se o mundo fosse uma aldeia de 100 pessoas" (The World of 100), de Toby NG, que usa estatísticas sobre a população mundial adaptadas a um universo de 100 pessoas.

 
Cor de pele: 30 branco vs. 70 não-branco (e ainda assim são chamados de "não-branco")


Mas por que é minoria? Porque estamos falando de poder. Estamos falando de representatividade. Estamos falando de direitos.

Quando um grupo é uma minoria, significa que ele tem uma minoria de voz.

Quando você pega os 50 filmes mais lucrativos da história e nem 20% deles são protagonizados por mulheres, mesmo que exista tantas mulheres quanto homens no mundo, elas são uma minoria nesse meio. Quando desses 50 só um é protagonizado por um negro. Mesmo que exista uma grande quantidade de negros, eles são uma minoria.

Isso começa a piorar porque não se limita só a filmes. Esse é um problema presente em todos os cargos de poder. Mesmo que existam mais pessoas "não-brancas", mesmo que exista mais mulheres, a maioria esmagadora de quem decide como as coisas vão ser são homens brancos.

Isso não pode dar certo.



Até hoje eu to assustada (e por isso adoro usar esse exemplo) com as calcinhas "cor de pele" para as pessoas negras. Elas não existem. Não existem porque o poder de decisão é tão concentrado na mão das pessoas brancas, que elas nunca tiveram o problema de vestir uma calcinha cor de pele e perceber que aquela cor não serve. Talvez alguma mulher tenha até percebido, mas, novamente, talvez seja um homem que tem o poder de fazer e ele não teve nenhum problema vestindo calcinhas.

O mesmo serve para maquiagem e outras coisas, indico ler o livro Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie, porque mostra algumas coisas assim.

E eu estou falando de cor de calcinha! Quão problemático isso não é em uma escala maior?

Enfim, mulheres, negros, pessoas LGBT+, pessoas com necessidades especiais e qualquer um que não seja do considerado normal-padrão, podem até ter o dobro de pessoas em quantidade no mundo, mas continua sendo um grupo minoritário porque não tem o mesmo poder, privilégios e status sociais.  

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Referências e mais sobre o assunto

"#NósPrecisamosdeLivrosMaisDiversos porque minha filha tinha 3 anos quando disse pela primeira
vez que odeia ter olhos e cabelos castanhos."
(e porque o pai dela, homem, precisa dizer isso para ter mais valor)

A noção de "grupo minoritário" sem ser em relação à quantidade vem da sociologia e, só pra variar, há muito pouco conteúdo sobre isso em português. O Google não mostra nem uma definição boa. Mas aqui a página no Wikipédia sobre minorias

Essa página sobre Minority group é muito boa. (traduza!!! precisamos de conteúdo assim em português)


A autora desse texto é a Dana, especialista em falar coisas idiotas, traficante de cultura pop e o avatar. Deal with it. Me recuso a usar 3ª pessoa, então: Você pode ver todos os textos que eu escrevi aqui na tag Dana Martins e também estou no twitter @danagrint, vem conversar comigo. :)


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2 comentários

  1. Essa semana assisti um vídeo em que uma pessoa publica falava sobre sua bissexualidade, imaginei que se tratando de uma pessoa pública e por ser bissexual ela saberia o significado do termo minoria, SQN. Ela me envergonhou quando disse que gostaria de saber que minoria era essa e que precisava saber quem fez a conta porque mulheres, negros e a comunidade LGBT não eram minorias, obviamente a ideia de que minoria está relacionada a quantidade era muito forte. Se uma mulher bissexual não sabe o que significa ser minoria é sinal de que precisamos repensar no que estamos aprendendo nas escolas, porque há algo errado.
    Gostei muito do seu texto e principalmente dos exemplos aqui expostos. Parabéns.

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  2. adorei, me salvou no meu trabalho p facul!

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